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Ficamos sentados no mesmo lugar por pelo menos meia hora antes de Jungkook enfim levantar a cabeça do meu peito e dizer:
— Já podemos comer? —.
— Já.— Abro um sorrisinho e começo a descer de seu colo, mas ele me puxa de volta.
— Não disse para você sair daqui. Só arrasta meu prato para cá. — Ele abre um sorriso.
Puxo o prato dele para perto e pego o meu do outro lado da mesa estreita. Minha cabeça ainda está a mil por causa do que acabei de ficar sabendo, e não me sinto mais confortável com a ideia de ir ao casamento amanhã.
Sentindo que Jungkook não quer mais conversar sobre sua confissão, dou mais uma garfada e digo:
— Você cozinha bem melhor do que eu esperava. Agora que mostrou que leva jeito, espero que faça o jantar mais vezes—.
— Vamos ver —, ele diz com a boca cheia, e  terminamos nossa refeição em um silêncio agradável.

Mais tarde, quando estou pondo as louças na máquina, ele aparece atrás de mim e pergunta:
—Ainda está brava? —.
— Não exatamente —, respondo.
— Ainda estou chateada por você ter passado a noite fora, e quero saber com quem brigou e por quê.—
Ele abre a boca para falar, mas eu o interrompo.
— Mas não hoje.—
Acho que nenhum de nós dois aguenta mais uma conversa tensa na sequência.
— Certo —, ele diz baixinho. A preocupação em seus olhos é visível, mas mesmo assim deixo passar.
— Ah, e eu também não gostei de você ter jogado na minha cara o fato de ter conseguido o estágio para mim. Fiquei muito chateado. —
— Eu sei. Essa era minha intenção —, ele responde, sendo sincero até demais.
— Pois é. E foi por isso que não gostei.—
— Desculpa. —
— Não faz mais isso, certo?— Ele concorda com a cabeça.
— Estou morto de cansaço—, resmungo, em uma tentativa de mudar de assunto.
— Eu também. Acho que já podemos ir deitar. Mandei ligar a TV a cabo.—
— Pensei que eu ia fazer isso—, reclamo.
Jungkook revira os olhos e se senta ao meu lado na cama.
— Você pode me devolver o dinheiro se
quiser… —
Fico um tempo olhando para a parede.
—A que horas vamos para o casamento amanhã? —
— Quando você quiser. —
— Começa às três, então acho melhor chegarmos às duas —, sugiro.
— Uma hora mais cedo? —, ele protesta, e eu faço que sim com a cabeça.
— Não sei por que você insiste em… —, ele começa a dizer, mas se interrompe quando meu celular começa a tocar.

O olhar no rosto de Jungkook quando pega o aparelho me diz imediatamente quem é.
— Por que ele está ligando?—, esbraveja.
— Não sei, Jungkook, para descobrir preciso atender. — Arranco o telefone da mão dele.
— Jongin? —
Minha voz sai baixa e trêmula, pois sinto o olhar de Jungkook fuzilar o apartamento inteiro.
— Oi, Jimin, desculpa ligar em uma sexta-feira à noite, mas… bom…— Ele parece estar em pânico.
— Que foi? —, insisto, porque sei que ele sempre fica hesitante em situações de estresse.
Quando olho para Jungkook, ele me pede para pôr a ligação no viva-voz.
Lanço um olhar de perplexidade para ele, mas acabo fazendo isso, para que também possa ouvir.
— Sua mãe recebeu uma ligação do administrador do dormitório confirmando a multa do cancelamento do seu quarto, então ela sabe que você mudou. Falei que não faço ideia de onde você está, o que é verdade, mas ela não acreditou em mim. E agora está indo para aí.—

— Para onde? Para o campus? —
— É, acho que sim. Não sei, mas ela disse que vai encontrar você, e está absolutamente cega de raiva. Só queria avisar.—
—Não acredito nisso! —, grito na direção do telefone, mas em seguida agradeço e desligo.

Eu me deito na cama.
— Que ótimo… Era só o que faltava para completar minha noite. —
Jungkook se apoia sobre o cotovelo ao meu lado.
— Ela não vai conseguir achar você. Ninguém sabe onde você está morando—, ele garante, e afasta minha franja da testa.
— Ela até pode não me encontrar, mas com certeza vai atormentar Tae, interrogar qualquer um que encontrar pela frente e fazer o maior escândalo.— Escondo meu rosto entre as mãos.
— Acho melhor ir até lá.—
— Ou então ligar para ela e passar o endereço daqui. Na nossa casa a autoridade vai ser você—, ele sugere.
— Você não se incomoda? —Tiro as mãos da frente do rosto.
— Claro que não. É sua mãe, Jimin,—
Olho para ele sem entender nada, considerando a maneira como Jungkook trata seu pai. Mas, quando vejo que está falando sério, lembro-me de sua intenção de se reconciliar com a família, e acho que preciso ter a mesma coragem.

— Vou ligar então. —
Fico olhando para o telefone por um tempo antes de respirar fundo e apertar o botão de chamada. Ela atende com a voz carregada de tensão, falando bem depressa. Dá para dizer que está economizando toda a raiva para descarregar sobre mim quando me vir pessoalmente. Não dou nenhum detalhe sobre a questão do apartamento nem falo que moro aqui. Simplesmente passo o endereço de onde estou e desligo o quanto antes.

