Despedaçar (parte 2)

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- Vite. Apportez de l'eau! - a voz de um dos empregados alcançou os ouvidos de Erwin deixando-o intrigado. Seria um acidente na cozinha? Ou alguma vela havia caído de algum candelabro e incendiado alguma tapeçaria?

Havia saído para o jardim em busca de ar fresco para aliviar aquela sensação ruim que a discussão com Eren havia deixado em seu peito quando notou uma movimentação suspeita dos guardas que pareciam correr todos para o lado oposto do castelo. Perguntava-se o que poderia ter acontecido para haver tanto estardalhaço e agora, ouvindo aquele pedido desesperado por água, pensava ter finalmente entendido. Cogitava inclusive ir verificar pessoalmente para saber se poderia ajudar em algo quando um dos guardas aproximou-se para questionar se não havia visto a jovem lady e suas damas em algum lugar.

"Então é porque elas fugiram? E o que a água tem ver com isso?" Pensou enquanto dizia ao guarda que não as tinha visto, mas que tinha ouvido alguns sons suspeitos vindos do corredor dos quartos de hóspedes enquanto caminhava.

O homem de armadura então pediu-lhe que o acompanhasse para indicar com mais precisão de onde os sons vinham, mas quando estava prestes a adentrar o corredor, tiveram seus passos parados por uma das servas do castelo com os cabelos desgrenhados e olhar assustado:

- Que se passe t-il ici? - o alquimista questionou preocupado ao ver tantas pessoas correndo com baldes de água. A final havia realmente um incêndio ali?

- Monsieur Smith, s'il vous plaît... Il est préférable d'attendre à l'extérieur du château jusqu'à ce que l'incendie soit maîtrisé.

- Feu? A où? - o guarda exaltou-se.

- Dans une des chambres. Il semble qu'une lampe soit tombée sur des papiers et, avant que nous ne le sachions, les flammes se sont propagées.

"Lamparina? Papéis? Poderia ser...?" os Olhos de Erwin se arregalaram em pânico com a possibilidade que lhe veio a mente "É o meu quarto? A Gabi está lá!'

O avançar de passos foi automático. O medo se espalhando em cada célula de seu corpo com a simples ideia de que Gabi estivesse entre as chamas ainda inconsciente pelo sonífero que tinha administrado a ela.

Ela poderia morrer. Uma criança poderia morrer por causa de algo que ele tinha feito e de repente as palavras de Eren passaram a fazer total sentido em sua cabeça. O peso de ser responsável pelo fim de uma vida humana inocente era demais para se carregar, mesmo que outras pessoas fossem salvas com isso. Ele não seria capaz de o fazer:

- Monsieur Smith, calmez-vous! - a mulher tentou o impedir de avançar segurando-o pelas vestes, mas Erwin apenas a empurrou avançando corredor a dentro em busca da garota enquanto rezava para estar enganado sobre o foco daquele incêndio, porém ao visualizar um aglomerado de pessoas com baldes em frente ao seu quarto, sentiu o coração errar uma batida e a culpa o corroer por inteiro.

- Gabi... - murmurou com lágrimas nos olhos. A imagem de sua esposa e filha definhando até a morte invadindo sua mente enquanto aquela vozinha interior ecoava repetindo de novo e de novo que ele tinha falhado e que, mais uma vez, perderia uma pessoa querida por sua própria incompetência. Sequer se questionou o motivo da porta estar aberta quando claramente havia trancado a mesma, ou como a lamparina havia tombado quando tinha certeza de ter fechado a janela. Naquele momento, ele era o culpado único e exclusivo daquela tragédia.

Nem se deu conta de como ou quando se moveu, mas entrou no cômodo cercado de chamas alaranjadas cobrindo o rosto com a manga da camisa para não respirar a fumaça.

Sua pele queimava, mas ele ignorava a dor para fazer o que era certo. Seus olhos correram por toda a área em busca da garota para a tirar de lá nem que isso custasse sua vida, mas ao pousar o olhar na cama vazia e desarrumada sentiu-se ser envolto pelo alívio.

The boy and the demonOnde histórias criam vida. Descubra agora