CAPÍTULO TRINTA E SETE - CHRISTOPHER

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Tirei a chave do bolso e logo me coloquei a destrancar a porta. Dulce ao meu lado parecia impaciente, enérgica como quem dormiu ligada na tomada, entretanto, suas pupilas dilatadas me mostravam bem qual era sua fonte de energia. Eu tentei não demonstrar que estava desapontado, eu queria muito que ela parasse, mas não era eu quem conseguiria fazer ela tomar essa decisão e aceitasse eu ou não, não aconteceria da noite para o dia.

— O que exatamente tem aí dentro? — Perguntou ela me ajudando a levantar a porta.

— O que restou da casa, acho que agora que seu pai partiu, não tem mais por que ficar guardando tanto documento.

— E o que você acha que vamos encontrar aqui?

— Eu não sei.

Havia alguns poucos móveis amontoados ali dentro além de caixas com livros, utensílios e documentos que eu não me atrevi a jogar fora. A maioria das coisas tinham sido doadas e as que restou, foi por seletividade minha que acreditava que algum dia Fernando iria sair do hospital e iria tentar retomar sua vida.

— Mas que ótimo, não? Procurar por algo que nem mesmo sabemos o que é.

— Pelo menos temos onde procurar. — Dulce me olhou de lado, não ficou contente com meu tom de resposta, mas não tinha sido intencional. — Desculpa, eu só... eu estou tentando.

— Desculpa, Chris, eu é que estou estressada. Sabe que coisas relacionadas a eles me deixa assim, não é sua culpa.

Eu a abracei de lado e dei um beijo em sua bochecha. Dulce se afastou, eu não disse nada, não queria discutir e muito menos estressá-la ainda mais. A vi começar a procurar por algo que nenhum de nós dois sabíamos bem o que era, por um longo momento, tudo que se ouvia era barulho de gavetas sendo abertas, caixas sendo rasgadas – principalmente por Dulce que trazia consigo um canivete, - e folhas sendo manuseadas. Tentei me concentrar no que procurar, mas estava ocupado demais prestando atenção nela. Ela era tão pequena, tão delicada, mas tinha atitudes que não condiziam com sua aparência física e uma força que se eu não tivesse provado na pele, duvidaria que ela tivesse.

Passamos um bom tempo dentro daquele galpão minúsculo mal iluminado e com coisas amontoadas. Dulce procurava minuciosamente em tudo que podia, até que por fim pegou uma caixa cheia de papéis, sentou-se no chão perto da porta onde estava melhor iluminado e começou a folhear um por um.

— Está com fome? — Perguntei enquanto ela se mantinha concentrada nos papéis. Dulce sacudiu os ombros sem parar o que estava fazendo. — Eu vi um food truck na esquina quando a gente estava vindo, pelo tamanho da fila, deve ser famoso.

— Tanto faz, eu só quero encontrar alguma coisa aqui e sair desse lugar.

— Eu vou lá então, não comi nada o dia todo. Volto já, por favor não coloque fogo em nada.

Dulce ergueu seus olhos na minha direção, eu tentei fazer piada, mas pela sua afeição, ela não tinha achado a menor graça.

— Eu estou brincando. — Ergui as mãos, Dulce deixou escapar uma risada curta.

— Se tiver taco de cordeiro, eu quero.

— Tá bom.

Confesso que não foi fácil deixá-la ali sozinha, não porque eu não confiasse nela, mas por que sabia que por mais durona que fosse, tudo aquilo estava machucando ela. Demorei quase meia hora só pra comprar algo na esquina e voltar e quando voltei, Dulce estava ainda mais elétrica do que quando a deixei, agora sentada atrás de duas pilhas de papéis, os quais ela estava separando.

— Encontrou alguma coisa?

— A sorte do Fernando é que ele não está mais vivo. — Sua voz saiu trêmula, enraivada e eu não soube o porquê.

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