Chegamos no hospital e encontramos tia Alexandra sentada na recepção, aos prantos. Deixei Christopher e ela terem o momento deles, já que, apesar de amar muito tio Victor, ainda era pai dele.
Assim que eles se separaram, tia Alê me abraçou fortemente, se deixando chorar em meus ombros, e eu não fiz diferente. Meu olhar se encontrou com o de Christopher por um instante, e era como se estivéssemos conversando. "Ele não está bem". "Algo grave aconteceu, Dul". "Chris, cadê meus pais?". Bizarro? Sim. Mas foi do momento, tenho certeza... Coisas assim não aconteciam, ainda mais quando duas pessoas se odeiam.
— Tia, o que aconteceu? — Eu perguntei quando nos separamos e sentamos nas cadeiras.
— Ele convulsionou. Estava a dias dizendo que sentia uma enxaqueca terrível, e eu não o ouvi. Podia ter evitado. Mas não.
— Mamãe, a culpa não é sua. Não há nenhum culpado nessa história. — Christopher disse segurando as mãos da mãe.
— Christopher está certo, tia, neste momento só nos resta rezar por ele e avisar toda a família para fazer o mesmo.
— Minha querida, pode fazer isso por mim? Ligar para seus pais, que estão no Brasil e para Christian, não sei onde esse menino anda...
— Christian está em Shangai, mamãe, foi fechar uns contratos da empresa. — Tia Alexandra assentiu em silêncio e logo deitou a cabeça no peito de Christopher, que tentava consolá-la, sem o menos sucesso.
Sentia meu coração partindo com aquela situação, e só podia esperar que tudo realmente ficasse bem. Fiz o que minha tia havia me pedido, alertando a todos para voltarem o mais rápido possível, e logo eu estava retornando para a recepção do hospital novamente.
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Quatro dias depois.
É, as coisas não ficaram nada bem. Tio Victor se submeteu a uma cirurgia no cérebro para a retirada de um tumor. Uma parada cardíaca o atingiu e foi fatal. Eu estava sendo dominada por uma tristeza profunda, mas Christopher? Christopher parecia um morto vivo andando pela nossa casa. Só chorava, não se alimentava, não falava e tinha pavor de ficar sozinho em algum cômodo.
Hoje era o enterro de tio Victor. Não sei como sobreviveriamos a esse dia, era como se tudo estivesse nublado, e não encontrávamos solução alguma para aquilo.
Estávamos em nosso quarto nos arrumando para irmos até o cemitério. Eu me sentia orgulhosa de ver Christopher apenas tomar um banho e vestir seu terno, talvez seu luto tenha avançado algumas casas, não sei, mas vê-lo se arrumar novamente me trazia uma tranquilidade.
— Dul? — Meu Deus ele voltou a falar, realmente temos um avanço. Me virei para ele, que estava relativamente longe de mim e fiz um gesto para que ele continuasse a falar. — Obrigado por não ter saído do meu lado. Eu sei que também está doendo em você e eu não pensei nisso, ele era seu padrinho, quase seu pai também e, isso é difícil, me desculpa. — Me aproximei calmamente dele e sorri gentilmente ao chegar perto de seu rosto.
— Não precisa me agradecer. Muito menos me pedir desculpas. Como você se sente? — cinco minutos de conversa e ainda não nos matamos? Deus que me perdoe por pensar dessa maneira nesse momento mas o que eu posso fazer? Isso é novidade para mim.
— Arrasado ainda, mas meu pai não iria gostar de me ver assim. Ainda mais largando a empresa e fazendo você largar também.
— Oh querido, eu não larguei, trabalhei por nós dois daqui de casa, você nem percebeu. Tínhamos muitas pendências mas não quis te atrapalhar. — Ele arregalou os olhos e, em quase uma câmera lenta, pude ver seus braços se abrindo em volta do meu corpo. Meu Deus, palavras e abraço. Que dia, meus amores. — Vamos, estão nos esperando. — Ele assentiu e me seguiu, saindo do quarto.
Como Christopher não estava bem emocionalmente, peguei as chaves do meu carro para que eu fosse a motorista da vez. Não que eu estivesse emocionalmente super bem, lógico que não. Mas, as chances de ele ter uma crise de ansiedade no volante, na ocasião, estavam bem mais altas do que comigo.
O velório e o enterro de tio Victor foi lindo, muito emocionante e com certeza com muitas lágrimas. Christopher segurou na minha mão o tempo todo, como uma pequena criança. Até minha mãe estranhou, já que convenhamos, aquele não era nosso normal.
Logo após, fomos todos para casa de tia Alê, não queríamos deixá-la sozinha, e seria bom Christopher e ela passarem um tempo juntos. Me sentei no sofá da sala com uma taça de vinho, sendo acompanhada por Christian e Anahí.
— Ok, você vai me contar o que está rolando entre você e meu irmão. — Christian era o ser humano mais fofoqueiro e curioso da face da terra.
— Não está rolando nada. — respondi com a classe que sempre tive, até porque isso não era mentira.
— Dul, vocês passaram o velório inteiro de mãos dadas, pra quem não se suportava, alguma coisa tá acontecendo. — Agora foi a vez da minha loira favorita falar.
— Christopher tem estado mal. Está em luto e não estamos brigando como sempre. Eu precisava do apoio dele também, sabem que eu via tio Victor como um pai para mim. Está sendo difícil pra nós dois.
— Ele sempre foi mais ligado no meu pai do que eu. — Christian tornou a falar. — Acho que ter sofrido com a minha sexualidade me impede de ter uma reação extrema como a dele.
— Sim, e cada pessoa reage de um jeito, Pollito. — Anahí segurou em sua mão, por cima do meu colo. — Só não achei que Dulce reagiria assim, por conta do casamento de vocês e tals.
— Apesar de nossos pais nos obrigarem a casar, eu nunca consegui guardar rancor deles. Acredito que nem Christopher. — Eu disse olhando para meu marido, que conversava com meu pai no canto da outra sala.
— Sabe, eu percebi hoje, você e meu irmão formam um casal lindo.
— Eu sempre achei isso também. Mas vocês brigam tanto que não enxergam.
— Ok, agora vocês estão viajando. Não formamos nem um casal, quem dirá um lindo. Acordem.
— Sabe, Candy, eu acho que você ainda vai engolir suas palavras.
— Eu concordo com o Christian.
— Barbie, cadê o Poncho? — eu disse impaciente querendo mudar de assunto.
— Foi andar com o Manu, ele estava agitado demais. Acho que por toda situação.
— Tadinho do meu bebê. — Eu disse formando um bico para ela e inclinando minha cabeça em sua direção, recebendo um abraço de lado da minha melhor amiga.
— Sinto muito pela sua perda, Dul. Sei que está sendo forte pelo Christopher, mas se quiser um ombro pra chorar escondido, estou aqui. — meus olhos encheram de lágrimas e algumas até teimaram a cair, eu tinha os melhores amigos desse mundo, e ninguém ia me provar o contrário.
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Yo Si Quería
Fanfiction+18 | Finalizada | Com a vida praticamente inteira planejada, Dulce e Christopher se conhecem desde crianças mas nunca se gostaram. Por conta dos pais, eles foram obrigados a tomar frente das empresas, se casarem e comandar a Saviñon Von Uckermann j...