2.0 - Não precisa ser sofrido

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17 anos atrás

Tony se pegou sorrindo ao lembrar da sua dupla de trabalho. Ele não conseguia dizer se ela tinha um tipo de beleza que assustava ou se era apenas assustadora de um jeito lindo. Seja como for, não conseguia parar de olhar para ela.

A garota nem era o seu tipo. Ela tinha cabelos ruivos, quase vermelho, mas não exatamente, e não deveria ter mais de um metro e sessenta. E, em vez dos vestidinhos floridos e das sandálias que as garotas preferiam no verão, usava uma calça cargo preta e botas que pareciam terem saídas do campo de batalha de uma guerra.

E tinha aquela regata roxa reveladora. A única parte da roupa que ele havia de fato gostado.

A maquiagem de guaxinim era a menos atraente. Era como se o contorno bem preto dos olhos fosse uma forma de dizer "foda-se" para o verão e a felicidade. Fora que ela era bem mal-humorada, ardida como pimenta.

Definitivamente não era o seu tipo e agora estava preso com ela pelo resto do verão.

Mas por um segundo, até achou ter sido bem feito por ter sido um babaca no corredor, quando ela claramente preferia ficar sozinha. O normal seria ter ajudado a recolher as tralhas dela e cair fora, mas o jeito como o rotulou antes mesmo que ele abrisse a boca o deixou puto.

Ele até havia se conformado em pedir desculpas a aquela gótica em miniatura. Talvez uma oferta de paz possibilitasse a eles sobreviver ao verão trabalhando juntos. Mas ela foi embora da sala. Sorridente, a alcançou em poucos passos e segurou a alça da mochila dela. Ficou tentado a levantá-la do chão, só porque podia, mas em vez disso só a puxou com força o bastante para mostrar que estava ali.

Ela o encarou e, por um segundo, ficou sobressaltado ao examinar seus olhos de perto. Eram grandes e bem azuis, totalmente diferentes da sua personalidade.

Sinceramente, ficou surpreso que não usasse lentes de contato pretas só para tirar toda a cor da sua vida.

— Como foi seu primeiro dia de aula na escola? -Tony perguntou, andando ao lado dela. — Sério, quem é que ainda usa mochila?

— Já não basta passar meu verão presa a você? Terei mesmo que ficar aturando suas piadinhas sínicas?

— Olha... Virginia, né? -Questionou, segurando sua mochila de novo quando ela tentou fugir, como se fosse uma criança. — Quer falar sobre o trabalho agora ou tem outros planos? Como matar um gato ou fazer outro piercing?

Seus olhos giraram de um lado para o outro, como se estivesse procurando por uma arma, mas então suspirou e se soltou da pegada do moreno. — Talvez cada um possa fazer sua parte do trabalho se preferir. -A ruiva disse. — Não sou muito sociável.

Ele riu e levou a mão ao peito. — Não? Nem acredito.

Ela revirou os olhos de maneira dramática e Tony precisou de todo o auto controle para não sorrir.

— Vai, me dá uma chance. -Pediu. — Que tal se a gente se conhecer um pouco? Vou começar. Verdadeiro ou falso: você tem uma faca na bota. -Brincou.

Por um segundo, achou que fosse sorrir, mas Virginia só estreitou os olhos e o encarou de cima a baixo com condescendência. — Verdadeiro ou falso. -Retrucou. — Quer saber, esquece. -Disse. — Vou perguntar ao Holbrook se podemos trabalhar separados.

O moreno forçou um sorriso compreensivo. — Confia em mim. Martin é um cara legal, mas não vai abrir uma exceção só porque você tem fobia social.

Ela levantou uma sobrancelha quando Tony o chamou pelo primeiro nome, e ele fez uma nota mental para lembrar-se de chamá-lo de professor Holbrook no campus. Já se sentia culpado o bastante por ele ter lhe deixado fazer um curso com uma fila de espera tão longa.

Pepper mordeu os lábios, sem se deixar convencer.

— Olha, não precisa ser sofrido. -O moreno insistiu, perdendo a paciência. — E se a gente tomasse um café e bolasse um plano de trabalho?

—Tá. -Ela disse, finalmente.

Come Back... Be HereOnde histórias criam vida. Descubra agora