Nova melhor amiga

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- Então vou terminar de contar, nessa mesma época, com uns 5 ou 6 anos, comecei a falar para meus pais que eu era um menino, mas eles me corrigiam copiosamente, diziam que eu era uma menina. "Olha seu cabelo, é cabelo de menina, olha o seu rostinho lindo de menina". Eu não me via como menina, na minha cabeça aquelas roupas e aquele cabelo que me faziam parecer  uma menina. - Disse ele, agora olhando nos meus olhos. - Então eu fui crescendo e vendo que meus pais não me levavam a sério, então tive a ideia de começar a mudar meu estilo sem que percebessem, eu não queria usar vestido, então falava pra minha mãe que achava mais bonito shorts rosa, boné rosa, camisas rosa, assim ela ia deixando eu comprar essas roupas, e algumas pessoas diziam pra ela que sua filha tinha estilo, mas o cabelo ela não deixava cortar, até meu aniversário de 12 anos, é, demorou muito, eu mostrei a foto de uma menina de cabelo curto até o pescoço e pedi de presente de aniversário, e esse dia foi um dos melhores da minha vida, ela deixou, e aí no outro eu já queria cortar mais curto, e aos poucos eu fui me aproximando de quem eu sempre quis ser, sempre choro lembrando, voltei a falar pra minha mãe que eu era um menino e aí ela mandou eu falar com a psicóloga. Os bullying na escola começou quando eu tinha 14, os meninos me chamava de mulher macho, de todos os lados eu sofri preconceito.

- Nossa Ruan, digo novamente que sinto muito, que tenha passado por tudo isso.

- Obrigada Elena, quando eu choro, é porque é muito difícil ainda sabe? Eu nunca entendi como pude nascer nesse corpo, sendo que eu sempre soube que eu era um menino, eu sempre soube disso, e sempre foi um luta interna, eu sinto que só serei realmente eu, quando me aproximar mais ainda do homem que quero me tornar, sabe, ter barba, poder andar sem camisa... - Fala sentado na areia com os braços cruzados em cima dos joelhos, enquanto as lágrimas o invadi.

- Sim, e você merece Ruan esse encontro com o seu eu, esse que vai te fazer ainda mais feliz.

Nesse momento Ruan passar a chorar ainda mais, e vendo seu sofrimento, decido fazer uma pergunta:

- Ruan, quantas vezes você passou por algo difícil em sua vida e sobreviveu aquele momento?

- Incontáveis vezes, desde que comecei a falar eu acho.

- Sim, percebe o quanto você é forte? Eu entendo que você não queria passar por nada disso, mas se essa é a sua realidade, você precisa pensar de que forma você pode lidar com ela. Você já venceu tantas vezes antes, dessa vez não seria diferente não é? Não desista de ser exatamente a pessoa que você quer ser, é você por você.

- Ninguém nunca me fez enxergar as coisas por esse lado. Agora você é oficialmente minha nova melhor amiga.

- Seus pais te aceitam hoje em dia?

- Infelizmente não, pelo menos não como eu gostaria, porque eles ainda me chamam de Izabela, usam pronomes femininos e isso me machuca demais. Eles falam que só tem uma filha e que eu posso me vestir como quiser, mas sempre serei a filha deles.

- Como pode né, as pessoas terem a mente tão fechada? Eu acho que não te contei, mas tenho duas mães.

- Como assim? Mães lésbicas?

- Sim.

- Que inveja de você, deve ser maravilhoso.

- É sim, porque elas são incríveis, você pode conhecê-las se quiser.

- Claro.

- Melhor a gente voltar então, elas vão embora amanhã logo cedo. Você pode jantar lá em casa hoje se quiser.

Amando uma SereiaOnde histórias criam vida. Descubra agora