CAPÍTULO TRINTA E QUATRO - DULCE

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Depois de um longo tempo no quarto sob supervisão daquela mulher estranha, eu consegui me recompor por um instante. Saí da cama, tomei um banho e desci e para meu desgosto, Christopher ainda estava ali conversando com Annie. Eu os olhei, Annie me ofereceu um sorriso sem graça e eu ignorei, mais pelo fato de Christopher estar presente que qualquer outra coisa.

— Eu estou fazendo uma sopa pra você comer. — Disse ela entregando algo que parecia ser uma bolsa de gelo para Christopher. Eu não tinha reparado, mas ele tinha outras marcas de agressão além do soco que eu havia acertado, acredito que no nariz dele.

— Eu não estou com fome.

— Dul... você precisa comer, não pode fazer greve de fome pra sempre.

— Eu não estou fazendo greve, só não estou com fome.

— Você está fraca, quando foi que conseguiu comer algo pela última vez?

— Eu não estou contando. Eu vou sair, volto logo.

— Não, você não vai. O Tony disse que você não pode ficar sozinha.

— Não se preocupem, eu não vou tentar pular da ponte ou me jogar embaixo de um ônibus. Tenho coisas mais importantes pra fazer antes disso.

Annie contestou, mas eu a ignorei. Eu era a dona daquela casa, era adulta e podia ir onde eu quisesse sem ter que dar explicações a ninguém, então eu simplesmente entrei no meu carro e parti.

Foi óbvio que enquanto eu dirigia estava sendo seguida por Christopher que não parecia sequer tentar esconder que estava fazendo aquilo, mas também não me importei. Eu o olhei pelo retrovisor e dei uma risada fraca. Se ele soubesse o meu destino e a minha intenção, ficaria bem longe para não ter que presenciar de perto.

Dirigi por alguns longos minutos até estacionar no hospital. Christopher, claramente fez o mesmo, mas ao contrário de mim, não saiu do veículo. Eu entrei no prédio, fui até a recepção e solicitei, sem dificuldade alguma, a visita ao filho da puta que doou o espermatozoide para minha mãe. Com minha identidade em mãos e o nome dele ali, eles não puderam me impedir de entrar, afinal, inegavelmente, eu era filha legítima daquele desgraçado.

Fui conduzida por um enfermeiro até a UTI onde ele se encontrava. Ele estava ligado a inúmeros aparelhos e ficou claro que sem eles, Fernando não conseguiria se manter vivo. Fui até a ponta da cama próximo aos pés dele e parei ali. Fiquei muito tempo o olhando e embora eu não dissesse nada alto, minha mente estava praguejando tudo quanto era possível para ele.

— Com licença, você deve ser a senhorita Espinosa, estou certo? — Perguntou um médico entrando ali.

Eu sacudi meus ombros, não estava muito a fim de falar sobre mim, senão do destino dele. — Se vocês desligarem o aparelho, ele sobrevive?

— Infelizmente, não.

— Então eu quero que façam isso.

— Perdão?

— Há atividade cerebral?

— Desculpe, a senhorita quer que desliguemos os aparelhos que estão mantendo o seu pai vivo? — O olhei, o médico parecia confuso. Tanto tempo mantendo-o ali e do nada eu chego e peço para que desliguem.

— Eu sou filha dele, acredito que posso dar essa autorização, não?

— Na verdade o conjugue dele tem autoridade sobre isso, mas por que não conversamos melhor sobre isso?

Eu ri sem vontade, só me faltava essa, Alexandra tinha esse direito e eu não? Parecia piada.

— Eu pago essa bosta desse hospital, e esse vegetal não merece ficar ocupando um leito que pode servir para alguém que realmente precise. Além do mais, olha só pra ele, acha que ele vai sobreviver? Estou gastando dinheiro atoa e vocês, recursos e tenho certeza que os órgãos dele terão maior utilidade em quem realmente tenha mais que uma carcaça para sobreviver.

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