CAPÍTULO VINTE E DOIS - DULCE

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Depois de um banho, me sentei ainda enrolada na toalha, na beirada da minha cama. A luta que participei foi um tanto pesada e as marcas dos golpes que recebi, estavam explícitas em minha pele, principalmente nos braços, entretanto, aqueles golpes não doeram tanto quando descobrir, de uma maneira indesejada, que Christopher, depois de apontar que eu era uma assassina, iria ser pai.

Eu queria que aquilo não mexesse tanto comigo, mas a situação estava me deixando agoniada. A memória de um passado sombrio não me saia da mente, flashes do momento em que eu entrei naquela maldita clínica e permiti que fizessem o procedimento. Apesar de dopada, eu estava acordada o tempo todo e me lembrava bem daquela bacia cheia de sangue perto de mim e da maneira que aquele homem, que nem sei se era médico, jogava fora o que arrancava de dentro de mim.

Encolhi-me na cama abraçando meus joelhos enquanto sentia que a qualquer instante vomitaria o que tinha comido durante o dia. As lembranças não desapareciam e a voz de Christopher ecoava na minha cabeça fazendo-me querer gritar.

Duas batidas na porta me trouxeram de volta a realidade, eu não me movi, mas soube pelo ranger da porta que ele havia entrado. Senti, segundos depois a cama se afundar ao meu lado.

— Eu não quero conversar.

— Eu não sabia que ela estava grávida.

— Christopher, eu não quero parecer rude, mas não me interessa esse assunto.

— Não é o que parece.

— Você não é muito bom em interpretar como eu me sinto. — Levantei meu rosto e encarei o chão. — Por favor, me deixa sozinha.

— Dul...

Eu me levantei, eu não queria conversar com ele, não queria estar perto dele, porque apesar de ainda o amar, naquele instante eu o estava odiando. Comecei a procurar por alguma roupa e então optei por um vestido justo.

— Você vai sair? — Não respondi, mas com certeza eu iria. Precisava sair, espairecer, deixar aquela raiva presa dentro de mim sair, já que lutar não resolveu e para completar, um bebê me surgiu na história.

Voltei para dentro do banheiro e fui me vestir. Ali mesmo, fiz uma maquiagem rápida, o suficiente para disfarçar o roxo em minha pele e as olheiras, depois sequei meu cabelo e voltei para o quarto.

— Você não precisa disso.

— E quem você pensa que é pra dizer o que eu preciso, Uckermann?

— Sério isso? Você não quer conversar, finge estar bem, aí sai e se enche de drogas e álcool.

Peguei um sapato e me sentei novamente na cama para me calçar. — Quanto mais cedo você aceitar que aquela Dulce que você um dia amou morreu, mais rápido irá se recuperar do luto. Ainda que eu pare com as drogas, ainda que eu pare de ser quem eu sou, ela nunca vai voltar.

Levantei-me depois de me calçar e fui na direção da porta. Christopher se levantou e me seguiu, me segurando pelo braço. Eu dei uma risada fraca olhando sua mão ali.

— A última vez que alguém me segurou assim, eu quebrei o nariz com apenas um soco. Se fosse você eu me soltava.

Christopher me soltou, a decepção estava estampada em seus olhos. — Você vai mesmo pra balada? Se encher de drogas e o que mais? Sair pegando todo mundo?

— Se eu quiser, sim. A gente não tem nada, Christopher.

— Não?

— Não! E se você deseja ter um relacionamento comigo, sabe o caminho da rua.

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