CAPÍTULO QUARENTA E TRÊS - CHRISTOPHER

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Sentei-me o lado de Zoe e fiquei ali em silêncio enquanto observava as pessoas passarem pelo corredor. Poucos dias antes eu estava ali, no mesmo lugar, esperando notícias sobre o nascimento do nosso filho e agora estávamos os dois ali esperando que liberassem o corpo sem vida de Christopher.

Zoe também estava calada, eu sabia que em sua mente ela se culpava, mas eu não. Se ela não tivesse aceitado fazer o parto, poderia ser que nesse momento estivesse esperando por dois corpos para enterrar, e não apenas um.

Ficamos ali um tempo considerável até que por fim o nos trouxeram uma pilha de papeis para que pudéssemos assinar e então, depois de ter feito tudo aquilo, nós dois entramos num consenso de que não queríamos velá-lo. Tudo que queríamos era um tempo a sós com ele antes de finalmente permitir que o enterrassem e foi isso que fizemos.

Naquela sala fria e de pouca iluminação, nos deixaram entrar e lá estava o corpinho dele, enrolado em uma manta azul clara. Ele era tão pequeno que nenhuma roupa lhe cabia, e aquilo era frustrante. Eu nunca poderia vê-lo em nenhuma das roupinhas que nós compramos.

Eu fiquei da porta temendo entrar, mas Zoe não hesitou. Eu a vi se aproximar de Christopher e demorou alguns segundos antes de se curvar sobre ele e começar a chorar. Seu corpo sacudia, era um choro de dor, de culpa.

— Eu sinto muito, filho, eu nunca quis isso... eu... eu fui egoísta, mas eu estava com tanto medo, eu não estava pensando direito.

Enxuguei o canto dos olhos, eu não queria chorar embora por dentro estivesse me corroendo. Aproximei-me dela e acariciei suas costas. Eu não consegui dizer nada, afinal, nada do que eu dissesse o traria de volta, então apenas me permiti ficar ali o observando, pela primeira vez pude ver com mais detalhes seu rostinho. Ele era tão delicado, e ainda que fosse novo demais, eu via certos traços de zoe ali, principalmente no formato de sua boca.

Zoe se levantou enxugando seu rosto.  — Ele se parece com você.  — Comentei baixinho.

Ela me olhou com um sorriso sofrido.  — Me perdoa?

— Está tudo bem, ok? A gente vai superar isso.

— Você acredita em Deus, Christopher?

— Sim.

— Você acha que Ele vai cuidar bem do nosso menino?

— Não tenho dúvidas disso, ele não pode estar em melhores mãos.

Zoe me abraçou e eu a acolhi em meus braços. Eu queria poder ter dito algo que reconfortasse, mas eu estava tentando em concentrar aquilo dentro de mim.

— A gente pode acabar logo com isso?

— Claro. Deixa só eu me despedir.

A minha despedida foi quase silenciosa. Apenas dei um beijo na pontinha minúscula do seu nariz e sussurrei. "O papai te ama." E saí da sala antes que eu desabasse. Era meu dever protegê-lo, mas eu não tive como, eu não pude ajudá-lo.

Quando conversei com o médico mais cedo, ele explicou que as enfermeiras disseram que ele apenas se foi. Não teve alteração cardíaca, não teve falta de ar, ele simplesmente parou sem sofrer, ele simplesmente se foi como se não tivesse que estar nesse mundo.

Depois que saímos dali nos encontramos com o carro da funerária no cemitério e lá, com as palavras de um padre, enterramos nosso filho no túmulo da família de Zoe. Doeu ver eles colocando o caixão naquele buraco e doeu mais ainda vê-los jogando terra por cima dele. Dentro de mim tinha algo gritando, pedindo que parassem, eu me sufocava cada vez mais vendo a quantidade de terra que estavam jogando em cima de alguém tão pequeno. Minha mente me traía com perguntas como "E se ele acordar? "E se ele precisar resp0irar? E se ele sentir frio? Ou fome? Quem vai ajudá-lo?"

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