CAPÍTULO SESSENTA E TRÊS - DULCE

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Sentei-me na beirada da cama e fiquei parada observando o local. Ao meu lado, uma toalha branca dobrada e uma cesta de boas-vindas com alguns produtos de beleza. Acariciei minha barriga, na esperança que Luna se mechesse um pouco, ao fim de que eu pudesse sentir que tenha alguma companhia, mas a verdade é que eu estava ali, numa casa de estranhos que se diziam ser meus amigos de toda uma vida. Anahi, uma loira de beleza encantável, Alfonso, seu marido, e duas crianças que eram carismáticas demais para suas idades.

Escutei duas batidas na porta e então ela a abriu sorrateiramente a porta, colocando apenas sua cabeça para dentro.

— Está tudo bem?

— Está sim. — Ofereci-lhe um sorriso. Ela olhou em direção à cama e viu que todo esse tempo estive sentada ali. — Eu já vou entrar para o banho, só estava pensando um pouco.

— Tudo bem. Você já está com fome? Normalmente a gente janta em vinte minutos, mas não precisa comer com a gente se não quiser.

— Eu vou sim, só preciso tomar banho.

— Tudo bem. O Christopher já deve estar chegando com suas coisas.

— Obrigada.

Ela voltou a me deixar sozinha, então peguei os produtos de higiene que ela tinha deixado ali e entrei no banheiro. Era tudo tão estranho, essa sensação de não conhecer nada nem ninguém me deixava frustrada.

Tomei um banho com tempo suficiente para lavar o meu cabelo que estava parecendo um esponja de aço engordurada. Eu queria poder pintá-lo, não sei se gostava muito da cor vermelha, me perguntava em que momento da minha vida tinha decidido pintá-lo da cor que estava, mas a verdade era que eu não queria aquilo, muito menos com uma raíz preta de pelo menos seis dedos de cumprimento.

Depois do banho me enrolei no roupão e quando saí do banheiro, tinha uma mala aberta em cima da cama com algumas roupas. Experimentei algumas, mas a verdade era que com a minha barriga enorme quase nenhuma serviu, então me vesti com um conjunto de moletom largo, penteei meu cabelo e saí do quarto, em busca do cheiro maravilhoso de comida que invadia todos os ambientes da casa.

— Tia Dul!

A menina mais nova de Anahi veio correndo, aparentemente foi a primeira a me enxergar parada na porta entre o corredor e a sala de estar. Como ela se chamava mesmo? Eles tinham falado o nome dela umas quinze vezes no pequeno momento que estávamos ali, porque apesar de pequena, parecia um furacão. Dei um sorriso enquanto ela se agarrava à minha perna, mas meu coração se apertou. Eu sabia que com o tempo minha memória seria a curto prazo, mas não esperava que teria problemas em gravas algumas coisas.

— Aí está ela. — Disse Anahi, sempre com um tom de voz dócil.

— A gente já pode comer, mamãe? — Perguntou Mateo.

— Claro, filho. Por que não leva a Julia pra lavar as mãos e a gente vai pra mesa?

Ele assentiu, veio até a menina e a levou consigo. Christopher veio até mim, estendeu-me sua mão e me ofereceu um sorriso. Agarrei sua mão e retribui.

— Preciso de roupas novas, um corte de cabelo e uma pintura nova.

— Vai sair do vermelho?

— Sim, não gosto disso.

— Tenho certeza que o que escolher ficará lindo.

— Eu conheço um cabeleireiro ótimo. — Disse Anahi, ficando empolgada. — Amanhã a gente pode ir lá.

— Pode ser.

— Ele não pode vir aqui? — Questionou Alfonso, um tanto sério.

Por um momento me questionei o por quê, mas dada toda a situação, apesar de frustrada, eu entendia. Eu também estava com medo de sair, mas ao mesmo tempo, queria ver a rua, ver pessoas, respirar um ar puro.

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