Segredos (parte 3)

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O Sol iluminava os cômodos do castelo pelas imensas janelas abertas, o canto dos pássaros ecoava e a melodia de um piano soava numa harmonia de notas alegres e suaves.

Eren se via caminhando calmamente pelos corredores apreciando aquele misto de sons tão agradável quando ouviu passos seguidos de risos femininos aproximarem-se de si por atrás.

Virou-se em busca da origem daqueles sons, mas não viu nada então voltou a seguir seu caminho, mas logo os passos e risos voltaram. 

Duas meninas surgiram no fim do corredor, uma loira de pele leitosa e outra morena e bronzeada. Elas seguiam correndo de mãos dadas com seus vestidos claros esvoaçando a cada passo enquanto a loira girava ao redor da amiga como se dançasse, puxando-a para que a seguisse até um dos cômodos laterais, mas a morena ficou parada, separando seus dedos dos da garota pálida a muito custo para, por fim, encarar o jovem que estava praticamente hipnotizado a observa-la. Ela sorriu acenando a ele que retribuiu o gesto rindo sem entender bem o motivo e então todo o cenário começou a se deteriorar.

O Sol já não brilhava caloroso, o corredor estava cinzento e a música se distorcida em seus ouvidos. Os pássaros param de cantar assustados e o bater de asas em debandada pode ser ouvido antes de uma imensa quantidade de aves surgir do nada voando em direção ao moreno que tentou se proteger dos animais ao pôr os braços sobre o rosto, mas não adiantou de nada.

Seu rosto e braços eram cortados pelas unhas dos animais e tudo o que ele via agora eram penas intercaladas vez ou outra por feixes de luz verdes e vermelhos que o cegavam. Tentou focar a visão no local onde a garota estava encontrando-a ainda parada lá e então agitou os braços numa tentativa de espantar as aves.

Queria ir até ela. Queria falar com ela e sentia que precisava.

Quando o bando de pássaros finalmente o deixou em paz apressou-se em ir em direção a garota que ainda o encarava agora com lágrimas escarlate manchando sua face não mais sorridente. Havia sangue escorrendo de sua boca e de seu peito também, esse que parecia ter um ferimento profundo, mas era impossível ter certeza uma vez que as mãos ensanguentadas da morena cobriam a area como se quisesse impedir que todo seu sangue vazante por aquele buraco:

- Era isso que queria, certo? - ela pronunciou enfiando uma das mãos na ferida para tirar de lá uma pedra filosofal pequena e arredondada.

A menina estendeu o cristal para o rapaz de olhos verdes que não teve coragem de o pegar mantendo-se estático enquanto a esfera caia de seus dedos fracos em câmera lenta, rolando pelo chão deixando para trás uma trilha vermelha.

"O que é isso? O que...?" Pensou acompanhando o objeto com os olhos, esse que passou por entre suas pernas fazendo com que tivesse de se virar para vê-lo parar de rolar ao encontrar-se com as pontas de umas botas pretas, as mesmas de seu pai que havia dado para Levi:

- Conseguiste uma pedra, amor meu? - a voz de seu marido o alcançou e, ao erguer os olhos, constatou que aqueles pés de fato eram os dele.

- L-Levi? - Chamou assustado tendo em conta o estado da menina a poucos metros dele.

O hibrido abaixou-se para pegar o objeto, estava com uma expressão satisfeita e os lábios adornados por um sorriso simples e belo que lhe acalentaria o coração se não fossem as circunstâncias do momento:

- Eren. Por que tens sangue nas mãos? - arqueou uma sobrancelha questionando ao mais novo que não soube o que responder.

- O que?

- Tuas mãos. Tem sangue nelas - repetiu apontando para o rapaz que ergueu as palmas tremulas notando como estavam realmente encharcadas em um vermelho escuro, quase negro, que escorria cada vez mais por seus braços.

The boy and the demonOnde histórias criam vida. Descubra agora