CAPÍTULO QUARENTA E UM - CHRISTOPHER

275 43 98
                                    

Ergui minha mão e fechei meus punhos na intenção de bater na porta, mas hesitei por um instante, ouvindo a conversa por trás da porta. Dulce estava dentro do quarto com a mãe e com o tal Victor. Eu ainda estava desnorteado com tanta informação, não estava preparado para aceitar o fato de que a mulher que me deu a vida e me criou tivesse mentido daquela forma para mim a minha vida inteiro, e o pior, tudo por dinheiro.

Eu amei sim que minha vida melhorou financeiramente, mas nenhum dinheiro no mundo supriu a necessidade que tive de ter um pai ao meu lado.

— Ouvindo atrás da porta agora?  — Ouvi a voz de Tony e dei um passo pra trás, tentando disfarçar.

— Eu já ia bater.

— Harram! Sei.  — Tony deu tapas leves nas minhas costas.  — Tá pesado, né?

— Eu estou bem.

— É, eu posso ver na sua cara que está, afinal, não é todo dia que você descobre que tem um pai e que não o conheceu porque sua mãe não deixou.  — Abri minha boca para contestá-lo, mas ele pousou a mão no meu ombro e fez sinal negativo com a cabeça.  — Tudo bem, eu te entendo, é difícil aceitar isso, você cresceu com uma visão da sua mãe e é difícil aceitar que ela não é quem você pensava.

— Não é isso.

— Não? Quer um conselho? Se não quer, vou dar assim mesmo: quanto antes você aceitar, melhor. Infelizmente as pessoas não vêm com estrela na testa, e mesmo pessoas que a gente ama, pode ser um monstro, sua mãe não é diferente disso.

— Se fosse a sua mãe, o que você faria?

— Minha mãe não fez essas coisas horríveis que a sua fez, então não posso te responder essa pergunta. Pelo contrário, mesmo meu pai sendo quem é e levando a mim e meus irmãos pro mesmo caminho, minha mãe sempre esteve com a gente, nos dando bons conselhos, o problema é que a gente não ouviu.

— Mas e se ela tivesse feito o que a minha fez?

— Eu não sei, você acha que deve perdoá-la? Olha pra Dulce, olha para a dona Blanca, olha para aquele homem lá dentro que está falando que é seu pai... olha pra você... você não precisaria estar nessa situação se ela sentisse algum remorso do que fez, nenhum de vocês e talvez eu nem mesmo tivesse conhecido a Dulce, e tudo bem. Se ela estivesse feliz, mesmo que eu nunca tivesse a conhecido, não teria que me preocupar diariamente se ela vai aguentar mais um dia.

— Eu sei disso...

— E o que pensa em fazer?

— Por um ponto final nessa história, por mais que me doa.

— Eu acho uma excelente ideia.

Tony me ofereceu um sorriso rápido e então bateu na porta. Eu me recompus, não queria que ninguém me visse quase chorando depois de ouvir conselhos dele, aquilo já era vergonhoso demais para mim.

Dulce foi quem abriu a porta, seus olhos estavam vermelhos como quem esteve chorando por um bom tempo.

— Tá tudo bem?  — Tony e eu perguntamos ao mesmo tempo.

— Sim, quer dizer, acho que sim. Vocês querem alguma coisa?

— Só queria saber se está melhor.  — Dulce sacudiu os ombros.

Ela estava tão pálida, a impressão que eu tinha era que ela desmaiaria novamente a qualquer instante.

— Por que você não desce até o restaurante comigo pra comer alguma coisa?  — Perguntou Tony antes que eu pudesse falar algo.   — Acho que o Christopher precisa conversar com o Victor.

Destinos Cruzados | VONDYOnde histórias criam vida. Descubra agora