Hoje eu iria no orfanato ver minha filha. Eu e Christopher já havíamos aberto o processo de adoção para Ayla, e eu não aguentava saber que ela estava lá sozinha, sem que eu pudesse fazer nada.
Como Christopher tinha uma reunião importante na empresa hoje, apenas eu e Luna fomos visitá-la. Aliás, Luna estava apaixonada pela irmã, parece que foi amor a primeira vista, assim como eu me senti ao vê-la.
Estacionei em frente ao orfanato e Luna se agitou ao perceber onde estava. Falando nela, minha bebê estava cada vez mais esperta, e cada vez mais parecida comigo, o orgulho da família. A tirei da cadeirinha do carro e fomos de mãos dadas, no ritmo dela, entrar no local.
— Oi, Alice. Como está? — cumprimentei a assistente social e diretora do orfanato assim que entrei. Alice era um amor de pessoa e ela estava cuidando do processo de Ayla de perto.
— Bem, Dulce! E vocês? Essa pequena aqui daqui a pouco está enorme. — ela brincou com Luna que riu.
— Nem me fale, ela já tá praticamente indo pra faculdade, não estou lidando. — Alice sorriu gentilmente do meu drama e tornou a falar.
— Que isso, ainda falta muito! A sua outra bebê vai acabar indo mais cedo! Aliás, quer vê-la?
— Sim, eu vim pra isso! Estou morrendo de saudades da minha filha. — sim, filha. Ayla era minha filha e ninguém ia tirar isso de mim.
— Bom, ela fala de vocês todos os dias, inclusive do que vai brincar quando a Luna chegar. — partia meu coração deixar minha menina aqui, eu odiava isso e sei que Christopher se martirizava também.
— Você acha que esse processo vai demorar muito? Pelo menos pra guarda provisória?
— Olha, Dulce, vocês estão habilitados tanto financeiramente quanto psicologicamente para recebê-la, e os documentos de vocês foram entregues todos corretamente. A partir de agora a Vara da Infância vai avaliar e são aproximadamente 120 dias pra esse processo acontecer. Vocês estão na fila para adoção a um bom tempo, então creio que não deve levar muito tempo além disso. Ayla está passando por análises psicológicas por ter passado por um luto, ela ainda está superando as perdas e estamos trabalhando para que ela não tenha traumas futuros. Ela tem apenas 3 anos mas não sabíamos o ambiente familiar em que ela estava inserida e como a morte dos pais pode ter a afetado. — respirei fundo e a olhei, era muita coisa, mas eu não iria desistir da minha filha. — acredito que em breve vocês já poderão levá-la para passear aos fins de semana e dormir na casa de vocês. — senti meu rosto se iluminar com as palavras dela e com certeza me sentia mais empolgada com tudo. — após isso, Ayla passará a morar com vocês, mesmo não estando adotada ainda, vocês ainda terão acompanhamento psicossocial para entender o vínculo que a família está criando com a criança. Se tudo estiver ok, o caso vai para o ministério público e o juiz dá o parecer final. É uma batalha de mais ou menos um ano, sei que parece exaustiva mas no fim vale a pena. — Respirei fundo e dessa vez eu assimilei melhor as coisas. Tudo isso já havia sido explicado para nós quando Christopher me trouxe pela primeira vez, mas eu estava tão eufórica que não tinha prestado total atenção, e só absorvi o quão complexo esse processo pode ser agora.
— É demorado mas vale a pena. Não vamos desistir da Ayla por nada nesse mundo. Eu espero o tempo que for pra tê-la. Só fico com remorso de deixá-la aqui.
— Não se preocupe, acredito que o processo de vocês não deva demorar tanto. Vocês são capacitados, já tem uma filha que ama a Ayla, e essas coisas influenciam muito positivamente na hora das decisões serem tomadas.
— Luna não vê a hora de ter a irmã com ela, né bebê? — olhei para ela que me puxava e pronunciava palavras desconexas em seu próprio idioma. — acho inclusive que alguém tá com saudade já. — Alice riu e assentiu.
