Capítulo 33

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Me levantei da cadeira assim que ouvi Christopher desligar o chuveiro e fui em direção ao banheiro onde ele estava. Como estava distraída, dei de cara com ele na porta, que sorriu sem graça e franziu o cenho quando olhou para mim.

— Que cara é essa, Dul?

— Seu irmão me irritou, e Anahí também. — eu disse cruzando os braços, provavelmente parecendo uma criança de cinco anos.

— Só mais um dia normal, o que eles disseram pra você? — O fitei e passei a pensar: será que eles estavam certos? Minha vida tinha virado de ponta cabeça em menos de ano, e claro que sentimentos mudam, mas eu estava grávida, e se fosse apenas os hormônios? Poderia ser, realmente. Mas será que ele...— Dulce, acorda! — Ele disse interrompendo meus pensamentos. — Não ouviu nada o que eu disse, né?

— E-eu ouvi sim, e estou profundamente ofendida que você pense que não ouvi. — menti e ele sabia que era mentira, mas eu não me importava, dei a volta em seu corpo, o empurrei para fora do banheiro e entrei, fechando a porta em sua cara.

Comecei a tomar meu banho tranquilamente com minha cabeça indo à mil, eu não sabia o que pensar, ou sentir, estava confusa em relação à tanta coisa?

E ele?

Christopher havia mudado tanto. A morte de seu pai o fez um novo homem, mesmo que o motivo não seja bom, ele havia se transformado.

Essa viagem.

Por que Christopher resolveu vir justamente para cá? Como eu nunca percebi o quão atencioso ele era? Será que ele sentia algo a mais? Nossa conexão de fato havia mudado, Christopher e eu parecíamos um só as vezes, pensávamos exatamente da mesma forma e claro que éramos totalmente honestos um com o outro.

Até onde eu achava.

Desliguei o chuveiro e o ouvi gritar no telefone.

Eu estou viajando com a minha mulher. Como assim? Você sabia que eu era casado! Ela está grávida! Será que pode parar de me ligar, Paulina! Eu não quero mais nada com você, já te disse isso a um mês atrás.

Era uma mulher.

E, um mês.

Luna já estava na minha barriga.

Christopher mentiu pra mim. Eu não podia acreditar.

Algumas lágrimas insistiram em cair no meu rosto, meu coração doía com isso, mas eu não podia culpá-lo, não tínhamos nada demais além de um acordo sexual e uma filha, nosso casamento era um contrato que acabaria em cinco anos, depois disso, Christopher e eu só teríamos Luna e a empresa entre nós.

Abri a porta do banheiro e não o olhei, segui diretamente para pegar uma roupa qualquer.

Preciso desligar, tchau. — ouvi Christopher dizer e senti sua presença mais perto de mim. — Dul, eu...

— Tá tudo bem, Christopher. — Ele suspirou e passou a mão no rosto enquanto eu terminava de me vestir e penteava o cabelo.

— V-você escutou? — Ele estava visivelmente, bom eu estava visivelmente triste, não me importava com mais nada.

— Sim. — murmurei tentando ser indiferente mas a realidade é que o choro estava entalado na minha garganta.

— Dul, não é isso que você tá pensando e...

— Você não me deve explicações, Christopher. Não me importo com quem você sai, só estou decepcionada porque acreditei que você tinha mudado. — peguei minha bolsa e meu celular no balcão, e a chave do quarto. — Acho que me enganei, a culpa é minha em ter criado expectativa. — Eu disse indo em direção à porta. Olhei para ele e vi agonia em seus olhos, algo me dizia que essa não era a história real, mas eu não queria ouvir, não agora. — Por favor, não venha atrás de mim, preciso ficar sozinha. — Ele assentiu e abaixou a cabeça, vi uma lágrima escorrer em seu rosto e tudo que eu queria fazer era secar e falar que tudo ia ficar bem. Meu Deus, como eu sou trouxa.

— Cuidado por aí, vou te dar seu espaço mas ainda sim vamos conversar.

— Tchau, Christopher. — bati a porta do quarto e me sentei no chão do corredor, liberando finalmente as lágrimas que eu segurava.

Eu achei que tudo seria diferente, mas me enganei.

Quase meia hora depois, resolvi me levantar e sair dali, não queria ver Christopher sair do quarto pra mais uma de suas noitadas, arranjar mais uma mulher e isso acabar me afetando novamente, não mais.

Logo agora, né?

Chega a ser irônico o quanto a vida te surpreende. Eu jamais saberia disso se ele não tivesse se exaltado tanto. Duvido que ele me contaria.

Mas afinal, quem era esse Christopher?

Era o adolescente que me irritava diariamente, que fazia pegadinhas comigo e me fazia chorar?

Ou era o homem dentro de um casamento de fachada, com um contrato no meio, que dizia que ele poderia ficar com qualquer pessoa desde que não fosse em nossa casa.

É, acho que a segunda opção.

Tudo estava tão diferente entre nós dois que achei que aquele primeiro contrato nosso havia sido anulado. Aparentemente não.

Fui pensando tudo isso enquanto andava e acabei parando na praia. Eu amava o mar, tanto quanto eu amava a lua.

Me sentei na areia molhada e me permiti chorar novamente. Tudo doía tanto, era quase física minha dor, e eu não conseguia entender o por que.

Peguei meu celular e vi algumas mensagens de Christopher, nossos amigos zoando nossa "proximidade" e muita gente desejando felicidade a nós dois na minha foto do Instagram.

Felicidade.

Será que algum dia eu chegaria à felicidade plena? À realização pessoal? Minha filha em minha barriga já era tudo pra mim, mas eu realmente pensei que Christopher poderia ser a pessoa que eu passaria o resto da vida.

Mas como eu pude pensar isso? A gente se odeia, nascemos com ódio entre nós dois, nossa relação era sexual, nada mais. Eu havia me envolvido além da conta, a culpa era toda minha. Após um bom tempo ali, apenas refletindo tudo em minha vida, resolvi voltar para o hotel. Estava grávida e sozinha, andando numa cidade desconhecida que, apesar de não ter tanta violência, não poderia por em risco minha vida e da minha bebê.

Voltei andando devagar, já controlando minhas lágrimas, apesar do rosto inchado de tanto chorar. Cheguei na porta de nossa suíte e respirei fundo, não queria encarar Christopher ainda, mas seria inevitável, ou ambos não conseguiríamos nem dormir, eu o conhecia bem demais. Abri a porta e ele estava recostado na cama, com meu travesseiro em mãos, e os olhos cheios de lágrimas. Meu coração doeu com aquela cena, mas eu precisava pensar em mim antes.

— Tudo bem, eu vou te escutar. — Eu disse e só assim ele me percebeu no ambiente, esperava de verdade que aquilo fosse apenas um mal entendido.

Yo Si QueríaOnde histórias criam vida. Descubra agora