Capítulo 91

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Anne

Eu me lembrava agora... Me lembrava da minha vida no colégio, lembrava de onde havia surgido o meu interesse pela arte. E sabia o quão importante a figura do meu avô havia sido em minha vida. Mesmo que tivéssemos tido pouquíssimo tempo juntos.

A descoberta de que ele havia partido foi um baque muito grande para mim, e como pouco tempo depois as coisas começaram a ficar ainda pior do que já estavam, minha mente havia decidido apagar toda aquela parte da minha vida. Como uma forma de evitar ainda mais a dor. E quando essa lembrança terrível me veio a mente outra vez, eu finalmente percebi que não poderia mais viver fugindo dos meus problemas, não podia mais correr dos meus medos. Por mais assustadores e tenebrosos que eles pudessem ser.

—— Eu estou no meu quarto, na mesma noite em que... Na mesma noite que briguei com Hammer. – Gaguejo. — estou chorando em frente ao espelho. – Sinto um forte Aperto no peito relembrando a enorme dor que aquela maldita noite havia significado.

— Anne volta, por favor você não tem que ficar aí.

Eu podia escutar a voz abafada do meu pai bem perto. Ele parecia bastante aflito com o que aquilo poderia me causar, e eu também estava. Na verdade eu estava me borrando de medo, mas se aquela era a última porta, então deveria existir uma razão, um motivo para ela estar ali.

— Essa foi a terceira noite. – Soluço ainda olhando para tudo a minha volta. — Eu tinha amarrado o meu cadarço do tênis na porta. Achei que iria o manter longe até o começo do dia. E quando as batidas começam a aumentar, quando percebi que aquilo não iria segurar a porta, eu corri pra frente do espelho, fiquei olhando pro meu rosto inchado, imaginando que se eu desse um soco nele, se acertasse um soco contra o vídro, talvez eu pudesse conseguir alguma coisa pra machucar ele. Mas na verdade eu queria machucar a mim mesma. Estava tão apavorada com a possibilidade daquela porta ser aberta, que imaginei que cortar os pulsos podia ser a solução para os meus problemas... Mas aí ele entrou, percebeu que eu estava prestes a me machucar e então puxou o seu sinto em mãos.

Me estremeço a cada palavra, observando toda aquela terrível cena mais uma vez. — Eu Gritei, gritei muito para que ele não me machucasse. Mas é claro que ele não deu ouvidos as minhas palavras e continuou a me bater forte.... E no fim da noite, tudo se repetia mais uma vez. E então eu olhava pro espelho, e voltava a me indagar se era mesmo melhor continuar vivendo daquela forma, ou tirar a minha vida de uma vez por todas...

Minha pequena eu caída aos pés da cama, abraçada forte contra seus próprios pés, sentia seu corpo tremer com os golpes, chorava muito, chorava tanto ao ponto de não ecoar nenhum tipo de som. E quando eu pude finalmente me ver naquele estado, eu entendi o quão forte havia sido.

— Anne... – Susurro para mim mesma, tentando uma coisa completamente maluca.

— É uma memória, ela não vai te escutar. – Sussurra a doutora.

— Eu sei, mas e se eu pudesse me fazer ouvir ? E se eu pudesse apenas falar pra mim mesma o que eu sempre quis escutar quando era criança ? E se houver uma forma de eu finalmente encontrar a paz dentro da minha cabeça dessa forma ? – Gaguejo. — Eu sei, eu sei que é loucura, mas eu sei que posso, sei que consigo...

Pouco a pouco, me aproximo do meu eu do passado, sentando-me ao seu lado, decidida a falar tudo o que eu sempre quis, e tudo o que eu precisava escutar.

— Não foi sua culpa Anne, eu sei que sua vida foi terrível de todas as formas que possamos imaginar, e eu sei o quanto está doendo agora. Sei por que eu sou você. E sei que isso vai se repetir muitas e muitas vezes... Mas saiba que você não poderia ter feito diferente, eu sei que você pensa que foi ingênua e podia ter impedido que isso acontecesse de alguma forma, mas você era só uma menininha... Tínhamos oito anos, e agora eu vejo que nada do que pudéssemos ter feito teria mudado a situação. Por que ele era maior, ele era mais forte, e não tínhamos ninguém ali para buscar apóio, era só nós duas contra o mundo pequena Anne... – Choro. — E você se saiu bem... Por que mesmo com todos os motivos do mundo pra desistir, mesmo com as coisas desabando a sua volta, você nunca socou aquele espelho, nunca deixou que o passamento do suicídio fosse maior do que a sua vontade de mudar. Por que você sabia, sabia que um dia as coisas seriam diferente, sabia que ainda seria feliz de verdade. E você abraçou essa ilusão, abraçou ela com todas as forças e um dia ela se tornou real...

— Nós temos um pai...temos um pai que nos ama, e faria qualquer coisa só para nós ver bem. – Dou um sorriso grande podendo sentir minha mão ser apertada ainda mais forte. — Você vai ficar bem pequena Anne, por que mesmo que pareça, isso não é o fim, e você ainda tem muito o que viver...

Quando finalmente termino de pronunciar cada uma daquelas palavras. Vejo o rosto da minha pequena versão do passado sorrir para mim, como se tivesse escutado cada uma das minhas palavras. E quando o quarto começou a se fazer em cinzas outra vez, abro os meus olhos de volta a clínica, dando um suspiro longo de alívio, podendo ver o rosto do meu pai outra vez, que imediatamente me abraça apertado.

— Graças a Deus, que bom que voltou. – Sussurra.

— Eu me lembro de tudo agora pai, de cada dia...cada noite... Eu me lembro de tudo. Das coisas boas até as ruins...

— Sinto muito pequena, eu sinto muito ter feito você passar por isso, fui um idiota. Deveria ter ido embora quando você pediu. Eu deveria ter estado lá pra te proteger, eu devia ter sido o seu pai dês de sempre... E eu não fiz isso.

— Tá tudo bem pai. – Tusso ainda em meio àquele abraço apertado. — Eu passei toda minha vida buscando um responsável pelo o que havia me acontecido, me culpava pela morte do meu avô, e me culpava por tudo o que Hammer já havia me feito. Mesmo sabendo que eu nunca tinha pedido por nada daquilo. E agora eu vejo papai, eu consigo ver que não existem culpados nisso tudo além daquele monstro... não é sua culpa por não ter estado lá. Por que se você soubesse que tinha uma filha, eu sei que teria cuidado de mim com todo amor do mundo. Mesmo que no começo pudesse ser difícil. – Gargalho um pouco emotiva. — Não foi minha culpa Papai... não foi minha culpa e agora eu sei disso, agora eu sei de verdade, e me sinto leve, eu me sinto outra pessoa. – Deixo com que várias lágrimas de felicidade corram por meu rosto pálido o abraçando forte, sentindo um alívio tão profundo que jamais poderia imaginar sentir...

O meu pai é o Tony Stark Onde histórias criam vida. Descubra agora