Capítulo 64

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Ok, Dulce, isso não pode ser tão difícil, ela é sua melhor amiga, você vai conseguir. Ou, você não vai conseguir justamente por ela ser sua melhor amiga, quer dizer, quem em sã consciência quer magoar o coração da sua irmã de alma? Mas também se ela não souber por mim, e saber que eu sei, será pior. Ai que droga!

Toquei a campainha e respirei fundo, realmente não poderia deixar de contar isso pra Annie, mas era tão difícil! Por que tudo tinha que ser assim? Anahí abriu a porta, com um semblante cansado e a barriga já grande.

— Oi, minha loira. — a abracei e ela retribuiu o gesto, começando a chorar. Anahí estava visivelmente fragilizada e eu não aguentava mais ver minha amiga assim.

— Desculpa por isso, são os hormônios da gravidez. — ela disse assim que se acalmou.

— Não se desculpe, é natural que esteja assim. — entramos e nos sentamos no sofá. — Estou preocupada com você, Annie. Por que não volta a ficar com a gente?

— Eu agradeço tudo que você e Christopher fazem por mim, Dul, mas não posso. Isso tira a privacidade de vocês, a minha, do Manu, não vale a pena. Minha mãe tem vindo aqui as vezes e eu também estou trabalhando bastante, me mantenho ocupada.

— Mas logo você vai ter que pegar mais leve, por você e pelo bebê, não quer correr riscos, né?

— Eu sei, eu vou diminuir meu ritmo. E como você está?

— Bem, Christopher e eu temos novidades e...

— Você está grávida? — ela me interrompeu, arregalando seus grandes olhos azuis.

— Eu não estou grávida, Anahí, pelo amor de Deus.

— Não me surpreenderia se estivesse, você e Christopher parecem dois coelhos e não se protegem.

— Deus protege a gente, gata, fica tranquila.

— Vai nessa, daqui a pouco você está com uma creche montada.

— Para, não é o momento.

— Então, o que vocês estão escondendo?

— Falaremos em breve, vamos fazer um jantar lá em casa. — ela assentiu e abaixou a cabeça, eu sabia o porquê. — Não vou chamar o Poncho, Annie.

— Ele é seu primo, Dulce, deve chamar sua família.

— Você é mais minha família do que ele, sabe disso. Aliás, é sobre ele que eu quero falar.

— Imaginei, ele não está na cidade, está viajando a trabalho. — veio a parte difícil da conversa, respira fundo, Dulce, respira fundo.

— Annie, ele não está viajando, eu o encontrei e o segui. — contei tudo detalhadamente para ela, inclusive sobre Paulina ficar em cima de Christopher. Anahí me encarava atenta, seu olhar transmitia mais indiferença do que raiva, acho que ela já esperava coisas assim, mas não deixava de ser um choque.

— Ok, eu acho que isso vai além do que eu imaginava. Acha que o filho dessa Paulina é filho do Poncho?

— Eu não faço ideia, Annie. Sinto muito por isso... — suspirei fundo e segurei em sua mão.

— Não sinta, eu já não sinto nada além de desprezo por ele. Poncho era o grande amor da minha vida, mas a decepção que eu tive com ele foi grande demais, e talvez futuramente, isso mude, mas não agora.

— Eu entendo, uma hora a gente cansa de apanhar. — e realmente aquilo não era mentira. Anahí passou por muita coisa com Poncho, começando que seu relacionamento com ele não era estável no início de tudo, mas eu sempre achei que ele a amava, nunca quis tanto estar errada. — E o que vai fazer agora?

— Eu já fiz, já pedi o divórcio. Não posso me representar por não trabalhar com a Vara da Família, mas pedi para Lana ser minha advogada. — Lana era amiga de Anahí desde a época da faculdade, extremamente competente e dificilmente perdia algum caso. — Assim que Poncho resolver “voltar” de viagem, ele terá uma grande surpresa. — arregalei os olhos e a fitei.

