O alquimista de Tréveris (parte 2)

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- Prontinho, amigo. Pode se divertir - Jean brincou dando um leve tapa no lombo do cavalo que acabara de soltar para que seguisse até o campo aberto de onde um falcão peregrino voou tranquilamente até pousar em seu ombro:

- Desculpa, Marco, não consegui comprar aquela carne de que gosta nem buscar tua nova correia, mas amanhã prometo que trago - brincou com as penas do animal antes de vê-lo voar para longe novamente.

Enxugando um pouco do suor da testa, o rapaz de aproximadamente dezesseis anos encarou por um momento a carroça na qual Eren e Armin se locomoveram até o encontrarem. Estava dentro do estábulo, protegida de uma chuva eventual, completamente desinteressante e medíocre como qualquer outra, mas por algum motivo desconhecido ela lhe chamava a atenção.

Tentava convencer-se de que era algo de sua cabeça, que não havia nada de suspeito na mesma, mas podia jurar ter visto um movimento incomum na manta em seu interior quando guardou o veiculo de forma um tanto brusca e mais que isso, o rosnado que escutara mais cedo ainda estava em sua cabeça.

"É apenas uma paranoia estupida, certo? Eu apenas estou imaginando coisas... Mas... Por outro lado aquele Eren chegou a me ameaçar para que não bisbilhotasse o que carregam nela e... Só uma espiadinha não faria mal, certo?"

Respirando fundo, o rapaz se aproximou cautelosamente do objeto em questão; seus dedos coçavam para que retirasse aquela manta, mas por algum motivo sentia que lhe faltava coragem.

Enquanto isso, por baixo do tecido, Levi aguardava pacientemente o momento em que escutaria os passos de, seja lá quem fosse lá fora, distanciarem-se. Queria sair e visualizar o local onde estava, mas não poderia faze-lo correndo o risco de ser visto e causar algum alarde.

Mordendo o lábio em ansiedade, tentava conter a respiração e a própria curiosidade. O silencio perdurou por longos minutos e por um momento pensou que a pessoa tivesse partido sem que ele notasse, estava prestes a erguer a cabeça para fora da manta e verificar quando a mesma foi puxada de uma vez com certa brutalidade ao ponto de enroscar-se em um de seus chifres e rasgar:

- Urgh! - resmungou pelo desconforto, aqueles chifres eram uma parte de seu crânio afinal.

Um rosnado descontente escapou de sua garganta ao mesmo tempo em que os olhos cinzentos e irritados focaram-se no rapaz alto com o tecido em mãos, pálido, imóvel e visivelmente assustado.

Aquilo era um problema, um grande problema com a cara semelhante a de um cavalo:

- Merda...

***

Dentro da casa os dois garotos se encontravam em meio a uma conversa calma onde o alquimista se mostrou, além de muito inteligente, curioso e educado, bastante centrado e resiliente quanto aos seus objetivos. Os dois mais novos estavam fascinados por aquele homem, embora Eren se mantivesse um tanto reticente sobre a eficiência dos "medicamentos" produzidos por ele e que pareciam mais misturas aleatórias de coisas estranhas e nojentas do que qualquer outra coisa.

Mantiveram a conversa amigável por um bom tempo até que um grito esganiçado e apavorado alcançou seus ouvidos a ponto de derrubarem as xicaras em que tomavam chá pelo susto e preocupação subsequentes:

- Isso foi o meu aprendiz? - Erwin alarmou-se, levantando imediatamente da cadeira onde estava sentado.

- Merda, eu sabia que era má ideia... Ele olhou a carroça, não foi? - Eren mordeu o lábio apertando a barra de sua camisa entre as mãos.

- Com certeza olhou - Armin concordou, levantando-se e correndo para fora. O moreno ainda tentou acompanha-lo, mas acabou tropeçando e caindo no caminho tendo certa dificuldade para levantar depois disso.

The boy and the demonOnde histórias criam vida. Descubra agora