CAPÍTULO TRINTA E DOIS - DULCE

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Apoiei meu braço sobre a mesa e com o auxílio da minha boca e da minha outra mão amarrei a borracha em volta dele. Peguei a seringa ao lado e sem pensar duas vezes, injetei a heroína em mim.

Depois que finalizei, eu me recostei na cadeira e fechei meus olhos, permitindo que a adrenalina tomasse conta do meu corpo. Eu não estava conseguindo dormir a noite e acabei indo parar ali no meio da madrugada quando tive certeza de que não teria mais ninguém e como eu conhecia o local de cabo a rabo, não tive dificuldade em encontrar algo para aplicar em mim.

Esperei que o efeito viesse a tona e então fui para o ringue, onde comecei a espancar o saco, tentando deixar toda minha raiva ali. Enquanto eu lutava com um saco de areia, minha mente vagava longe num mosto de risos e lágrimas. Era como se todas as minhas memórias mais recentes se misturassem às lembranças do passado, aquilo me deixou um tanto confusa.

— Dulce! — Ouvi a voz, mas veio como um eco e impossível de reconhecer a quem pertencia.

Olhei em volta procurando pelo dono da voz, mas não tinha ninguém ali. Eu estava sozinha e com certeza, à beira da loucura. Pisquei algumas vezes e então tentei me concentrar no que eu estava fazendo. A raiva dentro de mim era tanta que eu sentia que iria explodir a qualquer segundo. Leu sangue fervia, meu coração batia tão rápido que machucava e eu sentia um grito preso dentro de mim.

Depois de tanto tempo socando aquilo, eu já não tinja mais forças para me segurar, então eu apenas cai de joelhos e fiquei ali, inerte, pelas horas que se passaram. Apenas me dei conta que estava amanhecendo quando alguém entrou, acredito que era alguém da limpeza e essa pessoa, a qual naquele instante não fui capaz de reconhecer, ficou me olhando de longe por um tempo e logo saiu.

Apesar de eu perceber as coisas ao meu redor, tudo estava lento demais para que eu conseguisse reagir. Vi um dos seguranças se aproxima, ele perguntou algo, mas sua voz se perdeu ao vento e como não me mexi, ele tentou me levantar, mas eu me esquivei. Foi preciso Tony chegar, um bom tempo depois, para tentar me ajudar. Ele se ajoelhou à minha frente e eu sabia que ele tinha lido a minha mente.

Quando ele me encontrou no dia anterior para me avisar o que tinha feito com Alexia, eu disse a ele que Christopher se zangaria e que provavelmente brigaríamos, mas eu não imaginava que ele iria ficar tão bravo a ponto de ir embora.

— Você não precisa dele, eu estou aqui com você.

Então uma única lágrima escorreu pelo meu rosto. Uma só, depois de tanto tempo sem chorar, eu não consegui evitar. Tony me abraçou e me manteve acolhida ali pelo tempo necessário, como se quisesse me proteger do mundo.

— Eu... eu não posso mais, Tony. Eu cansei.

— Não fala isso, por favor.

Eu não falei mais nada e não quis ficar ouvindo. Enxuguei o rosto e me levantei, estava tão cansada de viver com esse sentimento ruim dentro de mim. Eu achava que poderia conviver com isso, mas Christopher me fez ter uma dose de algo bom e o que eu sentia antes, agora estava machucando.

Tony me seguiu até minha sala e alo ele viu a seringa em cima da mesa.

— Quanto você usou?

— O suficiente.

— Dulce, você sabe que não deveria usar isso.

Dei uma rosada fraca. — Você não se importou nas primeiras vezes, não é?  — Minha voz saiu um tanto rude, mas me arrependi no instante seguinte. A última pessoa do mundo que merecia sentir a minha fúria, era Tony.

Com toda paciência do mundo, ele fechou a porta e veio até mim. Tony me segurou pelos ombros fazendo com que eu o encarasse.

— E não tem um dia que eu não me arrependa de ter te apresentado isso. Eu achei que poderia te ajudar, mas a verdade é que eu só ajudei a destruir ainda mais.

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