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O dia amanheceu cinza, o sol progredindo a oeste, tentando dar início a seu trabalho, aquecer os corações frios de mais uma manhã fria.

Dali a pouco ele tinha de ir à agência, seu âmbito ao qual estava mais que acostumado.

Aquela poderia ser mais uma das deveras manhãs com as quais ele lidava rotineiramente, mas desta vez nada estava bem.

Até o oral matinal que sua companheira quis lhe pagar parecia errado para ele, após rejeitá-la minuciosamente Bruce O'Brien levantou-se da cama e trancou-se no banheiro.

Sentou-se no chão e inclinou sua cabeça para trás, encarando o teto, sentindo suas costas em contato com o azulejo frio.

Tudo estava errado.

A aliança em seu dedo esquerdo arremetia-lhe exaustão, culpa, remorso, assim como a mulher hoje deitada em seu leito significava imprudência, infidelidade - foram 18 anos de casamento jogados na lixeira.

Hoje, aquele aço forjado parecia trucidar seu dedo e pesar de um modo significante e incômodo.

Um mês havia se passado desde a partida repentina dela, sua morte ainda era algo delicado e ao mesmo tempo pesado para ele.

Insistentemente hoje, algo pairava sobre sua cabeça. O aniversário de sua filha - àquela a quem sempre imaginou nunca lhe deixar faltar nada, àquela que miseravelmente precisou dele e sua covardia o cegou.

Ela estava fazendo 18 anos e ele sequer sabia do que sua filha gostava.

Ainda parecia que foi ontem que ela brincava de boneca, que se sentava a seus pés enquanto ele estava ocupado trabalhando ou que se prendia as pernas da mãe.

Ah, se ele pudesse voltar no tempo - deletaria todos seus deslizes.

Embora pudesse modificar seu passado, Bruce tinha a ciência de que seu presente não seria o mesmo.

Ele estava moldado a uma vida de proscrastinação, passou sua vida inteira sempre deixando tudo para depois, incluso sua filha, sua esposa, seu casamento.

Assim a culpa hoje o amargurava, ele estava preso a sua própria armadilha, refém de sua escolha maldita.

Embora nem em tudo ele tivesse culpa - Bruce não buscou pelo adultério, ele optou por isso achando que era a saída crível.

Ele teve ciência de que seu casamento estava perdido, a falta de comunicação foi ficando cada vez mais escassa, ele podia contar nos dedos as poucas vezes em que faziam sexo, a cumplicidade se esvairindo aos poucos, até ambos se conciliarem de que nada mais podia repará-lo.

A relação passou a esfriar a ponto de ambos não sentirem mais o mesmo tesão de antes, quando a terceira gestação de Dilyan fora interrompida brutalmente.

Na época, Bruce não tinha ciência da gravidez da esposa, sabia apenas que estava exausto das brigas banais, das mentiras, dos insultos, cada vez mais lhe pesando nas costas - em outras palavras, ele já não aguentava mais ter que carregar aquele casamento sozinho, não fazia sentido continuar uma relação com uma mulher que dia após dia o humilhava.

Entretanto, Dilyan nunca teve essa decência que todos achavam que tinha, ela nunca contou aos tablóides da cidade sobre suas tantas infidelidades que lhe cometeu, apenas sabia apontar seus erros.

Quando Bruce descobriu sua traição ele quis matá-la, quis fazer com ela o que um psicopata faria com sua vítima, o que um marido traído faria com sua esposa infiel, mas não, ele apenas sentou-se na poltrona habitual ao lado da cama da filha que na época tinha seis anos de idade e respirou fundo - ela não tinha culpa da mãe que tinha, nem do pai covarde.

PERPÉTUA - JACOB BLACKOnde histórias criam vida. Descubra agora