22.0 - O início do fim

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16 anos atrás

Virginia não planejava se apaixonar. Não estava em seus planos conhecer Tony e amá-lo. Para ser bem honesta, ela sequer achava que tinha capacidade de amar alguém assim, então essa possibilidade sequer era cogitada.

Mas claro, nem tudo na vida acontece conforme planejado, às vezes, o destino age da sua própria maneira. Pregando peças, causando um furacão na vida das pessoas, arrastando tudo consigo.

O moreno havia sido isso em sua existência. Chegou do nada, causou um caos, tirou tudo do lugar ou quem sabe, colocou cada coisa onde deveria.

A ruiva chegou em New York para fugir do amor e acabou esbarrando com o mesmo na cidade que nunca dorme. Em um dia qualquer, em uma hora qualquer, em uma esquina qualquer. Mas ele, definitivamente não era um qualquer.

Nos meses que se seguiram, Virginia passou a desfrutar de sensações e emoções que achou jamais ser capaz de sentir. Estava aprendendo uma nova linguagem, enxergando novas cores, compreendendo uma nova forma de ser.

Eles passavam quase todos os dias juntos, mesmo que fosse apenas para dormirem abraçados. Ela ia nos ensaios da banda, ele nos júri-simulados. Ela ouvia cada música composta e opinava enquanto ele lhe fazia perguntas sobre o vade mecum. Ela estava com ele em sua formatura e quando em um show, em um barzinho local, um agente lhe ofereceu a oportunidade de gravar um disco e sair em turnê. Eles estavam juntos quando, com antecedência, ela passou na prova da ordem dos advogados e conseguiu um estágio em uma das melhores firmas da cidade.

Foi vendo o quanto faziam parte da vida um do outro que Pepper desistiu de lutar e escolheu se entregar ao que tinham.

Assim, quando já estavam perto de completar 1 ano de namoro, a ruiva decidiu que era hora de voltar para casa e encarar seu passado. E claro, apresentar seu namorado ao único integrante vivo da família: seu avô.

— Sei não, amor. Tem certeza que quer fazer isso? Ele sequer sabe que você está namorando, talvez não seja uma boa. -Lembrou do que Tony lhe disse quando sugeriu que fizessem aquela viagem juntos.

— Eu sou maior de idade, o que ele pode fazer?

— Ele é o seu avô.

— E isso se te assusta? -Provocou, com um sorriso malicioso nos lábios. Se aproximando dele, passou os braços pelo seu pescoço e sentou-se em seu colo.

— Hahaha. -O moreno forçou uma risada sem graça. — Não se trata disso, ele não me dá medo, apenas quero ter certeza que sabe o que está fazendo.

Naquela oportunidade, ela havia lhe beijado os lábios e assegurado que sim, sabia o que estava fazendo e que seria bom para eles. Seu avô poderia ter seus defeitos, mas a amava, então aceitaria o que quer que fosse para lhe fazer feliz. E Tony, era a razão da sua felicidade.

Ela só não sabia que aquele era o início do fim.

Após um jantar que pareceu durar horas, tamanho era o silêncio desconfortável que havia se implantado, Thomas a chamou em seu escritório, fazendo questão de deixar claro o quanto desaprovava o novo namorado da neta.

— Nós tínhamos planos, Virginia. Você esqueceu tudo que planejamos? Você iria para New York, cursaria direito, retornaria com uma carreira consolidada. Seguiria os passos da sua mãe. -O mais velho falava alto, impondo em tom e gesto sua autoridade dentro da relação.

— Mas nada mudou, o Tony é apenas um complemento dentro de tudo isso.

— Complemento? Você o conhece há um ano e esse é basicamente o tempo que não nos falamos. Ele mudou você.

— O Tony não tem nada haver com essa história. Eu não mandei notícias por outros motivos. Acho que só o senhor estava sofrendo? Além disso, sim, ele me mudou, mas foi para melhor.

— Faça-me o favor minha querida, ele é músico. Abandonou toda a companhia empresarial que o pai lutou para construir, desistiu de tudo para cantar em bares de quinta categoria. Esse é o futuro que você quer? Pense sabiamente. Não foi para isso que você foi criada.

A cada novo argumento de Thomas, Pepper sentia a raiva tomar conta do seu corpo. O sangue fervia, a garganta estava seca, suas bochechas vermelhas e os olhos marejados.

O que estava acontecendo ali? Quando as coisas começaram a desandar? Quando seu avô se tornara esse homem que ela não estava reconhecendo?

A briga foi inevitável.

Ele os acusava, ela os defendia.

Parecia que semanas haviam se passado em um intervalo de poucos minutos.

Ao deixar o seu escritório, lembrava-se claramente da voz grave e séria lhe dizendo: você vai ver que tenho razão, meu amor. Ele não é homem para você.

Come Back... Be HereOnde histórias criam vida. Descubra agora