CAPÍTULO SESSENTA - CHRISTOPHER

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Annie se abaixou à minha frente e segurou meu queixo com seus dedos. Seu olhar úmidos transmitia tristeza e pena. — Você precisa se trocar.

Eu neguei. Eu não conseguia me mover dali, Dulce estava há horas na cirurgia e a única notícia que tivemos era que ela precisava urgentemente de sangue, e somente pessoas do mesmo tipo poderiam doar, para nossa sorte, Blanca era compatível.

— Christopher, você não pode ficar assim, precisa de um banho.

Olhei mais uma vez para minhas mãos, o sangue já estava seco, parte dele eu tinha limpado em minha calça. Voltei a olhar para Annie, ela enxugou a lágrima que escorrera em meu olho.

— Eu não quero que ela morra.

— Nenhum de nós dois queremos.

— Eu devia ter atirado antes.

— Christopher, você fez o que pode, por favor, não se destrua assim.

Annie teve muito trabalho para me convencer em me levantar e tomar um banho, ela tinha levado uma troca de roupa de Alfonso para o hospital para que eu pudesse me trocar e entendi o motivo de tanta insistência quando me vi no espelho. Tinha tanto sangue em mim que ficava difícil me reconhecer, poucas partes do meu rosto estavam intocadas e aquilo era assustador. Não bastasse a ansiedade do momento de não saber se Dulce ia ficar bem ou não, ainda tínhamos que lidar com policiais nos interrogando o tempo todo, como se fazer perguntas àquela altura do campeonato, mudaria algo.

Depois de tantas horas preso dentro de uma sala privada de espera, minha impaciência já estava no limite, e ver todos ali com cara de velório estava me irritando extremamente. Eu estava prestes a sair dali e invadir a ala cirúrgica quando o médico entrou na sala tirando sua touca e máscara. Todos paramos virados em sua direção, ninguém ousou dar um pio e aqueles poucos segundos de silêncio entre sua chegada e começar a falar, durou uma eternidade.

— A gente conseguiu remover a bala. Tivemos algumas complicações durante a cirurgia, mas de alguma maneira que não entendemos, ela sobreviveu.

— O senhor está dizendo que ela está viva?

Ele assentiu. Minhas pernas fraquejaram, eu caí de joelhos no chão e me permiti chorar, eu não estava conseguindo acreditar.

— Mas infelizmente o estado dela é grave e não sabemos quando ou se ela vai acordar.

— Minha filha está em coma? — Blanca perguntou e ele confirmou.

— A bala entrou diretamente pelo ouvido, o que significa que ela terá danos permanentes na região.

— Ela não vai mais ouvir?

— Não pelo ouvido atingido. — Ele parou por instante e então continuou a atualizar. — Não sabemos dizer até que ponto houve dano cerebral.

— E... e o bebê? — Perguntei temendo a resposta. Dulce estava tão frágil, tudo que ela tinha passado era extremo.

— O bebê vai ficar bem. Com os cuidados necessários, vamos tentar recuperar o desenvolvimento necessário. Dulce apresenta um caso severo de desnutrição e desidratação, mais uma vez eu ouso dizer, não sabemos como ela sobreviveu.

— E ela estar em coma não afeta?

— A gente vai dar o melhor tratamento possível e se ela não acordar até lá, vamos apelas para uma cirurgia. Eu não posso prometer que a paciente sobreviva depois de tudo isso, mas vamos fazer o que tiver no nosso alcance para trazer essa criança ao mundo.

Eu queria me sentir feliz com aquela notícia, mas ainda tinha um peso em minhas costas. Não sabia se eu queria vê-la em uma cama pelo resto da vida, perdendo meses, anos de uma vida que ela nunca viveu realmente, entretanto eu sabia que ela estava lutando rigorosamente para sobreviver, ninguém que tivesse desistido, estaria vivo no lugar dela e a julgar pelo momento que a encontrei, era sobre o bebê. Mesmo sofrendo com a dor, mesmo sem conseguir falar, ela me deu a última mensagem de cuidar do nosso filho.

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