Dias atuais
Já disse que odeio a minha vida? Pois então, eu nunca quis uma vida chique, extravagante nem nada, e apesar dos meus pais terem um império, eu nunca liguei para coisas matérias, sempre quis viver da minha música, viajando o mundo, e talvez me casar com o amor da minha vida. Mas pare. Claro que não foi isso que aconteceu, já que não tenho voz dentro da minha própria vida.
E na música eu me sentia livre para ser verdadeira, era meu refúgio pessoal. Quando essa casa foi construída, também pelo meu pai e pelo tio Victor, eu exigi um estúdio com isolamento acústico, e ali ninguém entrava sem minha permissão. Eu tinha vários instrumentos: violões, um lindo piano, guitarra e uma bateria incrível, que Christopher costumava tocar, mas hoje em dia, até perdeu o gosto. Ali também estavam minhas partituras, já que eu amava compor. Deixava minha alma e meus desabafos em cada letra daquela, e isso eu não mostrava para ninguém.
Agora estava eu aqui, no auge dos meus 33 anos, presidente de uma empresa, junto com querido maridinho, Christopher. Eu o odiava. Talvez ódio fosse meio forte, acho que era mais um rancor por sempre me infernizar desde a infância, e depois que fomos impostos a casar, isso só piorou.
Nós temos um relacionamento quase que profissional. Quando nos casamos, não queríamos nem ao menos dormir na mesma cama, mas tínhamos que fingir para os funcionários da nossa casa que aquilo era só mais um casamento comum. Então fizemos um contrato. Isso mesmo, um contrato. Onde Anahí, minha melhor amiga e advogada, fez, e foi assinado por nós dois:
- Não ficar com outras pessoas em público - não somos muito do holofote, já que não somos famosos, porém donos de empresas grandes como a nossa, pode trazer visibilidade, e então, burburinhos acontecem e morremos de medo disso, o que nos leva ao próximo item
- Não ficar com pessoas conhecidas por nós, nossos funcionários ou nossos amigos e familiares - imagina o trabalhão que isso seria para explicar?
- Ninguém além de Anahí, Alfonso e Christian pode saber sobre esse contrato. - nossos pais ficariam decepcionados, não é bom mexer com time que está ganhando, não é mesmo?
- Não trazer ninguém para nossa casa. - nunca tivemos problemas com isso, Christopher, apesar de ser um grosso e estúpido, sempre me respeitou, e eu procuro fazer o mesmo com ele.
- Não envolver ninguém nos assuntos da empresa, temos o mesmo cargo e ganhamos a mesma coisa, precisamos de parceria. - desde que Christopher e eu assumimos a presidência da SaviñonVonUckermann, sempre procuramos envolver o outro nos assuntos, por mais bobo que seja, e nunca procuramos terceiros para resolver nossos problemas sem aviso, funciona para nós e de início, foi bom colocar em um contrato.
- Triana, a bebê e a dona da casa, todos os súditos obedecem à ela e ninguém mais. - sim, eu carreguei minha cachorra da adolescência para minha casa atual sim e se o Christopher pensar em abrir a boca, ele é um homem morto. Mas, para o bom convívio desse lar, ele e Triana são quase que melhores amigos.
- Nunca. Jamais. Em toda a existência desse casamento, iremos transar. - ok, essa regra é bem idiota, eu sei, mas é bom estabelecer limites, Christopher e eu já temos que nos beijar quando estamos em público e demonstrar carinho um com o outro, já tá ótimo pra quem se odeia, não é mesmo?
O que nos leva a primeira história trágica desse casamento: eu e Christopher, bêbados, sozinhos em casa, com tesão. Quase lá se foi uma noite desastrosa, mas fomos salvos por Triana, que estava agonizando, parindo seus bebês. Ficamos sóbrios praticamente na mesma hora, e depois que tudo passou, a vergonha nos consumiu, e colocamos esse ponto importante entre nossas cláusulas.
Algumas coisas a mais se transcorriam por aqueles pedaços de papel, Christopher e eu concluímos que éramos mais estragados do que a gente imaginava, mas a culpa era dos nossos pais, era bom tirar pelo menos um fardo das nossas costas. Contrato pronto, nós dois assinamos, Anahí, Poncho e Christian como testemunhas, Manu e Triana com suas impressões digitais, já que eram nossos bebês. Sim, Manu era meu afilhado e de Christopher, filho da minha melhor amiga com meu primo, a criança mais perfeita de todo esse mundo, e ele poderia ser bruscamente afetado pela loucura dessa família, não queríamos isso.