— Vamos, vou levá-las até a Ayla. — Alice nos guiou até a sala de brinquedos onde ela estava brincando sozinha de casinha. Luna, assim que bateu os olhos na futura irmã, ficou enlouquecida, mas eu tive que segurar o choro ao ver minha pequena sozinha. Eu já sentia tanto amor por aquela menina, que parecia que ela tinha saído de dentro de mim, e assim como eu faria com Luna, eu daria o mundo pra ver Ayla feliz.
— Tia Dul, Lulu, vocês vieram! — o rostinho dela se iluminou num lindo sorriso assim que ela nos viu. Luna se jogou em cima da menina e, por um momento, fiquei preocupada delas se machucarem, mas as duas levantaram rindo, e Ayla veio me dar um beijo na bochecha.
— Nós estávamos com saudades de você, meu bem. — eu disse me sentando no chão perto delas duas.
— Cadê o tio Chris? — ela olhou para todos os lados e não viu Christopher.
— Ele teve que ficar na empresa, coisa de adultos, sabe? — ela assentiu e me abraçou. — mas ele está morrendo de saudades de você e te mandou isso aqui. — Sabe como eu tenho um marido faz tudo, né? Pois bem, Christopher fazia os melhores biscoitos amanteigados do mundo inteiro, e em uma das vezes que viemos aqui, ele trouxe um pouco para Ayla, que amou de imediato. Até Luna amava os biscoitos que o pai fazia, era uma paixão universal. Abri a lata e os dois dragõezinhos se animaram ao ver a quantidade que tinha ali, Christopher era tão exagerado.
Dei um biscoitinho na mão de cada uma e eu presenciei a cena mais fofa desse mundo: Luna explicando para Ayla como se comia, em seu idioma próprio. Ayla observava atentamente todas as instruções da irmã, que chupava a comida como se fosse pirulito.
Meu telefone tocou em uma chamada de vídeo e atendi de pronto.
— Oi, meus amores. — era Christopher, diretamente do banheiro da empresa?
— Christopher, mas o que é que você está fazendo no banheiro?
— Eu queria ver vocês, estou com saudades da Ayla, mas tive que fugir cinco minutos daquela reunião insuportável. — O mico, pai amado. Virei a tela do celular na direção delas e Luna começou a gritar pro pai, e logo Ayla percebeu quem estava ali. — Oi, minhas meninas, como estão?
— Papai! — Luna chamou ele mostrando o biscoito quase desintegrado e Christopher riu do outro lado da linha.
— Oi, tio Chris! — agora foi a vez de Ayla falar.
— Oi, pequena! Perdoa o tio por não poder ir aí, te prometo que logo te faço uma visita.
— Tudo bem! Eu amei os biscoitos, obrigada. — Linda, gentil, inteligente, educada, só podia ser minha filha mesmo.
— Você gostou? — Ela assentiu e sorriu para ele. Luna observava atentamente àquela cena, mas não parecia nem um pouco enciumada, como eu achei que ficaria. — Então, eu farei sempre pra você, tá bom?
— Eba! — Ayla bateu palmas animada e Luna repetiu seus movimentos, sorrindo alegremente. A coisa mais fofa desse mundo. — Obrigada, tio!
— De nada, princesa. Agora eu preciso ir, tchau, minhas meninas. — Luna acenou um tchauzinho e mandou beijos pra Christopher, assim como Ayla, eu vou explodir de tanta fofura.
— Tchau, amor. Te amo.
— Te amo, mi Dul. — mandei um beijo para ele e desliguei o telefone.
Continuei ali entretida brincando com as duas até dar a hora limite para ir embora. Luna e Ayla não queriam se separar ou pararem de brincar de jeito nenhum, mas após muita conversa, conseguimos convencê-las de que logo elas estariam juntas.
Entrei no carro e segurei firme no volante tentando conter minhas lágrimas, já que Luna estava na cadeirinha e eu, particularmente, me recusava a chorar na frente dela, mas deixar minha outra filha aqui é como se eu deixasse uma parte do meu coração, e eu mal podia esperar pra finalmente ela ser legalmente minha, passar a conviver com a gente e essa tortura passar.
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Yo Si Quería
Fanfiction+18 | Finalizada | Com a vida praticamente inteira planejada, Dulce e Christopher se conhecem desde crianças mas nunca se gostaram. Por conta dos pais, eles foram obrigados a tomar frente das empresas, se casarem e comandar a Saviñon Von Uckermann j...