CAPÍTULO VINTE E UM - CHRISTOPHER

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De dentro do carro observo os alunos correrem na direção da escola na tentativa de se esconderem da chuva. O tempo estava feio, as nuvens derramavam uma chuva pesada e trovoadas saiam abafadas. Encostei minha cabeça no banco e fiquei ali, pensando na minha situação atual.

Eu tinha anunciado meu apartamento para venda e depois da minha briga com Dulce na noite anterior, eu não podia mais ficar ali. Eu queria conseguir entendê-la, mas o fato de ela não demonstrar nem um pouco de remorso com o que fez, me deixou muito irritado, além do mais que existia o fato de que ela mentiu para mim. Eu perguntei a ela sobre o quarto, se ela teve um filho e ela não disse a verdade.

Foi preciso que Alfonso me ligasse perguntando eu estava para eu voltar a mim e então me dirigi ao trabalho. Quando cheguei lá, ele estava concentrado nas inúmeras provas do caso em andamento.

— Até que enfim, dormiu mais que a cama, é?

— Não. — Limitei-me e fui me sentar.

— Está de mal humor?

— Não quero falar sobre isso.

— Ok. — Ele me empurrou umas fotografias. Eram fotos do local onde o corpo do bebê foi encontrado.

Peguei-as nas minhas mãos e comecei a analisar, mas nada ali parecia estar ligado ao crime.

— Ligaram do laboratório, confirmaram que o bebê não tinha uma semana de vida ainda. — Fiz uma careta, aquilo era tão cruel. — Provavelmente o jogaram assim que nasceu.

— Eu vou encontrar quem fez isso.

As horas se passaram, eu não me movi da cadeira, estava disposto a analisar detalhadamente cada coisa ali. Havia um ódio dentro de mim que eu não conseguia conter.

— Eu vou almoçar, você vem?

— Eu não estou com fome. — Respondi, sem sequer o olhar.

— Ok.

Poncho saiu e eu permaneci ali. Ver as fotos daquele corpo tão indefeso me deixou com náuseas, ele era tão pequeno, como alguém conseguia fazer isso? Não era mais fácil entregar num hospital para adoção?

Peguei o telefone e liguei para o IML, tudo o que sabiam era que era um menino ainda com o cordão umbilical que morreu de frio e fome dentro de uma caçamba de lixo. O máximo que puderam coletar foram amostras de DNA, mas encontrar alguém compatível numa cidade cujo volume habitacional na atualidade era de quase nove milhões de pessoas, era como procurar uma agulha em um palheiro.

— Ainda está aí? — Perguntou Alfoso, voltando do almoço, uma hora depois. — Você não parou nem pra tomar café, você sempre toma.

— É só que... isso não foi justo.

— Não, não é, assim como todos os outros casos que a gente já pegou nos últimos anos.

— É diferente.

— Claro! Como se não houvesse casos bizarros de corpos de crianças encontrados aqui no nosso amado país. — Alfonso saiu da sala novamente, mas dessa vez voltou em questão de minutos, trazendo consigo um copo com café e colocando-o em frente a mim sobre a mesa. — Não tome as coisas tão pessoal, ou você vai enlouquecer.

— Não estou.

— Jura? Vai, me conta, o que rolou? Você chegou atrasado e agora está agindo como se esse fosse o pior caso que você trabalhou em anos.

— Nada.

— Nada?

O vi ir se sentar em sua cadeira. Alfonso cruzou seus braços e me olhou em silêncio, ele me conhecia, sabia que tinha algo errado.

Destinos Cruzados | VONDYOnde histórias criam vida. Descubra agora