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∞︎︎

Estou com calor, muito calor. Tento tirar as cobertas, mas não consigo. Quando abro os olhos, a noite anterior volta com tudo à minha mente:
Jungkook gritando comigo no quintal, seu hálito de uísque, os cacos de vidro na cozinha, Jungkook me beijando, gemendo quando o toquei, sua cueca
molhada.

Tento me levantar, mas ele é pesado demais. Sua cabeça está apoiada no meu peito, e seu braço envolve minha cintura, mantendo seu corpo
colado ao meu. Não sei como fomos parar nessa posição.

Ele deve ter feito isso enquanto dormia.
Sou obrigado a admitir que não quero sair da cama, não quero sair de perto de Jungkook, mas é preciso.
Tenho que voltar para meu quarto. Jongin está lá. Jongin... Jongin!

Empurro Jungkook com cuidado pelo ombro, fazendo-o se deitar de barriga para cima. Ele vira de bruços e solta um resmungo, mas não acorda. Com gestos apressados, fico de pé e recolho minhas roupas do chão. Como o covarde que sou, quero estar longe dali quando Jungkook acordar. Não que isso faça diferença para ele. Na verdade, só vai
poupá-lo do trabalho de gastar energia me magoando de propósito para eu ir embora.

Assim é melhor para nós dois. Apesar do tanto que rimos juntos ontem, tudo fica diferente à luz do dia.
Jungkook vai se lembrar do quanto nos divertimos e vai sentir a necessidade de ser ainda mais grosseiro para compensar. É isso que ele sempre faz, mas dessa vez não vou estar por perto. Por um segundo ontem à noite cheguei a pensar que talvez aquela experiência o fizesse mudar de ideia e querer passar mais tempo comigo. Mas sei que isso é
impossível.

Dobro sua camiseta, guardo na gaveta da cômoda e visto minha bermuda. Minha camisa está toda amarrotada depois de passar a noite no chão, mas essa está longe de ser minha maior preocupação no momento. Calço os sapatos e, quando ponho a mão na maçaneta, me pego pensando:
Uma última olhadinha não vai fazer mal. Olho de novo para Jungkook, que está dormindo. Seus cabelos despenteados se espalham pelo travesseiro e seu braço está caído para fora da cama. Seu rosto está lindo e pacífico, apesar dos piercings cravados na pele. Eu me viro e abro a porta.

- Ji? -
Meu coração dispara. Viro-me com
movimentos lentos, à espera de ver os olhos implacáveis de Jungkook me encarando, mas eles estão fechados. Apesar da testa franzida, ele ainda está dormindo. Não sei se fico aliviado por
isso ou abalado com o fato de ele ter dito meu nome enquanto dormia. Foi isso mesmo que ele fez ou agora também estou ouvindo coisas?

Saio do quarto e fecho a porta silenciosamente atrás de mim. Não faço ideia de como sair da casa. Vou andando pelo corredor e felizmente consigo
encontrar a escada sem dificuldade. Quando começo a descer os degraus, quase dou um encontrão em Namjoon. Meu coração se acelera quando tento encontrar alguma coisa para dizer.
Seus olhos esquadrinham meu rosto, mas ele permanece em silêncio, à espera de uma explicação, talvez.
- Namjoon ... Eu... -Na verdade, não faço ideia do que dizer.
- Você está bem? -, ele pergunta, preocupado.
- Estou, sim. Você deve estar pensando que... -
- Não estou pensando nada. Agradeço muito por ter vindo. Sei que não gosta do Jungkook, mas sua presença aqui foi fundamental para mantê-lo sob controle. -
Ai, ele é tão bonzinho. Bonzinho até demais. Quase chego a sentir vontade que ele me diga que está enojado porque passei a noite aqui, deixando meu namorado sozinho no meu quarto depois de pegar seu carro e vir socorrer Jungkook, só para poder me sentir tão culpado quanto deveria.
- Então você e Jungkook são amigos de novo? -, ele pergunta, e eu dou de ombros.
- Não faço ideia do que somos. Nem sei o que estou fazendo. É que ele... ele... - Caio no choro.
Namjoon envolve em seus braços e me oferece um abraço afetuoso e acalentador.
-Está tudo bem. Sei que às vezes ele é terrível -, Namjoon diz baixinho.