Agora, Christopher e eu estávamos indo em direção à mais um coquetel que ele julgava ser importante, mas eu achava só mais um evento chato em que eu teria que fingir que gostava de todo mundo, inclusive dele. Eu estava extremamente emburrada, afinal discutimos feio sobre ir ou não à essa palhaçada, no final, achei os argumentos de Christopher bons, mas eu preferia morrer à admitir isso, então fiquei quieta no meu canto durante todo o caminho, e pude notar o quão nervoso ele também estava.
Chegamos no local e eu pus no rosto minha cara mais simpática possível, mesmo contra minha vontade. O motorista do local pegou as chaves da mão de Christopher e vi meu marido dar a volta no carro e abrir a porta para mim, quem vê pensa que é um poço de educação. Assim que saí do veículo, ele pousou à mão em minhas costas nuas, pelo decote do meu vestido, e me guiou até a entrada. Tiramos algumas fotos mas eu mal tinha chego, e já não estava aguentando mais.
— Por que não admite que eu estou certo, Maria? — Christopher disse para mim quando um dos investidores que conversavam com a gente se afastou. — Viu só? Eu fechei uma reunião que pode ser importante para nossa empresa, você deveria me escutar. — Eu sorri cinicamente e segurei em seu terno, passando a mão apenas para alisá-lo.
— E você deveria ser menos insuportável, mas ninguém te fala também.
— Está mal humorada, falta de sexo, Maria? — SIM! pensei, quase gritando.
— Lógico que não, meu amor. — menti. – Não se preocupe.
A noite continuou um porre só, conseguimos alguns contatos importantes que nos beneficiaram, mas eu estava tão mal humorada, que só queria ir embora. Talvez Christopher estivesse certo ao insinuar que eu preciso transar, juro que não sou tão chata e megera quanto está parecendo.
Ok, só um pouquinho, ninguém é de ferro.
Mas esses eventos me tiravam do sério, já que além de serem entediantes, só tinha gente velha, e na maioria das vezes, os investidores preferiam tratar os assuntos com Christopher, já que ele era homem, e eu ficava parecendo seu chaverinho.
Christopher, por pior que fosse, entendia meu lado, e também ficava puto com esse tipo de discriminação, então, sempre que tinha uma brecha, ele me incluía nas conversas, para que eu não ficasse mal. Fofo, mas não tanto, não ache que ele não fez mais que sua obrigação.
E finalmente, logo após o jantar, a hora mais esperada da minha noite, a hora de ir embora para casa. Juro, nunca quis tanto minha cama confortável como naquele momento.
Entramos no carro em completo silêncio, quebrado pelo toque do celular de Christopher, que estava conectado ao bluetooth do carro. Nossa relação era muito estranha, nos odiavamos mas não tínhamos segredos um do outro. É sobre isso e tá tudo bem.
— Alô?
— Ucker, meu filho...
— Mamãe? O que foi? De quem é esse número?
— Da emergência do hospital, preciso que venha correndo. O seu pai...não está bem. — ouvir aquilo me deu uma ansiedade tremenda, tio Victor era meu padrinho, e apesar de tudo eu o amava também, algo ter acontecido com ele, me deixava desesperada.
— Calma, mãe. Estou indo. — Christopher desligou o telefone e rapidamente voltou sua atenção ao trânsito, totalmente focado, isso era admirável nele.
Já eu? Estava em prantos, com falta de ar e a maquiagem provavelmente inteira borrada. Um pânico começou a me dominar e meu coração acelerar, senti mãos frias deslizarem para dentro das minhas, e apenas não falei nada, aquele não era o momento, e aquilo afetava muito a nós dois.
— Dul, meu pai vai ficar bem, ele é forte. — Christopher disse se virando para mim quando o semáforo se fechou. Não consegui responder pela falta de ar que me sugava ainda, mas o olhar de dor dele me despertou algo desconhecido e eu sabia, como em todas as outras vezes, que tinha que confiar em Christopher, e tudo ficaria bem.
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Yo Si Quería
Fanfiction+18 | Finalizada | Com a vida praticamente inteira planejada, Dulce e Christopher se conhecem desde crianças mas nunca se gostaram. Por conta dos pais, eles foram obrigados a tomar frente das empresas, se casarem e comandar a Saviñon Von Uckermann j...