Covarde

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"Quanto tempo se passou sem que eu notasse?" O hibrido se perguntava olhando pela janela.

O Sol nascia no horizonte iluminando o orvalho congelado sobre as plantas que secaram com o inverno. Havia caído granizo mais cedo; uma chuva intensa e contínua que lhe tirou a coragem de passar aquele período em busca de pessoas para curar e então, pela primeira vez em muito tempo, pode passar a noite abraçado ao marido e enchendo-o de beijos como faziam antigamente.

Voltando seu olhar para dentro da cabana, Levi se pôs a observar Eren. Sua pele começava a exibir manchas roxas e vermelhas que mesmo após curadas acabavam por voltar a aparecer e, segundo as explicações que o mesmo dera, aquilo era o último sinal de que seu corpo estava a ceder.

"Tudo se trata de fraqueza." Relembrou as palavras do marido com um aperto no peito. "A doença enfraquece o corpo por inteiro começando pelos músculos e nervos; isso por si só não é capaz de matar alguém, mas quando as veias começam a se romper tudo fica diferente... Levi, quando chegar nesse estágio eu vou sangrar lentamente por dentro até morrer..."

"Sangrar por dentro até morrer... Bem, como se trata de um ferimento físico eu posso continuar curando-o sempre que algo romper para mantê-lo vivo por algum tempo, mas sem extirpar a doença que causa o sangramento isso será o mesmo que tentar esvaziar um lago com uma colher..." Mordeu o lábio contendo as lagrimas que lhe vinham aos olhos sempre que pensava no estado do moreno. Ele havia piorado muito nos últimos meses, tanto que muitos acreditavam que não sobreviveria a aquela estação que, por norma, costumava levar morte muitos idosos e doentes. Eram definitivamente tempos sombrios, ainda mais agora que a vila toda enfrentava um problema da falta de alimentos.

Não era raro encontrar o rapaz chorando pelos cantos da casa e até mesmo o próprio meio demônio o fizera várias vezes quando pensava estar só e longe de olhares, embora por vezes Gabi tenha presenciado alguns de seus momentos; em meio a tudo isso Grisha também passou a gastar muito do seu tempo fora de casa ajudando com a distribuição de alimentos, partindo cada vez mais cedo e voltando cada vez mais tarde; estava evitando ficar em casa com certeza e quando ficava comportava-se de forma estranha, algo compreensível devido a situação em que estavam, mas o hibrido não podia deixar de irritar-se por ver como seu marido estava sofrendo com aquela distância de seu único parente de sangue.

"Isso tudo está magoando muito o meu menino... Queria eu que nunca tivéssemos encontrado Grisha naquela ilha para que ele não passasse por isso..." Pensou logo recriminando-se por ser egoísta daquele jeito.

Enquanto estava imerso em sua auto recriminação, uma movimentação nas cobertas da imensa cama de palha chamou sua atenção anunciando que alguém havia despertado. Gabi foi a primeira a se levantar assim que a luz da janela aberta tocou suas pálpebras e em seguida foi a vez do Jaeger mais velho que, após trocar-se, tirou a chaleira das mãos da menina dizendo para que se sentasse, começando em seguida a preparar o café da manhã para sua família se virando com o pouco que ainda tinham, um estoque que se restringia a um pão velho, carnes secas e algumas ervas:

- Levi, acho que terei de viajar - disse ascendendo o fogo e então o meio demônio o encarou com o olhar vago e triste.

- O estado do Eren está ruim e piorando. Vais mesmo partir sabendo que, quando voltar, pode não encontra-lo vivo?

- Não tenho escolha. Me reuni com os outros homens tem uma semana... A seca afetou muito a colheita esse ano, os estoques de comida estão ruins por todo o vilarejo e não conseguimos caçar o suficiente pois os animais estão hibernando. Vou até as vilas vizinhas com um grupo para trocar remédios e agasalhos por comida. Não devo demorar mais do que alguns dias.

The boy and the demonOnde histórias criam vida. Descubra agora