CAPÍTULO DEZENOVE - CHRISTOPHER

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Tateei o colchão ao meu lado em busca de Dulce, mas o espaço estava vazio e frio. O relógio digital na mesa de cabeceira, indicava três e cinquenta da madrugada, o que me deixou confuso.

— Dul? — Chamei por ela, mas ela não estava ali, ou se estava, não quis responder.

Saí da cama, vesti-me com minha calça que estava jogada no chão e fui procurar por ela. Os cômodos do andar de cima estavam vazios, com exceção ao quarto onde Alexia dormia, então fui procurar no andar debaixo. Uma luz amarela iluminava a parte inferior da porta que dava para o porão e à medida que eu me aproximava, conseguia ouvir golpes abafados.

Desci até lá e sua figura não demorou a se materializar na minha frente. Dulce vestia a minha blusa, seus cabelos, ao contrário do que sempre fazia, estavam soltos e úmidos suficiente para grudarem eu sua pele suada. Dulce não está equipada, suas mãos desprotegidas deferem golpes fortes contra o saco de bancada e esse se move de maneira violenta com o impacto.

— Dul? — Chamei-a, mas ela não pareceu me ouvir.

Dulce continuou a dar golpes. Dei a volta e fui até o outro lado, segurando o saco entre minhas mãos e tendo certeza de estar no centro de sua atenção. Dulce estava completamente suada, suas pupilas ainda dilatadas e sua respiração estava alta, como se o ar estivesse tendo dificuldade para entrar em seus pulmões.

— Dul?

Ela me encarou por alguns poucos segundos antes de voltar a socar o saco que ainda estava preso em minhas mãos. Eu tentei decifrar aquele olhar, e apesar de sentir que ela estava com raiva, havia algo diferente ali, algo que eu não conseguia decifrar.

— Dulce, para! — Soltei o saco e dessa vez eu a segurei pelos ombros. — Olha pra mim.

Não foi preciso mais que alguns segundos para eu sentir o quanto ela estava trêmula. Ela estava inquieta ao ponto de que suas mãos não paravam, ela mexia os dedos freneticamente.

— Está tudo bem?

— Não, eu estou com frio. — Sua voz saiu rouca.

— Frio? Você está suando.

Então eu a soltei e coloquei a mão em sua testa. Dulce estava ardendo em febre, isso explicaria o frio. Demorei alguns instantes para entender que ela não tinha se drogado, senão, estava tendo uma crise de abstinência. Já fazia alguns dias desde que ela tinha passado pela desintoxicação e eu tinha me esquecido completamente que isso poderia acontecer. Eu estava tão preocupado em jogar todas aquelas drogas fora, que não pensei que aquilo traria consequências físicas e psicológicas para ela, e eu estava completamente despreparado para isso.

— Vem, vamos lá pra cima, você precisa de um banho e tentar dormir.

— Não estou com sono.

— Mas pelo menos de um banho você precisa, tá bom? Vai ajudar você a relaxar.

Eu a levei para cima, Dulce permaneceu calada, mas a maneira como estalava os dedos das mãos, indicava que ela estava a mil por hora. O gemido de dor que ela soltou quando eu a enfiei embaixo do banho morno, era como se eu tivesse jogado ela num balde cheio de gelo. Não a deixei por muito tempo ali, porque ela parecia estar sofrendo. Então com meu auxílio, ela se enxugou e se vestiu com um moletom.

A deixei na cama e fui preparar uma sopa para ela, mas ela não comeu quase nada, porque começou a ter ânsia de vômito. Já estava clareando e ela ainda não conseguia dormir. Eu a mantive em meus braços, tentando acalmá-la pelas horas seguintes.

— Vai passar, eu prometo.

— Dói, Chris.

— Eu sei.

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