Por reflexo, pulo da cama e começo a ajeitar a casa.
— O apartamento está limpo. Mal tocamos nele —, Jungkook comenta.
— Eu sei —, respondo.
— Mas me sinto melhor assim.—
Depois de dobrar e guardar algumas roupas espalhadas pelo chão, acendo uma vela na sala e fico esperando a chegada da minha mãe sentada à mesa com Jungkook. Eu não deveria estar tão nervosa – sou uma mulher adulta capaz de tomar minhas próprias decisões —, mas sei como ela é, e com certeza vai perder a cabeça. Meus nervos já estão à
flor da pele por causa do que acabei de descobrir sobre Jungkook, e não sei se tenho energia para encarar uma batalha com ela ainda hoje. Olho para o relógio e vejo que já são oito horas. Espero que
não fique muito tempo, para poder ir para a cama cedo abraçadinho com meu namorado enquanto tentamos descobrir como lidar com nossa família.

— Quer que eu saia da sala um pouco para vocês terem tempo de conversar sobre tudo isso?—, Jungkook pergunta.
— Acho que precisamos mesmo de um
tempinho a sós —, respondo. Por mais que queira ter Jungkook ao meu lado, sei que isso só vai fazer com que ela se volte ainda mais contra mim.
— Espera… Acabei de lembrar uma coisa que Jongin falou. Ele disse que a multa do cancelamento do quarto tinha sido paga.— Lanço um olhar inquisitivo para Jungkook.
— E daí? —
— Foi você que pagou, né? —, questiono, quase gritando. Apesar disso, não estou com raiva, só surpreso e incomodado.
— O que tem?— Ele dá de ombros.
— Jungkook! Você precisa parar de pagar as coisas para mim. Não gosto disso. —
— Não sei por que não. Nem foi tão caro assim—, ele argumenta.
— Você por acaso é rico e não me contou? Está vendendo drogas?—
— Não, é que tenho um dinheiro guardado que nunca usei. Passei o ano passado inteiro morando de graça, então não usava meu salário para nada. Na verdade nunca tive com que gastar… mas agora
tenho.— Ele abre um sorriso.
— E gosto de gastar com você, então para de brigar comigo. —
— Sorte sua que minha mãe está vindo para cá e só tenho energia para encarar uma briga com um de vocês —, digo em tom de brincadeira, e ele dá uma risadinha.

Em seguida, voltamos a esperar em
silêncio. Alguns minutos depois, ouço alguém bater na porta… na verdade, espancar a porta.
Jungkook se levanta.
— Vou para o quarto. Eu te amo. — Ele me dá um beijinho antes de sair.
Respiro bem fundo antes de abrir a porta. A aparência da minha mãe é impecável. Seus olhos estão pintados com perfeição, o batom vermelho não tem um borrão e seus cabelos loiros estão presos cuidadosamente.
— O que você estava pensando quando saiu daquele alojamento sem me comunicar? —, ela grita logo de cara e vai entrando no apartamento.
— Você não me deu muita escolha —, retruco, concentrando-me em manter minha respiração sob controle.
Ela se vira para me encarar.
— Como é? Como assim, não dei muita escolha? —
— Você ameaçou suspender o pagamento do quarto —, lembro, cruzando os braços.
— Então você tinha escolha, mas fez a escolha errada—, ela rebate.
— Não, quem está errada aqui é você.—
— Escuta só o que está dizendo! Olha só para você. Não é o mesmo Jimin que deixei na faculdade três meses atrás.— Ela faz um gesto com o braço, apontando-me dos pés à cabeça.
— Está me desafiando, e até gritando comigo! Que audácia! Fiz de tudo para você chegar até aqui e agora tenho
que ver você jogar tudo fora. —
— Não estou jogando nada fora! Tenho um ótimo estágio que me paga muito bem, tenho um carro e notas excelentes. O que mais você quer de mim? —, grito em resposta.

Seus olhos faíscam quando ela se sente
desafiada, e sua voz sai carregada de veneno.
— Bom, para começar, você podia ter pelo menos trocado de roupa quando ficou sabendo que eu vinha. Sinceramente, Jimin, você está muito desleixado. —
Quando olho para meu pijama, ela muda o foco da crítica.
— E que história é essa de usar maquiagem? Quem é você? Com certeza não é o meu Park.
O meu Park não estaria de pijama no
apartamento de um marginal em uma sexta à noite. —
— Não fala assim dele—, digo entre os dentes.
— Já avisei você.— Minha mãe estreita os olhos e cai na risada. Ela joga a cabeça para trás em uma gargalhada, e tenho que segurar a vontade de enfiar um tapa em sua cara perfeitamente pintada. Imediatamente reprimo meus pensamentos violentos, mas ela está
abusando da minha paciência.
— E mais uma coisa—, digo bem devagar,
tranquila, tentando fazer o anúncio da forma mais calma possível.
— Este apartamento não é dele. É nosso.—
Ela para de rir imediatamente.

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Boa leitura!!!

AFTER - JIKOOKOnde histórias criam vida. Descubra agora