Capítulo 12.

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Mari.

-Caralho!-Exclamei admirada com a vista quando os meus pés pisaram o chão da laje.-Desculpa.-Falei ao notar que eu ainda tava com as mãos no braço do Lucca e soltei.

Lucca: De boa.-Falou se afastando e foi sentar no único móvel que havia aqui, um sofá de couro preto de três lugares que não parecia ser tão velho e nem tão novo.

-Deixa adivinhar.-Caminhei até o sofá e me sentei no lado esquerdo vendo o espação que tinha ficado entre nós.-Você que trouxe também.-Afirmei me referindo ao sofá.

Lucca: Isso mermo, não podia ficar sentando em caixote pra sempre.-Tirou o boné, passando a mão no cabelo e voltou a pôr.

-Cê não tem medo que roubem?-Perguntei encarando as íris cinzas dele.

Lucca: Não, a galera passa longe daqui. Tudo cagão.

-Têm medo do quê?-Ri.-Dessa vista linda é que não deve ser.

Lucca: Vivem dizendo que essa casa é assombrada e pá, cê sabe, esses bagulho nada a ver que gente desocupada inventa.-Arregalei o olho ao ouvir a palavra "assombrada".-Que foi, cê acredita nesses negócios?-Perguntou ao ver a minha reação.

-Eu não sei de muita coisa, mas uma das coisas que eu já aprendi nessa vida é a não duvidar de nada.-Mexi no meu cabelo que já tinha soltado do coque por conta do vento.-Tenho pra mim que se existe o bem também existe o mal.

Lucca: É um conceito foda, nunca tinha pensado por esse lado.-Falou e eu sorri.-Mas existindo ou não, pode ficar mec porque sobre essa casa foi tudo boato.

-Se você diz...-Dei de ombros e olhei pro céu, sentindo o meu cabelo balançar com o vento.

Tava um silêncio gostoso, eu perdida nos meus pensamentos e ele nos dele. Quando fui ver já tava pensando no meu pai. Tirei os meus chinelos e levei os pés no sofá, abracei as minhas pernas, apoiando o meu queixo no joelho e respirei fundo sentindo algumas lágrimas escorrerem.

Lucca: Você tá bem?-A voz grossa e rouca dele me tirou dos meus devaneios.

-T..Tô sim.-Tentei falar rápido pra minha voz não sair trêmula e limpei rápido as lágrimas.

Lucca: Se essa for a sua capacidade máxima de mentir tu tá fudida.-Olhou pra mim.

-É só...-Suspirei.-Eu só tô cansada de ser forte o tempo todo e fingir que tá tudo bem. Mas eu preciso porque se eu desmoronar a minha mãe vai junto.-Falei, fazendo ele fazer cara de confuso.

Lucca: Quer começar a me explicar pelo começo?-Se virou pra sentar de um jeito que o permitia olhar pra mim.

-Não tem muito pra dizer... Assisti a morte do meu pai de camarote e tenho que engolir como se tivesse sido a coisa mais normal do mundo.

Lucca: Caralho...-Foi tudo que conseguiu dizer.

-Eu só tenho dezessete anos, era suposto eu estar preocupada com festas, estudos, ficantes e coisas desse tipo. Não era pra eu estar ocupada tentando apagar a imagem do corpo do meu pai caindo sem vida à minha frente e muito menos ter que fingir que isso não tá fudendo com a minha saúde mental.-Funguei escondendo o meu rosto com as mãos e permitindo que as lágrimas saíssem sem parar.

Lucca: Tá tudo bem.-Me puxou, passando os braços na minha cintura e eu enfiei o meu rosto na curva do pescoço dele chorando mais ainda, ele foi passando a mão nas minhas costas até eu me acalmar, tava até sem ar de tanto que chorei.

-Desculpa por esse surto.-Falei mais calma, me afastando dele.

Lucca: Eu entendo que você esteja acumulando todas essas emoções pela sua mãe, mas comigo você não tem essa obrigação.-Falou e eu olhei pra blusa dele que tava toda molhada com as minhas lágrimas.-Comigo você pode botar tudo pra fora e se precisar trocar uma idéia também sabe onde me encontrar.

-Muito obrigada, Lucca.-Suspirei e bocejei ao mesmo tempo.

Lucca: Bora, tá com sono já.-Falou se levantando.

Se com a habilidade dele pra subir essa laje eu fiquei admirada, pra descer então eu tô pra lá de chocada. O menino saltou daqui direto pro chão sem se quebrar inteiro, como pode?

-Só pra que conste...-Gritei olhando ele lá embaixo esperando por mim.-Eu não vou fazer isso.-Falei e ele riu me passando as instruções pra descer em segurança.

Lucca: Te peguei.-Falou pegando a minha cintura com firmeza quando eu saltei, na hora os nossos olhares ficaram presos um no do outro. Os nossos rostos estavam tão próximos que eu podia sentir a respiração dele batendo no meu e tenho a certeza de que ele também podia sentir a minha batendo no rosto dele.-É... bora?-Perguntou me colocando no caixote, cortando o nosso contato visual.

-Aham.-Concordei saindo de cima do caixote.

Nossa História. - Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora