17

1.6K 129 1
                                        

Naquela manhã seu corpo todo doía, ela se recusava a sair da cama.

Convencida de que não ficaria na cama com um dia bonito lá fora - era o primeiro sol que estava vendo, desde que pisou naquelas terras enlameadas - Trish entrou no banheiro.

Uma semana havia se passado desde a visita de Dilyan.

Muitas outras coisas aconteceram, dentre elas, Jacob e ela estarem cada dia mais conectados, era impossível não querer estar perto quando o outro estava longe.

Jacob passou a se ausentar clandestinamente das rondas por alguns minutos para poder ficar com ela, maratonando sua nova série favorita The Originals.

A ida a Port Angeles três dias atrás, lhe renderam boas risadas, a descoberta de novos sentimentos que ainda estavam a ser avaliados por seu subconsciente, sem mencionar suas roupas novas.

"Assim você não corre o risco de contrair uma pneumonia". - esse foi o argumento usado por Jacob para convencê-la a comprar roupas menos escandalosas e chamativas.

Ela só deixou-se convencer porque queria mesma sair da rotina monótona e inovar.

- Trish, eu tenho uma coisa para te dizer e... - titubeou Sam, assim que ela desceu o último degrau da escada.

Não ia rolar nenhum bom dia?

Pela protuberância do homem, o assunto parecia sério.

- O quê foi, Sam?

- É sobre sua mãe.

Ela bufou e revirou os olhos.

- Eu não quero saber.

- Mas você precisa. - a voz e a expressão de Sam tomaram a proporção de seriedade.

- Tá, então diz. - indagou ela, cruzando os braços.

- Dilyan não contou a ninguém, mas havia descoberto sobre um câncer em fase avançada no pulmão...

Trish não acreditou de imediato, Dilyan sequer fumava.

- Pegadinha à essa hora do dia? - perguntou, achando graça. - Achei que não gostasse disso.

- Eu não estou brincando.

Sua ficha logo caiu, assim como seu sorriso desapareceu.

- Quer dizer que... - o nó que se formou em sua garganta a impossibilitou de dizer algo.

- Eu sinto muito. - disse Sam.

Seus olhos marejaram numa velocidade preocupante.

- Minha mãe...

- Eu sinto muito, querida. - lamentou Emily, tocando seu ombro.

- Não sinta. - bradou Trish, recuando sob o toque da mulher. - Você não têm que sentir nada. Você não a conhecia, não sabia nada sobre o que eu passava dentro daquela casa com aquele dois. Vocês não precisam sentir nada. - e com essas palavras ela sumiu porta à fora.

- Trish! - gritou Sam, preocupado com o que ela poderia vir a fazer.

- Deixa ela. - murmurou sua mulher.

O sol ardia em sua cabeça e em sua pele, enquanto ela corria na direção da casa de Jacob, só ele poderia acalmá-la naquele momento.

Apenas ele acalentaria seu coração vazio e despedaçado.

O aperto, o calor, a segurança e proteção que sentia sempre que ele a abraçava, era unicamente inexplicável.

Jacob beijou sua cabeça e a acariciou, enquanto os dois se mantinham em silêncio sentados no sofá, ambos encarando a TV desligada.

A garota soltou um suspiro sofrível.

- Ela podia ser um maldita egocêntrica, mas era a droga da minha mãe... - Jacob permaneceu calado, ouvindo seu desabafo revoltado. - Eu sei, ela nunca me deu a atenção que eu merecia, mas, poxa, ela podia pelo menos ter... - Por quê isso está acontecendo comigo? Sou tão fadada à infelicidade assim? - queixou-se.

- Você é mais incrível do que pensa, Green.

- Eu não sei o que aconteceria comigo se não tivesse com você, sem meus amigos, na certa eu estaria tendo uma overdose... Minha vida toda levando uma vida miserável, numa família de mentira, num lar destruído... O tempo todo estive sozinha, abandonada por todos, mas eu me sentia bem de alguma forma...

- Eu nunca vou te abandonar, Green. - a garantia de Jacob serviu para arrefecer o que restava de um coração batendo dentro de seu peito.

🍁🪦🍁

A cerimônia foi demorada.

Toda Stanford abalada pela perda, apesar dos pesares Dilyan era referência de empoderamento para a população da cidade.

Até mesmo os maridos infiéis que tiveram casos com ela e suas esposas traídas, estavam presentes.

Trish estava o tempo todo embalada pelos braços de Jacob, que se recusava sair de seu lado por maior que fosse sua necessidade fisiológica.

Sam e Emily estavam conversando com Bruce O'Brien - seu pai, ou o que ele deveria ter representado nesses 17 anos em sua vida.

Ao menos ele teve a condescendência de não trazer consigo sua amante, destruidora de lares.

Trish encarou com angústia a sepultura da mãe, diante de seus olhos.

Que ironia.

Tudo tinha de haver um propósito, ela só desconhecia sua origem.

Um trecho de sua vida passou diante de seus olhos, todas as brigas, os xingamentos, os insultos, todas as queixas, tudo lhe serviram para se tornar quem ela era hoje - uma mulher benevolente.

"Que grande ensinamento, Dilyan." - disse em pensamentos, enquanto encarava a lápide. - "Eu te deveria um muito obrigado, mas você se foi muito antes de eu cogitar pronunciá-lo... Em todo caso, esteja você onde estiver agora, espero que esteja feliz por ver no que se tornou sua filha viciada."

Jacob a trouxe de volta à realidade com um beijo cálido no ombro.

- Temos que ir.

- Quero passar em um lugar antes.











PERPÉTUA - JACOB BLACKOnde histórias criam vida. Descubra agora