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∞︎︎

Jungkook me dá uma encarada agressiva, mas ao mesmo tempo insegura.
— Por que está me perguntando isso? —
— Sei lá… porque sempre fui legal com você, e você só me trata mal. —
Em seguida acrescento:
— E achei que poderíamos ser amigos… —.
Essa frase soa tão idiota que aperto meu nariz com força com o indicador e o polegar enquanto espero sua
resposta.
— Nós dois? Amigos? —
Ele dá risada e joga as mãos para cima. — Não está na cara por que não
podemos ser amigos? —
— Pra mim, não. —
— Bom, pra começar, você é certinho demais… Deve ter sido criado em uma daquelas famílias ideais, em uma casa igual a todas as outras do bairro. Seus pais deviam comprar tudo o que você
queria e nunca deixaram faltar nada. E aquelas bermudas… Fala sério, quem ainda usa isso aos dezoito? —

Fico de queixo caído.
— Você não sabe nada sobre mim, seu babaca arrogante! Minha vida não é
nada disso! Meu pai é um alcoólatra que foi embora de casa quando eu tinha dez anos, minha mãe teve que se matar de trabalhar para eu poder entrar na
faculdade, e eu arrumei um emprego assim que fiz dezesseis anos para ajudar a pagar as contas. E eu gosto, sim, das minhas roupas… sinto muito se não
me visto como uma piranha, como as
meninas que você conhece! Para alguém que faz tanta questão de ser diferente, você é bem preconceituoso com pessoas que não são como você! —,  grito, sentindo as lágrimas se acumularem nos meus olhos.

Eu me viro para que Jungkook não tenha a satisfação de me ver assim, mas percebo que ele está com os punhos cerrados. Como se sentisse raiva.
— Quer saber, Jungkook, não quero ser seu amigo —,
digo antes de pôr a mão na maçaneta da porta.

A vodca, que me dá mais coragem, também torna mais aguda a tristeza de uma situação como essa.
— Aonde você vai? —, ele pergunta. Tão
imprevisível. Tão genioso…
— Pegar o ônibus pra voltar pro meu quarto e nunca mais pôr os pés aqui. Estou cansado de tentar ser amigo de vocês. —
— Está muito tarde pra pegar o ônibus sozinho. —
Eu me viro para encará-lo.

— Por acaso faz diferença para você se vai ou não acontecer alguma
coisa comigo? —
Dou risada. Não consigo entender
aquelas mudanças de tom.
— Não estou dizendo que faz… só estou avisando. Não é uma boa ideia. —
— Bom, Jungkook, não tenho outra opção. Está todo mundo bêbado… inclusive eu. —

Nesse momento as lágrimas começam a rolar. Sinto-me mais humilhado do que nunca porque, de todas as pessoas no mundo, é Jungkook que está
me vendo chorar.

—  Você sempre chora em festas? —, ele pergunta baixando um pouco a cabeça, com um sorrisinho no rosto.
— Pelo jeito, sim, ou pelo menos quando
encontro você. Como estava nas duas únicas que fui… —,
respondo, já abrindo a porta.
— Park —, ele diz tão baixinho que quase nem ouço. A expressão em seu rosto é indecifrável. O quarto começa a girar, e eu me seguro em uma cômoda perto da porta.

AFTER - JIKOOKOnde histórias criam vida. Descubra agora