CAPÍTULO VINTE E SEIS - DULCE

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 — Acorda, baixinha.

A voz de Tony, parecia longícua, mas quando abri meus olhos, ele estava ali, parado à minha frente e se curvando para beijar minha cabeça.

— Estou com frio.

— Imagino que esteja. Você precisa tomar os antibióticos, tá bom? Sua febre não está baixando.

— Eu não quero. — Disse, antes de me encolher embaixo do lençol.

— Por favor, faz isso por mim.

— Tony...

— Por favor, eu te imploro. Sua infecção está muito mal, Dul. Eu sei que você não se importa, mas eu me importo, e acho que perder você para o seu namorado de infância já é suficiente perda.

Dei uma risada fraca. Como se perde alguém que nunca lhe pertenceu? Além do mais, até onde eu sabia, eu não tinha um relacionamento sério com ninguém, muito menos com Christopher.

— Se eu tomar, você me leva embora?

— Se você tomar, eu prometo que vou tentar, mas com a condição que você se trate até o final em casa.

Revirei meus olhos e ele deu um sorriso. — Isso é injusto.

— Não, não é. — Tony se virou, saltou e parou sentado na beirada da maca. — Eu preciso falar com você.

— Sobre?

— Eu conversei com o Christopher.

— Tá falando sério? — Ele assentiu. — Parece piada, não achei que vocês pudessem ter uma conversa sem ele te prender ou você dar um tiro nele.

Tony dessa vez deu uma risada gostosa, ele sabia que a probabilidade disso acontecer era grande.

— Dul, eu não gosto dele, de verdade, como você mesmo diz, minha vontade é de apagá-lo de vez da sua vida, mas você há de concordar que nós dois temos algo em comum. — Ergui minha sobrancelha, aquilo estava ficando engraçado.

— E o que seria? Porque pra mim vocês são completamente opostos.

— Nós dois amamos você e estamos dispostos a qualquer coisa para ver você bem.

Eu me calei. O meu relacionamento com Tony era algo que eu não sabia explicar. Vez ou outra a gente ficava, mas eu nunca deixei que passasse de algo casual, deixei isso claro pra ele, mas eu também sabia, que desde que nos conhecemos, há anos atrás, ele fluía sentimentos amorosos por mim. E quanto a Christopher, o sentimento até era correspondido, mas havia uma mágoa dentro de mim que eu nunca sequer tentei me livrar. Eu nunca fui capaz de perdoá-lo por ter me deixado de lado e priorizado o sentimento de Belinda, além de que existia o fato que eu não queria me ver ligada verdadeiramente a Alexandra, e, apesar de amá-lo, saber que o sangue que corre nas veias dele era o mesmo de Alexandra, me deixava com náuseas. Nunca falei com ele sobre isso e sabia que se algum dia eu falasse, talvez ele jamais quisesse voltar a olhar na minha cara.

— A gente entende que você tem seus traumas, seus medos e muito mais, mas nós dois pensamos a mesma coisa.

— O quê?

— Que já passou da hora de você procurar ajuda.

— E eu disse que preciso, por acaso?

— Você não precisa dizer para que a gente possa ver. Dulce, por mais que você pense que está tudo bem, não é nem de perto normal se punir por algo que passou há doze anos atrás.

— Eu não quero falar sobre isso.

— Tudo bem, não fale, mas pelo menos me escuta, tá bom? — Desviei meu olhar em direção à janela.

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