Ajoelhada no chão, enquanto segurava o par de sapatinhos de bebê em minhas mãos, observava dolorosamente todos aqueles embrulhos de presentes que jamais foram abertos. Eu não precisava contá-los para saber a quantidade que havia ali, por que me lembrava perfeitamente de ter comprado um por um. Dez presentes para cada Natal, dez para cada Dia das Crianças e com certeza teria mais dez, se eu tivesse dado a oportunidade de saber a data do aniversário.
Fiquei ali um tempo, pensando na minha situação atual. Eu costumava entrar naquele quarto e ficar horas pensando no monstro que eu tinha sido, desejando que, em algum lugar, o filho que eu matei, tivesse me perdoado. Agora, além da memória que eu nunca fui capaz de apagar, também ecoava a voz de Christopher em minha cabeça e eu não podia deixar de me lembrar detalhadamente de como ele me olhou naquele dia.
— O que é isso? Uma espécie de santuário para o bebê que você assassinou?
Eu estava de costas e não vi quando alexia entrou ali. A vi dar a volta pelo cômodo, tateando cada embrulho de presente que ela alcançava enquanto dava um sorriso malicioso.
— Sabe, eu escutei vocês dois discutindo aquele dia. — A olhei de onde eu estava. Eu estava fraca demais para discutir, mas vontade de desfigurar aquele rostinho bonito, não me faltava.
Alexia pegou um dos embrulhos, era uma sacola estampada com estrelas. Senti meu sangue ferver, nem eu os tinha aberto, mas ela começou a abri-lo sem pensar duas vezes.
— Solta isso!
— Ai, não seja histérica, ele nunca vai poder abrir mesmo.
— Eu te disse pra soltar isso.
— Por um lado foi bom, imagina se o Christopher encontra você e você tem um filho com ele? Já me é o suficiente a sua existência, outra pessoa como você ligada ao meu sangue, seria demais.
Eu me levantei, a dor estava concentrada na parte de onde fui cortada, mas não era apenas ali. Cada parte do meu corpo doía e eu queria poder me vingar dos homens que me machucaram, entretanto, não tanto quanto eu queria destruir a garota à minha frente.
— Pra melhorar as coisas, você deveria ter morrido na mesa em que fez o aborto, ninguém sentiria sua falta.
Nesse momento eu já estava fora das minhas faculdades mentais e não houve dor que me impedisse de soltar os sapatinhos no chão e voar em cima de Alexia com tudo. Agarrei seu cabelo e a puxei para baixo com tanta força que ela não conseguiu evitar cair no chão. Em cima dela eu comecei a estapeá-la, usar o que restava de minhas unhas para arranhar seus braços e rosto.
— Ah, me solta! Socorro!!!
— Cala a boca que agora você vai me ouvir. — Sentei-me sobre seus braços, impedindo que ela se mexesse.
Alexia podia ser mais alta do que eu, mas eu passei meus últimos dez anos treinando para lutar, eu dei uma surra em dois marmanjos no meio da rua e ela não era nada se comparada a eles. Olhei no fundo de seus olhos, coisas que eu não tinha feito até então, então eu apontei meu dedo em seu rosto.
— Lave a sua boca para falar do meu filho, está me ouvindo? Você pode ter certeza de que eu não faço a menor questão de ter o sangue podre que você tem em um filho meu.
— Por isso o matou? O Christopher sabe disso?
— Você não sabe de nada, Alexia. Você é um demônio feito a tua mãe, já nasceu assim e está contaminada, não tem solução. Sua mãe é uma puta destruidora de lares e ela nunca será reconhecida como a verdadeira esposa do meu pai, sempre será vista com maus olhos e você sempre, sempre será a bastarda que nasceu de um relacionamento desgraçado como o deles.
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Destinos Cruzados | VONDY
FanfictionUnidos ainda crianças pelo casamento dos pais, Dulce Maria e Christopher se veem obrigado a conviver, compartilhando uma vida em família, mas a chegada da nova irmã deixa as coisas ainda mais difíceis. Dulce é afastada da mãe por seu pai egoísta, Ch...