The boy and the demon

Confronto

- E então? O que pretendes fazer? - Jean questionou baixinho colocando uma caneca de chá sobre a mesa logo a frente de seu mestre.

Estavam na casa de Armin e tiraram aquele momento para conversar a sós já que o loiro mais novo havia acabado de dormir com os olhos inchados e rosto molhado após chorar copiosamente ao separar para doações alguns dos pertences do avô falecido:

- Eu quem deveria perguntar isso a ti. Tu pretendia ficar aqui com Armin por conta do avô dele, mas se o homem morreu já não há mais motivos - Erwin pronunciou bebericando o chá enquanto observava seu aprendiz cobrir cuidadosamente o amado adormecido.

- Eren deseja morrer aqui. Armin não vai deixa-lo e eu não deixarei Armin - respondeu simples.

- Estamos falando do mesmo Armin? Pois o Armin que eu ouvi gritar e insultar Eren, amaldiçoando-o e culpando por tê-lo feito sair numa viagem sem sentido não me parecia muito disposto a ficar aqui.

- Tu... Ouviste aquilo? - questionou surpreso encarando o Smith que encolheu-se envergonhado. Estava indo ver como o aprendiz e seu amado estavam quando ouviu gritos e, ao correr para saber do que se tratava, acabou por escutar os insultos de Armin permanecendo ao lado da porta até um bom tempo depois do silêncio se instaurar por não saber ao certo o que dizer quando entrasse.

- Não foi intencional. -justificou-se- Mas... Me surpreendo que ele tenha esse tipo de sentimento rancoroso por alguém que chama de amigo...

- Ele não pensa aquilo de verdade... Aquele Armin não é o mesmo que conheci e aprendi a amar nos últimos meses... Está sofrendo e diz coisas em que não acredita realmente - Explicou defendendo o loirinho o que fez o mais velho sorrir simples.

- Sim, eu sei. -abanou a cabeça apoiando o queixo na mão sem deixar de observar os feitos do aprendiz que permanecia aconchegando o garoto adormecido- Quando perdemos alguém amado apenas queremos encontrar algo ou alguém para culpar e muitas vezes nos arrependemos no minuto seguinte... Mas se o coração dele possui tanto rancor assim talvez não seja a melhor ideia ficarem aqui. Ele pode acabar magoando Eren e vai arrepender-se muito disso...

- Ele não faria isso, além de que... Ele com certeza se arrependeria muito mais de não estar aqui nos últimos dias do melhor amigo.

- Bom, tu o conheces melhor do que eu então deixo essa decisão em tuas mãos... Quanto a mim... -olhou pela janela notando Marco voando ao redor de duas pessoas que não conseguia distinguir por estarem um pouco distantes- Eu realmente gostei daqui.

- É um lugar calmo, não é? -Jean sorriu- Uma pequena vila nas margens da floresta, com bom acesso ao lago e protegida dos ventos fortes pelas montanhas que a rodeiam... É como um pequeno paraíso.

- Em contrapartida a terra longe das arvores não é muito boa para a agricultura por conta das pedras e os animais da floresta atacam as plantações e criações. A única fonte de renda dessas pessoas é o comércio de artesanato, produtos derivados da caça, do algodão que plantam, da lã das ovelhas e o campo de trigo perto da passagem que liga essa vila com a estrada e pelo que vi a colheita não será nada boa esse ano... É uma vida difícil...

- Uma vida difícil tu dizes... -meditou o aprendiz- De certa forma sim, mas sabes o que vejo? Uma oportunidade. -a sobrancelha do loiro arqueou e então Jean sorriu- não há muita influência da coroa aqui, ouvi inclusive que só aparecem um ou dois guardas para cobrar impostos ocasionalmente e há apenas uma pequena capela com um padre solitário e um orfanato regido por umas poucas freiras próximos ao limite do campo de trigo. Uma vila esquecida por todos é o lugar perfeito para recomeçar tuas pesquisas... O senhor Jaeger também vive aqui e sei que vai concordar em voltar a trabalhar contigo se pedires, além disso, podes finalmente casar-se com a senhorita Zoe, construir tua familia e viver pacificamente com ela como sempre desejou.