Bônus 1

203 14 16
                                    

Sete anos antes


  Fico batendo o lápis na boca, inquieta. A professora já está a meia hora fazendo uma explicação que parece ser importante, mas por mais que eu tente, não consigo me concentrar. Hoje é um daqueles dias em que não consigo parar de pensar na Bia. Minha amiga passou por tanta coisa e agora está tão longe... me pergunto se ela está bem.

  Depois da aula, resolvo ligar para ela, mas a chamada cai na caixa postal. Já faz uma semana que não nos falamos. É verdade que fui eu quem andou a evitando primeiro, mas na última semana tem sido ela. Isso me preocupa. Será que minha amiga descobriu tudo?

  Imediatamente afasto esse pensamento. Não tem como, só Park Hyun e eu sabemos a verdade, e nenhum de nós iria falar. Além disso, faz só dois meses que a Bia voltou para o Brasil, ainda deve estar difícil para ela.

  Passo o resto do dia tentando não me preocupar, mas é em vão. Por isso me sinto aliviada quando a aula acaba, e saio da faculdade com pressa. Não vejo a hora de chegar em casa para poder ligar para a dona Carol e... De repente alguém sai de trás de uma árvore e pula bem na minha frente, me assustando. Solto um grito de medo, mas paro quando vejo o rosto por baixo do capuz.

  — Park Hyun?! — arfo, chocada.

  — Shhh! — sussurra pedindo silêncio, em seguida faz sinal para que eu o siga. Pela sua pressa, percebo que ele quer sair do meio da aglomeração de estudantes na fachada do local, então obedeço.

  Assim que nos afastamos o bastante, ele para de andar e consigo ver seu rosto melhor. Ele tem bolsas escuras em baixo dos olhos, indicando que não tem dormido.

  — Annyong* (Oi) Amanda, tudo bem? — começa, a voz meio rouca.

  — Annyong... Você está horrível — falo sem querer, mas ele parece não se importar. Apenas assente, sem graça.

  — Eu sei.

  Uma pontada de dor atinge meu peito ao ver sua expressão tão triste. Penso em perguntar qual é o motivo da visita, mas é tão óbvio que resolvo apenas responder:

  — Ela está bem, não se preocupe.

  Park Hyun fixa os olhos em mim, ansioso.

  — Está mesmo? Que bom... E o que ela tem feito?

  Claro, ele está ansioso por notícias dela, por isso está aqui.

  — Da última vez que conversamos, ela me contou que estava começando a dar aulas online e que iria tentar entrar na faculdade do Brasil.

  Ele sorri, um sorriso de alívio tão sincero que rasga meu peito. Ai como é difícil presenciar o sofrimento alheio!

  — Sinto muito ter acabado assim — falo depois, enquanto caminhamos.

  Escuto ele suspirar antes de responder.

  — Não tinha outro jeito, foi pelo bem dela.

  Seu tom de voz sugere que ele disse isso mais para si mesmo do que para mim. Deve ser tão difícil! Sinto vontade de chorar por ele, mas me seguro.

  — Recebeu mais ameaças? — pergunto.

  Ele apenas balança a cabeça, negando. Continuamos o caminho em silêncio, mas depois de um tempo começo a me sentir agoniada. Está claro que ele não veio até mim só para perguntar se Beatriz está bem, ele quer falar sobre ela. Mas parece que sou eu quem vai ter que tomar a iniciativa nisso.

Cartão Platino - Uma História Que É Um Verdadeiro DoramaOnde histórias criam vida. Descubra agora