Tony - POV Dulce

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Sentada no sofá eu observava o monte de brinquedo jogado pela sala enquanto Fernando, descontente, me dava uma bronca pelo fato de ter tirado notas baixas. Nos últimos meses, aquilo se tornou comum, e apenas passei para o ano seguinte porque ele não se permitiu passar pela vergonha de ter a filha repetente, mas eu não me importava. Desde que minha mãe morreu, eu fui de aluna exemplar à pessoa que não se importava com os estudos. Já não fazia mais o dever de casa, não conseguia prestar atenção na aula, isso quando eu comparecia a elas.

— Já terminou? — Perguntei, impaciente. Aquele discurso de que ele pagava caro pelo meu colégio não era o primeiro, e se dependesse da minha força de vontade de melhorar, também não seria o último. — Eu não ligo pra quanta grana o senhor gasta naquele lugar, isso não é problema meu.

— Dulce, sua mãe morreu já faz mais de ano, não acha que está na hora de superar e segui em frente? Seu pai trabalha demais para dar conforto a você, sua irmã e a todos nós, não dá pra fazer o mínimo?

Olhei para Alexandra que agora estava parada na porta. O olhar dela sobre mim era de total desaprovação, mas nada que eu não tivesse me acostumado.

— Primeiramente lave sua boca pra mencionar a minha mãe, Alexandra, e segundo, o que você tem a ver com isso?

— Respeito, Dulce! A Alexandra está tentando fazer um papel de...

— De mãe? A minha morreu e a culpa é de vocês dois, então não, eu não aceito esse projétil de puta tentando bancar a mamãezinha não.

— Dulce Maria!

— Deixa, Fernando, deixa!

— Mamãe, o que é puta? — Perguntou Alexia, chegando na hora inapropriada.

— Não é nada, filha, não escuta a Dulce, tá bom?

Rolei meus olhos quando Alexia me encarou e ela fez o mesmo. Não havia um dia sequer que nós duas não nos estranhássemos e mesmo ela sendo apenas uma criança, eu não conseguia sentir nada por ela, porque ela era a cópia exata da personalidade da mãe, sempre que podendo, me metendo em encrenca.

Já houve dia que cheguei na casa e ela estava no quarto mexendo nas minhas coisas e quando briguei com ela, ela saiu gritando falando que tinha batido nela, e embora fosse minha vontade, nunca ousei encostar um dedo naquela pirralha.

— Eu menti em algo? Sua mãezinha e meu paizinho se apaixonaram num cabaré, não foi? — Cruzei meus braços forçando um sorriso.

Alexandra não parecia contente e meu pai chegou à sua impaciência, apenas me pegou pelo braço e me levantou, irritado.

— Já para o seu quarto, só saia quando eu mandar.

— Ou o quê? Vai me bater também?

— Já vem ela com essa história.

Eu dei um sorriso sarcástico. Alexandra já havia me batido não uma ou duas vezes e o meu pai não acreditava em mim, então eu não podia fazer nada além de tentar me defender. As vezes que ela me encostou conta a parede no ano que se passou foram incontáveis e para piorar a situação, a única que conseguiu ver algumas cenas, era Alexia, e além de ela dar risada, mentia para o pai que aquilo havia acontecido.

Cheguei a dar passos na direção da escada, disposta a me trancar no quarto até a hora de sair para o colégio no dia seguinte, mas então Christopher chegou acompanhado de Belinda. O namoro deles estava meio inconsistente já fazia um tempo e embora a gente tivesse certa proximidade, eu não sabia exatamente o motivo. Eu gostava de Christopher, não negava e ele sabia, mas eu sabia que além de não ser correspondida, ainda não tinha chance de algum dia ficarmos juntos, pelo simples fato que eu queria fugir dali assim que completasse a maioridade. Ter contato com qualquer um daquela família, era como trair a minha mãe.

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