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∞︎︎


Quando acordo, demoro alguns segundos para perceber que ainda estou no sofá.
— Jungkook? —, chamo, desvencilhando-me do cobertor. Vou andando para o quarto torcendo para que esteja lá. A cama está vazia. Cadê ele?

Volto para a sala e pego meu telefone no sofá. Nada de mensagens dele… e são sete da manhã. Eu ligo, mas a chamada cai na caixa postal, e não deixo recado. Vou pisando duro para a cozinha, ligo a
cafeteira e vou tomar banho. Tive sorte de acordar na hora, porque esqueci de ligar o despertador.
Nunca tinha esquecido antes.
— Cadê você? —, digo em voz alta ao entrar no chuveiro.
Enquanto seco os cabelos, procuro encontrar explicações para sua ausência. Ontem à noite pensei que precisava botar o trabalho em dia, ou tinha encontrado alguém e perdido a noção da hora. Mas em uma biblioteca? Bibliotecas fecham cedo, e até bares fecham no fim da noite. A
explicação mais provável é que tenha passado numa festa. Por algum motivo, sei que foi isso que aconteceu. Parte de mim ainda está preocupado com a possibilidade de um acidente ou coisa do tipo, mas é um pensamento assustador demais para ficar remoendo.

Qualquer que seja a justificativa que encontre para mim mesmo, uma coisa eu sei:
ele está fazendo algo que não deveria. Ontem estava tudo tão bem, e de repente Jungkook resolve passar a noite fora? Sem vontade de me arrumar, ponho uma velha bermuda preta e uma camisa rosa. O céu está nublado, e quando chego à editora meu humor está tão ruim quanto o tempo. Quem ele pensa que é para passar a noite fora sem nem me avisar?
Yuna ergue a sobrancelha para mim quando passo direto pela mesa de donuts sem pegar nenhum, mas abro o sorriso forçado mais sincero que consigo e vou para minha sala. A manhã é difícil. Leio e releio as mesmas páginas várias vezes sem conseguir registrar o significado das palavras.

Escuto uma batida na porta, e meu coração dispara. Desejo desesperadamente que seja Jungkook, apesar de estar furioso com ele. Mas é Yuna.
— Quer ir almoçar comigo? —, ela pergunta, toda gentil. Quase recuso a oferta, mas ficar sentado ali surtando por causa do meu namorado não vai me
ajudar em nada.
— Claro. —Abro um sorriso.
Vamos andando até o mexicano da esquina. Quando entramos, estamos ambos tremendo, e ela pede uma mesa perto do aquecedor. Nós nos sentamos e esfregamos as mãos para tentar nos
esquentar.
— Esse tempo está de matar —, ela comenta, reclamando do frio e lamentando o fato de não ser
mais verão.
— Quase me esqueci de como faz frio no
inverno —, digo em resposta. A última estação passou voando para mim, e mal percebi que o outono está acabando.
— E então… como estão as coisas com seu namorado durão? —, ela pergunta aos risos.

O garçom traz um prato de nachos e molho, e meu estômago ronca alto. Nunca mais vou deixar de comer meu donut matinal.
— Bom… — Fico em dúvida se falo ou não sobre minha vida com ela, mas não é como se eu tivesse muitos amigos. Nenhuma, na verdade, a não ser
Tae, que não vi mais. Yuna é pelo menos dez anos mais velha que eu, e talvez tenha um entendimento melhor sobre a cabeça dos homens, que para mim é um completo mistério. Olho para o teto decorado com lustres em forma de garrafas de cerveja e respiro fundo.
— Bom, na verdade nem sei como as coisas estão no momento. Ontem estava tudo bem, aí ele passou a noite fora. A noite toda. Foi nossa segunda noite no apartamento, e ele não voltou para casa—, explico.
— Espera… espera… volta um pouco. Vocês estão morando juntos?— Ela está de queixo caído.
— É… desde terça-feira.— Tento abrir um sorriso.
— Certo, e aí ele não voltou para casa ontem à noite? —
— Não, disse que precisava trabalhar e ia passar na biblioteca, mas não voltou mais.—
— E você não acha que ele pode estar machucado ou coisa do tipo? —
— Não. —Acho que de alguma forma eu saberia se tivesse acontecido alguma coisa. Sinto que nosso laço é tão forte que eu sentiria imediatamente se estivesse em apuros.
— Ele não ligou? —
— Não. Nem mandou mensagem.— Fecho a cara.
— Eu cortaria o saco dele fora se fosse você. Isso é inaceitável —, Yuna afirma.

AFTER - JIKOOKOnde histórias criam vida. Descubra agora