CAPÍTULO CINQUENTA E NOVE - CHRISTOPHER

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Tomei mais um gole de whisky enquanto observava minha aparência desgastada no espelho do bar. Eu estava sentado ali naquele bar quase vazio, me recusando a ir para a casa porque era muito difícil estar naquele lugar enorme sem a presença de Dulce ou sem mais ninguém no local, já que Blanca e Victor estavam escondidos na casa dos pais de Annie, uma vez que Blanca se recusou a sair do país sem a filha e Victor não sairia sem ela, e Alexia estava ficando na casa de uma amiga.

Nos últimos dias eu estava preso num loop infinito, meu chefe me proibiu de entrar no trabalho uma vez que, palavras dele, "eu estava atrapalhando a investigação" e o máximo que eu conseguia receber era informações privilegiadas. Os dias estavam se passando, não havia nenhuma pista de onde ela poderia estar ou se mesmo estaria viva e eu temia que, como muitos outros casos, iriam arquivar por falta de provas.

Olhei na direção da TV, era horário do jornal, mas até mesmo ele tinha se cansado de perguntar "Onde estava Dulce Maria?". Por dias e dias eu via seu nome estampado em jornais, cartazes espalhados pela cidade e ouvia seu nome na TV e nas rádios, mas a cada dia que se passava, menos se falava, como se as pessoas simplesmente estivessem se esquecendo do desaparecimento dela e de como o governo e a polícia ignorava o crime em nosso país.

— Mais uma dose, por favor. — Pedi ao barman.

— Não precisa.

Eu ouvi a voz de Poncho antes de ele se sentar ao meu lado. Dei uma sutil olhada e então virei o restante da bebida que restava em meu copo.

— O que faz aqui?

— Me disseram que estava aqui acabando com sua vida. Quanto disso já tomou?

— Que vida? — Perguntei gesticulando para o barman me entregar o meu pedido e ignorando Poncho.

— Christopher, você precisa reagir.

— Eu não tenho uma vida, não tenho o porquê reagir.

— Christopher... não faz isso com você.

— A minha mãe que eu tanto respeitei a minha vida inteira é uma criminosa sem escrúpulos, a mulher que eu amo foi sequestrada grávida e provavelmente está morta e eu tinha acabado de enterrar o meu filho e para melhorar a situação eu não posso nem mesmo entrar no meu próprio trabalho e tentar descobrir onde ela está. E quer mais? Eu passei a minha vida inteira acreditando fielmente que eu não tinha um pai e descubro que não só tenho, mas que fui impedido de viver uma vida inteira com ele porque ele foi trancafiado em um hospício sem precisar estar lá. A minha vida foi uma mentira e quando parece estar começando a entrar na linha, explode uma bomba, então não me peça para não fazer isso comigo.

Poncho ficou em silêncio enquanto eu desabafava, ele sabia que eu precisava por aquilo para fora. Apoiei meus cotovelos na bancada e escondi meu rosto em minhas mãos enquanto chorava, o sentimento dentro de mim era tão forte que doía, estava insuportável sentir as batidas do meu coração.

Ele passou a mão em minhas costas, tentando me apoiar e então me abraçou. Nunca fomos de contato físico, mas naquele momento eu não me importei, eu precisava que alguém me abraçasse, que me passasse que fosse um pouco de confiança.

— Eu não sei se a gente vai conseguir encontrá-la, não posso prometer isso, mas sei que a gente está aqui pra você. Tá doendo pra todo mundo, Christopher, eu sei que o que sente por ela é diferente do que a gente sente, mas todos nós a amamos e a queremos de volta.

— Eu sinto que... eu sinto que não vou aguentar.

— Você vai, você não está sozinho.

— Eu a pedi em casamento, Poncho, e ela disse sim. Você tem noção do que significa pra eu saber que os planos que eu estava fazendo para o nosso futuro simplesmente não se concretizarem? Eu nunca vou vê-la num vestido de noiva, eu nunca mais vou vê-la sorrir, nunca mais poderei abraçá-la.

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