Cinco - Um poodle

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   Não sei há quanto tempo estou sentada na calçada, encarando meus próprios pés. O vento frio sopra nos meus braços, forçando-me a abraçar meu corpo na tentativa de aquecer. Suspiro pela décima vez e a vontade de chorar retorna, deixando-me mais irritada. Eu não vou chorar. Me recuso a chorar por um idiota como ele! Repito essa frase várias vezes na mente, mas é inútil. A imagem do rosto perfeito e cheio de raiva de Park Hyun parece ter grudado no meu cérebro de maneira irreversível. Suas palavras cruéis também não param de ecoar nos meus ouvidos, dilacerando cada vez mais meu coração.

  — Idiota — sussurro e mordo os lábios com força para segurar as lágrimas. — Sabe o quanto me esforcei para vir até aqui?! — grito, na tentativa de extravasar minha dor. — Passei os últimos três anos da minha vida sonhando com você! E tudo para quê?

  Então não consigo mais segurar e começo a chorar compulsivamente. A lembrança de Park Hyun cantando para a paciente também vem à tona, e já não sei se estou rindo de sarcasmo ou chorando por ter sido tão estúpida, achando que ele era uma boa pessoa. Isso é culpa minha, por criar ilusões sobre uma pessoa que nem sequer conheço de verdade! O pior de tudo é que eu nem posso voltar para casa, minha mãe me mataria se soubesse que vim até aqui para conhecer um cantor. E um cantor idiota.

  Respiro fundo e enxugo as lágrimas com o braço. Chega, chorar não vai adiantar nada. É triste ver alguém que eu amava tanto se revelar ser uma pessoa sem coração, mas isso é o de menos diante dos problemas que tenho, como por exemplo... Para onde eu vou agora? Olho para o hospital atrás de mim. Até que é confortável, mas aposto que não vou poder ficar aqui por muito tempo. Também não posso pedir ajuda a Amanda, visto que ela vive no dormitório da faculdade. Se eu ao menos conseguisse entrar na faculdade... Me levanto imediatamente, como que fortalecendo minha determinação.

  — Eu vou entrar — falo para mim mesma, com firmeza. — Eu consigo, ou não seria a primeira e única a ganhar aquele concurso. E quanto a você... — Pego o Cartão Platino que está no meu bolso e o encaro com raiva. — Vai se arrepender por tratar um fã assim.

  Foram anos de dedicação a ele, não vou deixar sua grosseria tão barata! Jogo o cartão no chão com raiva e o mesmo desliza para longe por causa do declive da rua.

  — Oh meu Deus! — Corro atrás dele alguns metros, até recuperá-lo. — Aonde pensa que vai? Precisarei de você para a minha vingança.

  Coloco-o de volta no pescoço e só então percebo o carro que avança em minha direção. Ele freia antes de me acertar, mas acabo caindo no chão com o susto.

  — Ei! — grita o motorista, saindo do veículo imediatamente. — O que está fazendo?

  Olho para cima e vejo um rosto familiar.

  — Doutor?

  — Está querendo morrer? — continua com a bronca, me ignorando.

  — Eu? Foi você quem quase me atropelou!

  — Isso porque pulou na minha frente! O que estava pensando?

  Me levanto, me sentindo nervosa. Ele é lindo, mas também é um idiota. Quantos idiotas ainda vou encontrar?

  — A rua é pública, como motorista você deveria prestar mais atenção — respondo, estressada. — E além do mais, olha só o meu tornozelo, vou ter que ficar mais tempo no hospital por sua culpa. — Faço questão de mancar alguns passos na frente dele.

  — Por que está sendo informal? Sou bem mais velho do que você.

  Bufo e não respondo. Estou tão chateada com tudo o que aconteceu que esqueci de usar os honoríficos coreanos* (formas de tratamento que demonstram respeito).

Cartão Platino - Uma História Que É Um Verdadeiro DoramaOnde histórias criam vida. Descubra agora