CAPÍTULO DEZESSEIS - DULCE

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Risadas se espalhavam pelo ar e a imagem da minha mãe em preto e branco se formou à minha frente. O detalhe em seu rosto era exatamente como eu me lembrava, e, apesar de suas olheiras de quem não dormia direito há muito tempo, ela mantinha um sorriso de quem estava aproveitando aquele momento comigo.

Estávamos na cozinha da nossa casa, eu me lembrava daquele dia em que estávamos tentando fazer pão doce caseiro e o motivo de sua risada era por eu ter me sujado inteira de trigo tentando sovar a massa do pão. Por um instante olho-me no reflexo da tampa do fogão e vejo que meu reflexo é de quando eu tinha apenas treze anos, o que me confunde tanto quanto eu estar enxergando tudo preto e branco.

Minha mãe não fala mais nada, apenas se afasta e vai procurar uma toalha para tirar o excesso daquele pó branco na minha cara, mas enquanto ela se afasta, a imagem preto e branco se torna em um tom sépia, clareando cada vez mais, até que uma luza forte tivesse dissolvido todo o ambiente à minha volta. A claridade era tanta que não resisti em fechar meus olhos, e quando os abri, a imagem era completamente diferente.

Havia à minha volta tantas pessoas que eu não consegui contar no primeiro instante, e aos poucos consegui me dar conta de que estava no hospital.

— Ela voltou! — Exclamou um dos homens, acredito que era um dos médicos.

Tentei dizer algo, mas tinha algo preso em minha garganta. Tentei me mover, mas meu corpo estava pesado demais para que eu pudesse ter o menor controle dele.

— O que foi que você fez? — Perguntou o médico em tom de repulsa.

Ele era velho, e não me era estranho. Era como se eu o conhecesse de algum lugar, mas fazia muito tempo que eu não pisava em um hospital.

Voltei a fechar meus olhos, não era como se eu pudesse controlar o que o meu corpo fazia, e então, eu adormeci. O tempo que se passou foi de um completo silêncio e paz que eu não tinha, provavelmente, desde que estava no útero da minha mãe e eu desejei ficar presa ali para sempre, entretanto, não passou de algumas horas de sono.

Quando acordei, eu estava em um outro quarto, acompanhada apenas pela máquina que marcava meus batimentos cardíacos. Já não tinha mais um tubo na minha garganta, mas ela ainda estava dolorida, assim como minha cabeça que parecia ter levado uma pancada. Demorei algum tempo até conseguir me lembrar do que tinha me levado ali e então um flash back me trouxe a memória dos minutos de terror vivido. Desde o instante em que meu coração começou a se acelerar, até o gelo em minhas juntas pela falta de sangue em minhas veias. Foram poucos minutos de agonia, mas eu senti a morte bater na minha porta. Eu conseguia ouvir, como ecos, a voz de Christopher tentando me trazer à vida, como se eu estivesse consciente todo o tempo até eu ser teletransportada para a cozinha da minha casa alguns anos antes, acredito, que ali seria minha passagem para o outro lado da vida.

— Chris? — Chamei, mas ele não apareceu.

Sentei-me na maca, arranquei o soro que estava ligado ao meu punho. Manter-me firme sobre minhas pernas no primeiro impacto, foi complicado e precisei de alguns segundos para me recompor, e quando o fiz, caminhei lentamente para fora do quarto. O corredor estava vazio, se eu não estivesse ouvindo algumas vozes aleatórias vindo de outros quartos, até pensaria que ainda estava dormindo e aquilo era alguma espécie de sonho.

Caminhei alguns metros, vi alguns outros pacientes em outros quartos, a maioria com acompanhantes, o que significava que eu poderia sim ter alguém no quarto comigo. Quando virei a esquina, eu encontrei a recepção daquela ala, onde apenas a secretária estava e ela estava tão vidrada em seu computador que não notou minha presença ali.

Continuei meu caminho até o elevador e então, pouco depois, me vi no andar principal e ali tinha muita gente, dentre eles, Christopher, que ficou confuso ao dar de cara comigo.

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