Sentada da cadeira do escritório consigo observar a movimentação lá embaixo. Uma luta ocorre no ring, dois dos nossos melhores lutadores disputam enquanto as pessoas do lado de fora gritam, vaiam e torcem para que a pessoa pela qual apostaram, ganhe a luta.
Eu já tinha entrado ali algumas vezes e a maioria das vezes, saí campeã. Era como se lutar fosse parte de mim, e mesmo que eu não tivesse o porte físico de muitas lutadoras, eu tinha força e agilidade. A última vez que entrei no ring, eu quase matei a mulher, ela chegou a ir parar no hospital e aquilo me deixou, de certa forma, assustada. Eu não entrava ali porque queria machucar alguém, e as poucas vezes que aceitei, foi porque estava em momentos de fúria.
— Ei, não vai lá embaixo? — Perguntou Tony entrando na sala.
Semicerrei meus olhos em sua direção e não demorou muito a entregar que havia feito merda. Sua afeição o denunciava, eu sabia que o que tinha acontecido com Alexandra e Fernando tinha algo a ver com ele.
— Por que fez aquilo?
— Foi só um aviso.
— Aviso? De quê?
— Aquele cara tá trabalhando pra polícia, Dulce. Ele sabe onde estamos e...
— Então você resolveu tentar matar aqueles dois lá pra tentar assustá-lo?
— Ele voltou a te procurar?
Peguei uma caneta e comecei a rabiscar algo num pedaço de papel. "Aquele cara" não só tinha voltado a me procurar, quanto tinha passado a noite comigo. Tony se aproximou, deu a volta na mesa e puxou minha cadeira, virando-me de frente pra ele.
— Eu devo lembrar você do que aquela família fez a você?
— Eu não preciso que me lembre disso. — Dei de ombros. — Não se preocupe, eu não pretendo me envolver com eles.
— Ai, Dulce, fala sério! Eu vi nos seus olhos o quanto ficou abalada quando o viu no chão aquele dia.
— Mas é claro que fiquei. O Christopher foi alguém importante pra mim, mas isso foi há dez anos atrás. Não podia permitir que executassem uma pessoa que nunca me fez mal, além do mais, você sabe minha opinião sobre esse tipo de coisa. Drogas é uma coisa, assassinato é completamente diferente.
— Você sabe que ele só está vivo ainda por sua causa, né?
— Sim. Não se preocupe, ele não está procurando saber o que rola aqui dentro, ele só estava me procurando, mas já dispensei ele.
— Quero só ver, quero só ver.
Tony se afastou. Nos últimos anos Tony tinha sido meu chão. Todas as vezes que eu me sentia fora de mim, ele me firmava novamente. Foi ele quem me treinou, foi ele quem me ajudou a me erguer e a entender que eu não precisava de ninguém. Eu fui acolhida ali dentro, e por mais que não fosse algo dentro da lei, eu tive um carinho que jamais recebi na casa onde cresci. Ele esteve comigo todas as noites que tive pesadelo com Alexandra e Fernando, ele não soltou a minha mão em nenhum momento e isso criou uma relação muito forte entre nós dois. Nunca tivemos um relacionamento, mas também seria mentira negar que nunca ficamos juntos, o negócio era que eu estava disposta a focar em mim, então, qualquer pessoa que eu me relacionei nos últimos anos, foi por puro prazer.
— Estão querendo que você lute na semana que vem.
— Oi?
— Dulce, você sabe que enche a casa e a gente tá precisando.
— Sem chance! Eu disse que não vou fazer isso sempre.
Tony me olhou, seus olhos imploravam por isso. — Você pode ter o que quiser.
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Destinos Cruzados | VONDY
FanfictionUnidos ainda crianças pelo casamento dos pais, Dulce Maria e Christopher se veem obrigado a conviver, compartilhando uma vida em família, mas a chegada da nova irmã deixa as coisas ainda mais difíceis. Dulce é afastada da mãe por seu pai egoísta, Ch...