Cinquenta e um - A carta

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  — E então Beatriz, como se sente?

  Respiro fundo antes de responder ao psicólogo, Dr. Kang.

  — Eu fiz o que o senhor disse e... bem, acho que deu certo.

  Ele se recosta em sua cadeira, aliviado. É notável a empatia que tem pelos pacientes.

  — Então você encontrou um meio de se sentir segura? — pergunta.

  — Na verdade, foi a presença de uma pessoa.

  Ele ergue os cantos da boca num sorriso travesso.

  — Parece que essa pessoa é muito especial.

  Afirmo com a cabeça e sorrio também, parecendo uma garotinha apaixonada. Pera aí, eu sou uma garotinha apaixonada.

  Enquanto isso, ele anota as conclusões em um caderno.

  — Isso é ótimo. Quando o coração está envolvido, a superação de qualquer trauma se torna mais fácil, sabia?

  — Sim, é incrível — respondo admirada.

  Depois de alguns minutos ele volta a falar.

  — Bem, parece que você encontrou um jeito de controlar a crise de pânico diante de situações difíceis. Mas e quanto ao assalto? Teve algum outro pesadelo sobre o ocorrido?

  Franzo a testa para pensar com clareza, então conto ao médico sobre o dia em que vi o rosto do criminoso na festa e como isso me afetou. Quando termino, ele tira os óculos e me olha com seriedade.

  — Sinto muito Beatriz, pode ser que tenha sido uma peça pregada pela sua mente, mas não há como ter certeza.

  — Entendi.

  Ele assente e volta a fazer anotações.

  — Algo mais?

  — Hum... Um dia desses tentei pegar um táxi, mas não consegui.

  — É mesmo? O que houve?

  Então explico a ele todos os detalhes de como me senti naquele dia.

  — Isso é bem comum em casos como o seu — diz, após me ouvir com atenção — Afinal, você passou por uma experiência bem ruim em um táxi. Eu particularmente nunca mais andaria de táxi se fosse você.

  Assinto com um meio sorriso, me sentindo bem por saber disso.

  — Só tem um problema doutor — resolvo falar, um pouco hesitante — Desde que a pessoa que me ajudou precisou se afastar temporariamente, eu me sinto inquieta e ansiosa, a ponto de nem dormir direito. O que isso quer dizer?

  Ele finge pensar seriamente na questão antes de sorrir largamente.

  — Quer dizer que você é humana e sente saudades.

  Suas palavras me confortam outra vez. É incrível como uma simples conversa pode ser poderosa para aqueles que precisam dela. Muitos não sabem disso, e é por isso que decidi me tornar psicóloga, porque eu sei.

  — Não se preocupe Beatriz, você progrediu bastante durante o tratamento. Se continuar assim, aos poucos as crises de pânico e até a fobia vão melhorar, até sumirem completamente. Então poderá desfrutar dessa vitória junto com essa pessoa que a ajudou.

  Imediatamente me lembro de Hyun e sorrio, grata por tê-lo ao meu lado.

  — É muito bom saber disso, obrigado doutor.

  * * *

  — Está quase na hora — falo, checando outra vez o relógio que fica na parede do meu quarto.

Cartão Platino - Uma História Que É Um Verdadeiro DoramaOnde histórias criam vida. Descubra agora