CAPÍTULO TREZE - CHRISTOPHER

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Enquanto observava o trânsito que bloqueava meu carro eu não conseguia de deixar de pensar no caos que minha vida tinha se tornado. A chegada de minha mãe piorou ainda mais a situação e por mais que eu me estressasse com ela, eu a entendia até certo ponto. Perder uma perna não era algo que eu queria e isso a deixou com um humor que eu desconhecia. Absolutamente nada que eu fazia estava bom para ela, a comida estava quente demais, faltava pimenta, ou a água não estava gelada o suficiente.

Minhas noites, momento que deveriam ter sido fáceis, não estavam sendo das melhores. Alexia se recusava a dormir na mesma cama que minha mãe e ela basicamente me expulsou para fora do sofá. Restou-me apenas um colchão de ar emprestado por um dos meus colegas de trabalho que eu colocava no canto da sala e ele não era nem longe, o mais confortável. Minha coluna, apesar de eu tentar me exercitar, parecia estar prestes a se aposentar. Toda essa situação me dava vontade de ficar o mais longe possível da minha própria casa, entretanto, eu temia que Alexia colocasse fogo na casa de novo.

Quando cheguei em casa, minha vontade de fugir apenas aumentou. Estava tudo bagunçado, na mesa, pratos vazios com resto de comida da última refeição, no sofá, cobertores que não foram dobrados e eu nem mesmo me atrevi a olhar o nível de desordem da cozinha.

Fui até o quarto onde minha mãe estava. Ela estava na cama, como sempre, mudando o canal da TV. Ela não fazia mais do que isso, mesmo o médico dizendo que seria bom ela andar com ajuda das muletas e ela só fazia isso para ir ao banheiro.

— Mãe, cadê a Alexia?

— Saiu.

— A senhora a deixou sair? Com toda aquela bagunça?

— Desde quando ela me escuta?

Suguei o máximo de ar que cabia em meus pulmões e o soltei gradativamente. Ela não tinha limites e a culpa era de ninguém menos da mulher deitada à minha frente, mas agora era tarde demais para ela tentar impor limites na filha.

— A senhora já comeu?

— Não estou com fome.

— Não pode ficar sem comer, ouviu o médico.

— Eu não me importo com o que ele diz. — Minha mãe se sentou e me olhou. — Você foi visitar o Fernando hoje?

— Não, não tive tempo e tenho um compromisso agora a noite.

— Não deram nenhuma notícia?

— Não. Se a senhora quiser, eu te levo lá no sábado, mas no meio da semana está apertado pra mim.

— Você está namorando?

— Não, eu não estou.

— Eu sinto falta de quando você falava de você, Christopher.

— E eu sinto falta de quando você realmente se importava com o que eu sinto, mãe.

Eu a deixei ali. Tanta coisa na nossa relação poderia ter sido evitada se ela tivesse sido um pouco mais gentil e menos ambiciosa. Eu poderia simplesmente me sentar e ter uma conversa sobre eu estar feliz por ter encontrado a menina, ou melhor, mulher que eu amava se esse mulher não fosse motivo para iniciar uma terceira guerra mundial n nossa família. Além do mais, mesmo acreditando que Dulce não tinha nada ligado ao acidente, eu sabia que os amigos dela tinha e no momento que eu mencionasse Dulce para minha mãe, ela com certeza ligaria os pontos. Dulce já tinha sofrido demais na vida, não era justo que ela pagasse por algo que ela não tinha culpa e não tinha pedido que acontecesse.

Antes de sair de casa, eu preparei algo para minha mãe e deixei na mesa de cabeceira. Queria sim que ela saísse da cama, mas a conhecia suficiente para saber que ela pirraçaria e não iria sair da cama para comer.

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