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Ela odiava sentir aquela droga de dor.
Era como se seu útero fosse torcido e distorcido numa frequência absurda de três segundos.

Nessas horas, em Stanford, ela acenderia um baseado e assim relaxaria, mas seu estoque estava vazio e ela estava sem grana disponível.

Uma bolsa de água morna viria bem a calhar, mas seu corpo se negava a sair daquela cama. Nenhuma posição parecia confortável, qualquer uma que escolhesse seu ventre detestava.

Foi em um maldito dia desses, no período de seis dias em um mês que Trish gostaria de ter recebido os conselhos e cuidados de sua mãe, mas ela sempre estava ocupada demais.

Foi no maldito dia de escola que ela precisou da ajuda de sua mãe, mas ela estava ocupada demais dando para algum cliente casado — quando se levantou da carteira naquele dia de aula, uma garota de cachos grossos e negros a alertou para a pequena mancha avermelhada no assento, para sua sorte os alunos estavam aflorados demais e focados em correr para a saída que nem se deram conta. A loira que estava com a de cabelos cacheados tirou a jaqueta e deu para ela amarrar na cintura, enquanto limpavam o assento da cadeira
— se os garotos vissem aquilo, aquela poderia ter sido a pior humilhação de sua vida.

Ela se lembra que fugiu da escola com Nikki e Allexya naquele mesmo dia, indo direto para a casa de Nikki se trocar. Foi ali que de verdade nasceu a união do trio. Trish nunca se esqueceria do que elas fizeram por ela.

Seu coração sentia falta das duas maluquinhas, nessas horas elas estariam juntas comendo as melhores trufas de chocolate que a mãe de Allexya fazia.

Trish sentiu seu celular vibrar ao seu lado e o pegou para atender a videochamada.

— Oi, pandinha. — a voz suave, o rosto lindo com maçãs proeminentes, o sorriso incrivelmente alinhado e branco, o loiro rebelde pelo vento de sua melhor amiga surgiram na tela, dando-lhe um certo alívio.

— Oi, Allex. Você pareceu ler meus pensamentos.

— Você está nos seus dias, né? — observou a outra, fazendo biquinho.

  Trish sabia que pela expressão de sua amiga ela estava preocupada.

— Uhum. Detesto isso. — resmungou. — Ser mulher já não bastava?

— Com certeza bastaria. — concordou a outra com pesar. — Eu te levaria trufas e ervas, mas estou em Londres agora.

Trish sentou-se num rompante de olhos arregalados.

Isso explicava o cachecol e as luvas.

— Londres?! — inqueiriu, sentindo um pontinha de inveja.

— Sim. Lembra do passeio que faríamos no meio do semestre? Anteciparam e escolheram Londres como destino.

— Ah, merda! — xiou a Uley, caindo de costas no amontoado de cobertores. — Que bom para vocês. Onde está a Nikki?

— Nem queira saber. — disse a outra aos risos. — Falando no diabo...

— Hey, baby! — vibrou a morena de gorro cobrindo os cachos grossos, a dona do sorriso mais radiante que Trish tanto adorava. Nikolette — Estou na terra da rainha Elizabeth!

Nikki era uma lunático na velhinha quase centenária, rainha da Inglaterra.

— É claro que está. Cuidado ao cruzar com uma velhinha de chapéu e roupa combinando no semáforo, pode ser ela. — zombou Trish, rindo.

— Eu estou ligada nisso. — confirmou a outra, mesmo sabendo que era brincadeira.

— Não fode! — grunhiu Allexya, olhando para alguém além do celular.

PERPÉTUA - JACOB BLACKOnde histórias criam vida. Descubra agora