CAPÍTULO SETE - CHRISTOPHER

373 48 68
                                    

Sentado na cadeira não conseguia esconder o nervosismo. Do outro lado da sala, Alexia estava isolada, abraçava as próprias pernas e seu olhar parecia distante. Estávamos ali há algumas horas e ela estava brava comigo por autorizar a cirurgia. Eu sabia que quando acordasse, nossa mãe provavelmente entraria em desespero, mas ela era minha mãe e eu não podia deixá-la morrer, mesmo que tivesse que sacrificar uma de suas pernas por isso.

Fernando seguia na UTI ainda inconsciente. Ele havia quebrado tantos ossos no acidente que a probabilidade que ele volte a sequer se sentar sozinho algum dia, é baixa.

— Alexia, está tarde, tem certeza de que não quer ir pra casa?

Ela me olhou de baixo para cima, seu olhar era explicitamente de quem queria me matar. Eu não a entendia, o que podia ser mais importante que nossa mãe sair com vida daquele hospital? Eu deveria deixá-la morrer?

— Para de me olhar assim, você sabe que eu não gosto.

— Tanto faz.

— Tanto faz nada, eu ainda sou seu irmão mais velho e exijo respeito.

— Respeito. — ela deu uma risada sarcástica. — Christopher, você nunca mandou em mim, me poupe!

— Será que nem no leito de nossa mãe você consegue ser um pouco... humana?

— Vai pro inferno!

As pessoas ali presente nos olhavam e eu conseguia ouvir alguns cochichos. Alexia estava se portando feito uma criança, mas ela já era velha suficiente para entender a gravidade do assunto.

— Olha, eu estou tentando dar o meu melhor nessa situação, tá bom? Ela é minha mãe também, e o Fernando foi como um pai para mim. Não foi fácil tomar essa decisão e eu sei que ela vai ficar brava ou seja lá o quê quando acordar, mas eu não quero ter que enterrá-la.

— Você não a conhece mesmo, não é? A mamãe preferiria morrer a viver inválida.

— Viver sem uma perna não a torna inválida, Alexia! Para com isso.

— Droga, o que meus amigos vão pensar de mim? Uma mãe inválida, que vai ter que usar cadeira de rodas e um pai que provavelmente precisará usar fraldas. E a gente nem tem mais dinheiro pra pagar alguém pra cuidar deles.

Fiz uma careta, eu preferiria não ter ouvido isso. Aquilo me fez subir uma raiva tão grande que minha única reação foi ir até ela, agarrá-la por seus braços e fazê-la ficar de pé enquanto me encarava com seus olhos verdes assustados.

— Escuta aqui, eles são seus pais e te deram tudo a vida inteira, mesmo sem você sequer merecer. Eu não estou nem aí para o que seus amigos vão pensar e se você precisar trocar fraldas do seu pai e ajudar a sua mãe no banho, você vai fazer. A sua mordomia acabou, tá me ouvindo?

— Me solta, você está me machucando!

Soltei-a, eu estava com raiva. Toda a pressão em meus ombros nos últimos dias não tinha sido fácil e ainda tinha que lidar com uma adolescente mimada que estava mais preocupada com o que os amigos iriam pensar do que com a saúde e bem-estar dos próprios pais.

— Eu vou pedir pra alguém vir buscar você e te levar pra casa.

— Eu não vou.

— Você vai, porque se continuar na minha vista, eu não sei nem o que serei capaz de fazer.

— Você sabe que a culpa vai ser toda sua né?

— Sim, eu sei.

Eu me afastei dela, as pessoas na sala de espera me olhavam com cara feia, mas eles não faziam ideia de como era o desenrolar dessa história. Foi Annie quem foi buscá-la no hospital e a deixou no meu apartamento e eu permaneci ali pelas horas seguintes, até que por fim o médico deu notícias do andamento da cirurgia.

Destinos Cruzados | VONDYOnde histórias criam vida. Descubra agora