1.1 - Não vai nem se despedir?

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— Foi mal. -O bonitão disse, com um sorriso torto. A ruiva não sabia se ele estava se desculpando pela trombada inicial ou pela humilhante situação de quase ter enfiado a cara no meio dos seus peitos sem querer.

O cara começou a lhe ajudar a recolher suas coisas, e ela o avaliava discretamente. Examinando a bolsa cor de café dele, com um discreto logo da Prada, perguntou:

— Você está perdido?

Ele deu uma risadinha. — O fato de não andar acelerado por aí não quer dizer que estou perdido.

— Não virei com tudo. -Disse. — Só estava com pressa.

— Aqui, esqueceu isso. -O cara pegou um absorvente e lhe passou com um sorriso inocente no rosto.

Virginia recolheu o resto da bagunça e enfiou tudo na mochila, levantando enquanto fechava o zíper. — Então tá. Só ia te ajudar a se localizar.

— Começo meu último ano em setembro. Acho que posso me virar no campus. -Ele disse, também levantando e ficando bem mais alto do que ela.

— Só tentei ser gentil. -A ruiva resmungou. Nem sabia por que estava discutindo com ele.

O bonitão deu um passinho na sua direção. —  O mau humor vem com o visual gótico? -Ele perguntou, olhando-a de cima a baixo. — Ou vende separado?

Levantando a mão para esconder seus olhos, respondeu: — Cuidado pra onde aponta seus dentes, por favor. O brilho está me cegando.

Ele passou a língua pelos dentes ridiculamente brancos, parecendo pensar.

— Quando está escuro demais para estudar, eu só sorrio e uso o reflexo dessas maravilhas, sabia?

Foi uma péssima resposta, mas ela só revirou os olhos e deixou que tivesse a última palavra. Cansada da conversa absurda, passou a caminhar para a sala, sabendo que estava vinte minutos atrasada.

— Não vai nem se despedir? -O moreno gritou. — Devolvi seu absorvente!

Virginia nem se deu ao trabalho de virar. Encontrou a sala e se preparou para a sensação desconfortável de ser a atrasadinha. Estava bem cheia, considerando que era uma optativa de verão, mas achou normal considerando que o professor ganhou dois Globos de Ouro e um Oscar.

Na realidade, ele nem era um professor de verdade, e sim o roteirista queridinho de Hollywood no momento. Martin Holbrook se formou na Universidade de Nova York uma centena de anos atrás e dava algumas aulas como professor convidado de tempos em tempos, para dividir um pouco de sua sabedoria com os alunos.

— Srta. Potts, imagino. -Martin Holbrook disse quando tentou entrar discretamente.

— Hum, isso. -Respondeu, enquanto se sentava na primeira carteira livre, encostada na parede. — Desculpa o atraso.

Para sua surpresa, o sr. Holbrook não parecia perturbado pela sua falta de pontualidade. Seus colegas de classe tampouco pareciam a repreender com os olhos, como costuma acontecer.

Estavam todos concentrados no cara com o sorriso de propaganda de pasta de dente parado à porta.

— É bom ver você de novo, Anthony. -Martin Holbrook falou.

Em vez de se esgueirar pelo canto, como ela, Anthony foi com toda a tranquilidade para a fileira vazia em que estava sentada, parecendo indiferente ao fato de que todo mundo estava olhando para ele.

Virginia olhou para ele, de um jeito que esperava que o convencesse a deixar algum espaço entre eles. O moreno passou rente à sua carteira, derrubando a barrinha de cereal no seu colo.

— Acho que você deixou cair alguma coisa. -Ele comentou, com uma piscadela.

Come Back... Be HereOnde histórias criam vida. Descubra agora