A casa na árvore

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Algo tinha mudado em Christopher. Por gostar dele, ainda que ele não percebesse, eu reparava bastante em absolutamente tudo relacionado a ele, e não era como se eu pudesse simplesmente ignorar. Eu sabia sua comida preferida, sua cor favorita e qual camisa ele sempre vestia, que inclusive, estava comigo já fazia um tempo porque eu, como uma boa adolescente apaixonada, estava usando de camisola. Ele nem sonhava com isso, talvez até pensasse ter deixado com Belinda, porque puta que pariu, pensa num garoto desorganizado. Era comum encontrar pés aleatórios de meias jogados pela casa, sua toalha molhada era sempre motivo para Alexandra puxar sua orelha, mas não resolvia.

A semana que os Peregrin passaram ali, eu poderia descrever como estranha. Eu não conseguia me sentir à vontade com Belinda, mas em contrapartida, Ignácio era muito divertido e depois de tanta lábia, ele conseguiu me arrancar alguns beijos. Ele era bonito e por estar jogando futebol, era bem mais malhado que Poncho, Eddy e até mesmo Christopher, o que chamava atenção da maioria das meninas do colégio. Eu sabia que sua lista de paqueras era gigantesca, e acabei me incluindo nela, apenas porque eu não queria passar as férias segurando vela pra ninguém e por que, claro, eu percebi que Christopher estava com ciúmes da gente. Depois de tanto tempo, eu finalmente consegui chamar um pouco de atenção dele e embora eu não pudesse demonstrar, estava feliz em ver que algo estava diferente nele.

No dia que Belinda iria para a Espanha, ela grudou em Christopher de uma forma que me deu nojo. Ele mal se aproximou de mim enquanto ela esteve ali e eu podia sentir o olhar dela me fuzilar mesmo que eu não estivesse nem mesmo pensando em Christopher. A maneira como ela o beijou para se despedir me deu ânsia de vômito, mas quando ela já estava dentro do carro, eu não pude evitar um sorriso maléfico. Ela estava literalmente indo para o outro lado do mundo e Christopher estaria ali pelas semanas seguintes, apenas para mim.

Nos primeiros dias, eu evitei fazer muito contato com ele, não queria deixar tão na cara que só estava esperando a namorada dele ir embora para me aproximar, mas não foi tão fácil também, porque ele tentava me cercar sempre e eu quase sempre precisava usar o meu lado mal-humorado para me livrar dele.

Era tarde da noite quando decidi ir tomar um ar fresco, Annie já estava dormindo, acreditava que a casa inteira estivesse. Eu saí do quarto em passos de gato, não queria acordá-la e foi difícil sair da casa sem que a madeira velha do piso rangesse.

Quando cheguei do lado de fora, Christopher estava sentado na beirada da piscina, todo molhado. Estava calor, mas nunca cogitei a possibilidade de ir nadar sozinha no meio da noite.

— Pelo menos aprendeu a nadar.

— Ai, Dulce, que susto!

Ele saltou para o lado colocando a mão no peito e fazendo-me dar uma risadinha. Ele me olhou e então arregalou seus olhos.

— O que está fazendo com minha blusa?

— Ops! — Fiz cara de quem havia sido pega no flagra. — Ela é confortável.

— Eu quero ela de volta.

— Vai ter que tirar de mim se quiser.

— Olha que eu tiro.

Cruzei meus braços e ergui uma de minhas sobrancelhas, fazer cara de deboche fora inevitável. Depois eu dei uma risadinha e saí dali, em direção à casa da árvore. Eu tinha boas memórias daquele local, Annie e eu costumávamos brincar sempre lá em cima, mas depois que começamos a crescer, servia mais como um local para fofocar que qualquer outra coisa, e durante essa visita, com certeza serviu muito para fazer coisas escondidos dos adultos.

Entrando ali, eu já fui me deitar no meio dos milhares de almofadas espalhadas no chão, sobre um carpete fofinho e como imaginei, não demorou mais que alguns segundos até Christopher chegar. Sem falar uma palavra sequer, ele parou à minha frente, se abaixou e sem hesitar, me beijou.

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