CAPÍTULO TRÊS - CHRISTOPHER

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Apoiei a bolsa de gelo contra a lateral do meu abdômen e fiquei observando Poncho jogado no chão com Mateo e a pequena Júlia. Ele e Annie haviam se casado há quase oito anos e não demoraram muito a conceber Mateo, já Júlia, nasceu há menos de dois anos e eu não sabia dizer qual dos dois eram mais bonitos. Júlia era toda serelepe, era a cara da mãe, seus olhos azuis e cabelos loiros eram idênticos, mas Mateo já era uma junção dos dois. Eu via o olhar de Annie nele e os traços delicados também, mas seu cabelo era negro como o de Poncho e seus lábios e nariz também tinham se saído à ele.

Annie seguiu na sala um tempo depois, ela trazia chás e biscoitos servidos em uma bandeja. Ela os deixou na mesa de centro e então foi até seus filhos, pegando Júlia no colo.

— Hora de dormir, crianças.

— Mas já? — Contestou Mateo e ela assentiu.

— Mimi não mamãe.

— Dormir sim, meu amor. Já está na hora de criança ir pra cama e o tio Chris tem que conversar com o papai, tá bom? Por que não se despedem dele?

Pedro, como todo garoto de sua idade veio e se despediu com um soco em meu ombro, soco esse, que por mais leve que tivesse sido, me fez ir do céu ao inferno em segundos.

— Pedro! — Anahí o repreendeu e eu ri de nervoso.

— Desculpa tio, Chris.

— Você tá forte hein. — Baguncei seus cabelos. — Tudo bem, tenha bons sonhos.

Júlia apenas soprou beijos de longe, da maneira que ela sabia, claro, depois Annie foi na direção dos quartos e então Poncho se sentou. Eu via em sua face um misto de sentimentos.

— Não me olhe assim, você sabe que eu precisava ir.

— Eu só queria dizer bem-feito. Na próxima, não vá sozinho, a gente trabalha como uma dupla pra quê?

— Poncho, era pessoal, tá bom? Além do mais, se você tivesse ido, estaríamos os dois nesse estado, senão, pior.

— É, e a Annie não quer ficar viúva ainda, mas me conta, como ela está?

— Ela está... diferente.

— Diferente como?

— Em tudo.

Eu expliquei a ele detalhadamente o que havia acontecido, desde o local secreto e com certeza ilegal no fundo do bar à situação de Dulce. Ela estava fria e a única coisa dela que eu conseguia perceber ainda estar igual, era o olhar totalmente sem brilho. Ela estava mais forte fisicamente falando, porque estava lutando, pelo menos foi o que vi antes de me levarem para dentro daquela sala e quase me matarem, mas apesar de sua força física e de sua dureza emocional, eu sabia que lá dentro ela precisava de ajuda.

— Então ela está bem? Quer dizer, não está correndo perigo? Ela esteve bem todos esses anos? — Perguntou Annie que havia se juntado à gente no meio da conversa.

— Ao que parece, melhor do que a gente. — Dei uma risada fraca. — Ela mora numa mansão gigantesca sozinha e tem dois seguranças enormes na entrada da casa. Os muros são tão altos que precisaria ser profissional para entrar lá.

— Caramba.

— Isso me preocupa, eu não sei até onde a Dulce está metida em coisas erradas.

— Você acha que ela está envolvida com tráfico de drogas?

— Tráfico de drogas é a minha menor preocupação. — Fitei o chão.

Eu tremia de pensar que Dulce poderia estar envolvida com tráfico humano, aquilo quebraria todo sentimento que eu tinha por ela, toda a esperança de vê-la um dia bem.

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