Destino

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Uma imensidão escura e vazia se estendia até onde seus olhos podiam ver, não havia luz ou sons, nem mesmo seus tímidos passos emitiam ruído algum.

Ele tentou falar algo, chamar por alguém, mas apenas ouviu a si mesmo em um eco infinito e apavorante por não conseguir ver nada a sua frente.

Onde estava? Como sairia dali? Aquilo era um sonho?

Sua respiração ficou ofegante enquanto beliscava a si mesmo sentindo dor, diferente do que esperava. Não era um sonho então? Mas podia jurar que estava deitado em uma barraca com seu marido momentos atrás...

- Está acabando... - uma voz feminina soou sussurrada vindo de lugar nenhum e, ao mesmo tempo, de todo lugar:

- Quem está aí? - ele questionou olhando para os lados, dando voltas ao redor de si mesmo em busca de algo sem encontrar nada.

- Está acabando... - a voz repetiu mais alto fazendo com que mordesse o lábio, sentia uma inquietação crescente em seu peito e por algum motivo buscou a aliança de madeira em seu anelar para tentar se acalmar:

- O-o que está acabando? - se forçou a perguntar mesmo que com a voz falha.

- O tempo.

Medo. Um arrepio percorreu sua espinha.

Ele estava paralisado. Aquilo não tinha sido como antes... Aquela voz vinha de trás dele, como se a pessoa que falava tivesse se inclinado para lhe segregar aquelas palavras. Podia jurar ter sentindo lábios frios roçarem sua pele a cada sílaba pronunciada e quando virou-se em busca da pessoa que imaginava estar ali não encontrou nada.

Um suspiro frustrado deixou seus lábios, mas logo uma incomum luminosidade vinda do alto chamou sua atenção. Era fraca, quase opaca, e quando ergueu os olhos não conseguiu se impedir de cambalear para trás.

Flutuando diante de si de forma fantasmagórica havia uma imensa balança de metal negro ornamentado cujo a haste era composta por uma ampulheta decorada com a figura de um crânio negro na parte superior e uma mandíbula na base, tudo somado aos detalhes de metal retorcido que se assemelhavam a videiras espinhosas lhe davam um ar um tanto macabro, principalmente devido a areia escarlate que escorria tão fluida que quase parecia liquida, como sangue fresco jorrando de uma ferida.

Horripilante.

Tão horripilante que se tornava, de certa forma, morbidamente bela. O que era aquilo? como não havia visto algo tão imenso antes?

Aproximando-se para olhar melhor pode constatar que a balança estava um pouco desequilibrada. Um dos pratos, o que continha uma pena branca e luminosa, estava um tanto mais alto e quando dirigiu seu olhar para o prato mais baixo sentiu a bile subir por sua garganta com o que estava ali. Um coração, pulsante e ensanguentado.

Tentou conter, mas acabou por vomitar. O cheiro metálico impregnava suas narinas e o som da areia caindo zunia em seus ouvidos cada vez mais alto. A areia estava acabando, faltava bem menos da metade. Era disso que aquela voz falava?

- Cumpra sua missão...

- Que missão? - questionou exasperado olhando para cima e para os lados. A voz parecia ter vindo do alto agora, mas novamente, não via nada.

- Os destinos estão traçados, mas não são imutáveis... Não devia ser dessa forma... Mas destinos são sempre tão frágeis...

- O que não devia ser dessa forma? Como assim os destinos são frágeis?

- Existem inúmeros caminhos, apenas um leva ao que deseja... A balança precisa ser equilibrada... Cumpra sua missão e ambos serão salvos... - A voz se distanciava conforme sentia o corpo ficar mais leve, iria acordar? Mas ainda não tinha entendido nada:

The boy and the demonOnde histórias criam vida. Descubra agora