Espera aí... ele deve pensar que estou chorando porque Jungkook me maltratou. Não deve nem imaginar que estou chorando por causa do que sinto por Jungkook.

Preciso ir embora antes de arruinar o bom juízo que Namjoon faz de mim e antes que Jungkook acorde.

- Preciso ir. Jongin está me esperando -,
aviso, e Namjoon abre um sorriso antes de se despedir de mim.
Pego o carro e volto para o campus o mais depressa possível, chorando durante quase todo o trajeto. Como posso explicar tudo para ele? Sei que
é isso que preciso fazer - não posso mentir para Jongin.

Não consigo nem imaginar quão magoado vai ficar. Sou uma péssima pessoa por fazer isso com ele.
Por que não consigo ficar longe de Jungkook? Tento me acalmar o máximo possível antes de entrar no estacionamento dos estudantes. Vou
andando devagar, sem saber como encarar meu namorado.
Quando abro a porta do quarto, encontro Jongin deitado na minha cama, olhando para o teto. Ele
leva um susto quando me vê entrar.

- Pelo amor de Deus, Jimin! Você ficou fora a noite toda! Liguei um monte de vezes! -,
ele grita. É a primeira vez que Jongin levanta a voz para mim. Já
brigamos antes, mas dessa vez chego a ficar assustado.
- Desculpe, Jongin. Fui até a casa do Namjoon porque Jungkook estava bêbado e quebrando as coisas, e acho que perdi a noção do tempo. Quando
terminamos de arrumar tudo, já estava bem tarde, e meu celular ficou sem bateria -, minto.
Não acredito que estou mentindo para ele - uma pessoa que sempre esteve do meu lado. Sei que preciso contar tudo, mas não tenho coragem de magoá-lo.

- Por que você não usou outro telefone? -,
Jongin insiste, mas então fica em silêncio.
- Esquece... o Jungkook estava quebrando as coisas? Você está bem?
Por que continuou lá se ele estava sendo violento? -
Fico desorientado com tantas perguntas sendo despejadas sobre mim ao mesmo tempo.
- Ele não estava sendo violento, só estava bêbado. Jungkook jamais ia me machucar -,
digo, e imediatamente levo a mão à boca, desejando nunca ter pronunciado aquelas últimas palavras.
- Como assim, ele jamais ia machucar você? Nem conhece esse sujeito, Jimin-,
ele esbraveja e dá um passo na minha direção.
- Só estou dizendo que sei que ele não ia me agredir. Pelo menos disso tenho certeza. Eu estava tentando ajudar Namjoon, que aliás estava lá
comigo -, explico.

Por outro lado, sei que, em termos emocionais, Jungkook seria bem capaz de me machucar - ele inclusive já fez isso, e com certeza vai tentar de novo. Mesmo assim estou falando em sua defesa.
- Pensei que você fosse parar de andar com esse tipo de gente. Não foi isso que prometeu para mim e para sua mãe? Esse pessoal não faz bem para
você, Jimin. Você começou a beber e a passar a noite fora, me deixou aqui plantado... Não sei nem por que me chamou para vir se era para fazer
isso.-
Ele se senta na cama e esconde a cabeça entre as mãos.
- Eles são legais, é que você não conhece ninguém direito ainda. E desde quando você julga as pessoas desse jeito? -, pergunto.

Na verdade, eu deveria estar pedindo perdão de joelhos pela maneira como o tratei, mas é impossível não me
irritar com a forma como ele fala dos meus amigos. Principalmente de Jungkook, meu subconsciente me
lembra, deixando-me ainda mais aborrecido.
- Não estou julgando ninguém, mas pensei que você jamais fosse querer andar com esses góticos. -
- Quê? Eles não são góticos, Jongin , só estão tentando ser eles mesmos -, retruco, tão surpreso com meu tom de contrariedade quanto Jongin.
- Bom, não estou gostando nada dessa história... eles estão mudando você. Não vejo mais o Jimin por quem me apaixonei. -
Percebo pelo seu tom de
voz que ele não está falando isso por mal. Só está triste.
- Bom, Jongin... -,
começo a dizer, e a porta se abre.
Meus olhos desviam de Jongin e deparam com um Jungkook furioso entrando no meu quarto.

Olho para ele, para Jongin, e de novo para ele.

Isso não tem como terminar bem.

∞︎︎

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Boa leitura!!

AFTER - JIKOOKOnde histórias criam vida. Descubra agora