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∞︎︎

A mulher com quem convivi minha vida inteira valoriza tanto o autocontrole que poucas vezes a vi surpresa, muito menos perplexa. Mas agora consegui deixar minha mãe absolutamente atordoada. Sua postura está toda empertigada, e sua cara está fechada.
— O que você disse? — , ela pergunta lentamente.
— Você me ouviu. Esse apartamento é nosso, nós dois moramos aqui.— Ponho a mão na cintura para dar um efeito dramático.
— Não é possível que você more aqui. Não tem como pagar um lugar como este!—, ela desdenha.
— Quer ver o contrato de aluguel? Tenho uma cópia. —
— A situação é ainda pior do que eu pensava…—, ela diz, desviando os olhos de mim, como se eu não merecesse um olhar enquanto minha vida é avaliada.
— Eu sabia que você estava sendo tonta por se envolver com aquele… aquele rapaz. Mas morar com ele é idiotice pura! Você nem conhece o sujeito! Não conhece os pais dele… Não tem vergonha de ser visto em público com ele? —

Minha raiva chega ao limite. Olho para a parede, tentando manter a compostura, mas antes que consiga me controlar já estou a poucos centímetros do rosto dela.
— Como tem a cara de pau de vir na minha casa e falar assim dele? Conheço Jungkook mais que ninguém, e ele me conhece muito melhor que você! E conheço a família dele, sim, o pai, pelo menos. Quer saber quem ele é? É o reitor da S.U, porra! —, eu grito.
— Pensa um pouco antes de sair julgando as pessoas desse jeito. —
Detesto ter que usar a posição do pai de Jungkook como argumento, mas esse tipo de coisa costuma funcionar com ela.

Provavelmente por ter me ouvido levantar a voz, Jungkook sai do quarto com uma expressão preocupada. Ele vem até mim e tenta me afastar da minha mãe, assim como da última vez.
— Ah, que ótimo! Ele chegou —, minha mãe
ironiza, apontando para Jungkook.
— O pai dele não pode ser o reitor —, ela diz com uma risadinha.
— Mas é, sim. Está surpresa? Se não estivesse tão ocupada julgando todo mundo, poderia ter conversado com ele e descoberto isso sozinha. Quer saber? Você nem merece isso. Jungkook me faz
muito bem, e de um jeito que você nunca foi capaz de fazer. Não existe nada – nada mesmo – que você possa fazer para me afastar dele!—

Meu rosto está vermelho e cheio de lágrimas, mas não estou nem aí.
— Não fala assim comigo! —, ela grita, chegando mais perto.
— Está pensando que só porque arrumou um apartamentinho bacana e pintou a cara é um adulto? Detesto acabar com a graça, querido, mas morar com o namorado aos dezoito anos só te faz parecer uma vadia! —
Os olhos de Jungkook se estreitam, mas minha mãe o ignora.
— É melhor acabar com isso antes que perca sua dignidade, Jimin. Se olhe no espelho, depois olhe para ele! Vocês dois ficam ridículos juntos. Você tinha Jongin, que era um bom menino, e abriu mão dele por… isso! — Ela faz um gesto apontando para Jungkook.
— Jongin não tem nada a ver com isso—, respondo.
Jungkook cerra os dentes, e fico torcendo em silêncio para que não diga nada.
— Jongin ama você, e sei que o sentimento é recíproco. Agora para de dar um de rebelde e vem comigo. Vou pegar seu quarto de volta, e Jongin com certeza vai te perdoar.— 

Ela estende a mão com uma expressão autoritária, como se eu não tivesse alternativa além de ir embora com ela.
Agarro a bainha da camiseta com as duas mãos.
— Você é louca. Sinceramente, mãe, pensa no que está falando! Não quero ir embora. Eu moro aqui com Jungkook, sou apaixonado por ele. Não pelo Jongin. Até gosto do Jongin, mas foi sua influência que me fez pensar que estava apaixonado, porque me pareceu ser a coisa certa. Sinto muito, mas amo Jungkook, e ele me ama.—
— Jimin! Ele não te ama, só está dizendo isso para te levar para a cama. Abre o olho, menino! —
Por algum motivo, ouvi-la me chamar de “menino” é a gota d’água.
— Ele já me levou para a cama, e adivinha só: ainda estamos juntos! —, grito.

Jungkook e minha mãe trocam um olhar assustado, mas a expressão dela logo assume um ar de desdém, enquanto a dele, de preocupação.
— Só digo uma coisa, Jimin: quando ele partir seu coração e você não tiver para onde ir, é melhor nem vir me procurar.—
— Ah, eu não faria isso, pode acreditar. É por isso que você vai morrer sozinha. Não tem mais nenhum controle sobre mim, sou adulto. Só porque não conseguiu controlar meu pai, isso não te dá o direito de querer fazer isso comigo!— Assim que essas palavras saem da minha boca, eu me arrependo. Falar de meu pai é um golpe baixo muito baixo. Antes que tenha tempo de pedir desculpas, sinto o impacto de sua mão contra meu rosto.

AFTER - JIKOOKOnde histórias criam vida. Descubra agora