— O que você fez? — Annie sorriu e passou a mão em sua barriga.

— Joguei as coisas dele fora, ué. E troquei os trincos de entrada. Eu tinha me arrependido disso, mas depois de tudo que você me contou, só me sinto mais aliviada por ser maluca assim e ter agido de forma impulsiva. — comecei a rir compulsivamente, quase que chorando. Me espantava que ela tinha demorado tanto assim para tomar uma providência dessas.

— Barbie, você é maluca!

— Eu sei, mas dessa vez foi necessário. Eu cansei, Dul. Cansei de sofrer pelo Alfonso, cansei de me fazer de trouxa e de chorar. Eu preciso ser forte pelos meus filhos, eles não podem ter uma mãe fraca como exemplo.

— Eu te admiro tanto, se você soubesse. Não sei se teria essa força que você tem...

— Teria, Dul. Quando você olha os olhinhos dos seres humanos mais importantes da sua vida, você tira toda força do mundo... Aposto que Luna desperta coisas inimagináveis em você, assim como Manu e esse pacotinho aqui dentro de mim. Nossos filhos são nossa maior força, sem ao menos a gente perceber. — Meu olho estava cheio de lágrimas, justamente por me sentir dessa maneira. Quantas vezes Luna já não foi o refúgio da minha dor? — Quando eu vi o mal que estava fazendo ao Manu, eu finalmente tomei coragem pra dar um passo a frente.

— Olha, eu fico feliz de você pensar assim. Me deixa muito mais aliviada saber que você não desistiu. Você merece a felicidade, minha loira. Merece um amor tranquilo, que só te traga paz.

— Bom, amanhã é um novo dia para recomeçar, pra amar mais uma vez, a vida não acaba apenas com um divórcio, muito pelo contrário. Fora que os pequenos continuarão a ter contato com o pai, jamais os separaria dessa maneira. E também, ninguém sabe o que o futuro me reserva, Dul. Pode ser que eu me separe do Poncho agora, mas mais pra frente nós voltamos e podemos nos acertar. Ou, eu parto pra outra, ele também, e vivemos felizes. Eu sempre vou ter um carinho por ele, por ser pai dos meus filhos, mas por agora, não dá pra continuarmos assim.

— Uau, quando você ficou tão... madura? — eu estava realmente de queixo caído com tudo que Anahí havia dito. Se antes eu achava que essa seria uma conversa difícil e com muitas lágrimas, agora eu a achava a mulher mais forte desse mundo.

— Terapia, meu amor. Eu sempre precisei, antes de irmos para Acapulco, comecei algumas sessões. Até busquei uma psicóloga infantil para o Manu, já a fim de prevenir qualquer trauma. Digamos que houve uma evolução boa em mim...

— Eu fico muito mais tranquila em te ver assim. E eu tenho certeza que Manu ficará muito orgulhoso da mãe quando entender tudo que você passou. — ela sorriu e me abraçou fortemente, muito diferente do abraço que me deu assim que cheguei.

— Bom, você, Christopher e Christian foram fundamentais nesse período, e eu só tenho a agradecer aos três. De verdade, Dul. Eu nunca imaginei ter uma amiga que fosse mais que uma irmã para mim, eu te amo, minha Candy.

— Sabe que eu viro uma leoa quando mexem com você. Não precisa me agradecer. — me soltei do abraço e ouvi meu telefone tocar. Era Christopher.

— Oi, amor.

Dul, vem pra casa, rápido! — Meu coração já batia rápido e ele parecia ofegante e desesperado.

— O que aconteceu? Chris, está tudo bem?

Aqui em casa eu te explico. Dirija com cuidado, te amo.

— Dez minutos eu chego, te amo. — o desespero estava me dominando já. Desliguei a ligação e me despedi de Anahí, indo em direção à minha casa e tentando não pensar no pior.

Yo Si QueríaOnde histórias criam vida. Descubra agora