Prólogo.

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Rio de Janeiro, Cidade de Deus. 📍

"Nossa história não vai ser uma história qualquer."

Mariana.

-Eu só posso chegar até aqui.-O cara do uber falou parando o carro.

Lúcia: Tudo bem.-Minha mãe suspirou e pegou dinheiro na bolsa, pagando o senhor.

Descemos do carro e o senhor veio com a chave pra abrir o porta-malas. Tiramos as nossas coisas e ele trancou novamente, voltando a entrar no carro.

-Vem mãe, vamos sair da estrada.-Tirei forças da puta que pariu e chamei ela que tava no mundo da lua.

Pegamos as nossas malas, arrastando até a entrada da favela. Também não era muita coisa não, coisa de duas malas cada e algumas mochilas.

Lúcia: Boa tarde.-Falou com os caras que estavam na frente, todos tatuados, sem camisa, cheios de cordões de ouro no pescoço e com fuzis atravessados no peito.

-Boa.-Os dois responderam ela.-Desejam alguma coisa?-Um deles perguntou.

Lúcia: Nós somos as novas moradoras.

-Manda aí um radinho pro chefe pra saber disso aí.-O mesmo cara que perguntou se a gente desejava algo, falou pro outro.

-Jae.-Pegou o radinho no bolso do short militar que tava usando e trocou umas palavras antes de se dirigir à nós.-Nomes.-Perguntou.

Lúcia: Lúcia e Mariana Andrade.-Falou ajeitando a subindo blusa de alça.

-Beleza, o chefe confirmou.-Falou pro outro lá e deram passagem.-Bem vindas.

Eu e a minha mãe agradecemos, perguntaram se não precisávamos de ajuda com as malas mas a gente disse que tava de boa e fomos subindo.

Começo a me arrepender de termos negado ajuda, se eu chegar na bendita casa sem desmaiar vai ser milagre. Tá um calor insuportável, o sol tá do caralho, chega a dar uma tontura que só Deus na causa...

-Porra.-Falei quando a minha mãe fechou o portão do nosso mais novo barraco. Subi a minha blusinha de alça e limpei o suor do rosto.-Deveríamos ter aceitado a ajuda.

Lúcia: Ainda bem que pelo menos a mobília eu já consegui trazer antes de ontem e limpei tudinho também.-Falou indo sentar lá no sofá.

-Você é incrível, dona Lúcia.-Me sentei também, pegando na mão dela.-A mulher mais forte que eu já conheci.-Beijei a mão dela e ela sorriu pela primeira vez nessa semana, e deu um beijo na lateral da minha cabeça.

Lúcia: Você que me fortalece, minha menina de ouro.-Deu um tapinha fraco nas minhas pernas e se levantou.-Vai tomar um banho, leva as tuas coisas pro teu quarto que eu vou ver se acho alguém pra me indicar onde fica o mercado.

-Não, mãe.-Neguei com a cabeça, você precisa descansar.-Eu posso fazer isso.-Ela na hora me olhou com aquele olhar que diz "eu mando e você obedece."-Levantei as mãos em forma de redinção e arrastei as minhas malas para o segundo quarto, onde tinha a mobília do meu quarto na casa anterior.

A casa é pequena mas muito aconchegante, dois quartos, um banheiro, sala e cozinha. Até que foi uma boa escolha pra quem teve que achar lugar pra morar em menos de uma semana.

Sentei na cama e o meu olhar foi pra foto em cima do criado mudo, tava eu e os meus pais nela. Foi inevitável não lacrimejar ao olhar para o sorriso do meu pai, ainda não acredito que ele se foi.

A gente morava no complexo da pedreira, tava tudo tão bem. Minha mãe e meu pai sempre batalharam pra não me faltar nada até que um dia foi um dos de frente lá em casa falando que o meu pai tava devendo muito e mataram ele, na minha frente.

Minha mãe tava trabalhando e quando chegou encontrou eu chorando com o sangue do meu próprio pai nas mãos e o corpo dele do meu lado.

Ela se culpa tanto por não ter notado que ele era usuário, eu também nunca notei nada de estranho fora as vezes que ele chegava muito tarde, e como se já não pudesse piorar, um dos de frente voltou lá mais tarde pra pegar o corpo dele e queimar como pagamento, nem um funeral deixaram a gente fazer.

Depois disso a minha mãe procurou desesperadamente por um lugar pra gente recomeçar, não aguentavámos mais olhar pra cara dos assassinos do meu pai e do jeito que a minha mãe perde a cabeça quanto tá puta... Eles iam acabar por matar nós duas.

𝐘𝐞𝐬𝐢𝐬𝐚𝐢𝐬𝐥𝐞𝐡𝐬.

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