CAPÍTULO TRINTA - DULCE

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Peguei o balde de pipoca, abracei-o com um dos meus braços e me coloquei a comer. Eu estava faminta, esperei por horas para Christopher chegar, mas não vou negar que gostei da ideia. A última vez que pisei em um cinema, tinha sido com ele e nos últimos anos, me recusei completamente a voltar em um por justamente porque as memórias machucavam.

Fiquei vidrada no telão, tudo ali estava incrivelmente evoluído. As cadeiras estavam mais confortáveis, a tela estava maior e nem se fala na qualidade do vídeo.

— Você se lembra quando a gente assistiu o segundo filme? — Perguntei baixinho, tentando não incomodar as pessoas dentro da sala.

Christopher e eu assistimos as duas versões de Toy Story nos anos noventa, e agora estava no ar o terceiro volume, onze anos depois da última. Quando ele me chamou para o cinema, até pensei que iria rolar alguma coisa ali, mas eu estava interessada demais em saber a continuação de um dos meus filmes favoritos da adolescência, já Christopher, que nos primeiros minutos pareceu interessado, acabou dormindo antes da metade do filme e eu só percebi isso quando ele não respondeu a minha pergunta e segundos depois soltou um ronco tão alto que eu me assustei e derrubei metade da pipoca no chão.

— Filho da puta! — Xinguei, tentando me recompor.

Ouvi algumas risadas. A sala não estava tão cheia e talvez isso fez com que pudesse ser ouvido numa maior distância.

Apesar da vergonha, confesso ter sentido pena. Christopher saiu de casa ainda estava amanhecendo, ele não devia ter parado um minuto sequer e ainda se sacrificou para me levar ao cinema e tentar ter um tempo diferente comigo.

Deitei minha cabeça em seu ombro e automaticamente a sua caiu sobre a minha, apoiando-se ali, então assisti meu filme quieta enquanto ele dormia profundamente ao meu lado. Só fui acordá-lo quando o filme acabou e acenderam as luzes. Christopher tinha os olhos vermelhos, parecia confuso enquanto eu tentava juntar a pipoca que no susto, deixei cair.

— O que houve?

— O que houve? — Perguntei, logo comecei a rir. Aquilo tinha sido constrangedor.

— Não entendi.

— Você apagou.

— Eu só fechei meus olhos um segundo. — Olhei para trás, como ele tinha coragem de falar isso?

— Christopher, você até roncou. A sala inteira te escutou, e não estou brincando. A pipoca caiu com o susto que tomei, você engoliu um porco no trabalho, foi?

Terminei de juntar e então saímos da sala. Fomos os últimos porque eu não queria deixar a bagunça ali.

Eu dirigi na volta porque apesar de ele insistir, eu não quis me arriscar. Christopher estava cansado demais para que eu o arriscasse no volante. Já no carro eu contei para Christopher o que ele havia perdido e ele jurava de pé junto que ele tinha sim visto o filme e que apenas tinha tirado um cochilo leve. Ele me fez rir, porque não estava disposto a dar o braço a torcer.

— Vamos comprar algo pra comer? A pipoca não me sustentou.

— Claro.

Optamos por parar em um restaurante fast-food porque já estava tarde e a maioria dos restaurantes estavam fechando e esse, em específico, só fechava as duas da manhã. Pedimos os lanches e na hora que Christopher foi pagar, o cartão não passou. Pude ver o completo constrangimento em seu rosto. Tentaram de novo, mas novamente recusado, tentaram um segundo e a mesma coisa e eu pude ver, que sua carteira estava completamente vazia.

— Chris, tudo bem, eu pago.

— Não.

— Christopher, não me faça brigar com você, tá bom?

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